Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O significado de saúde para homens: um olhar geral sobre o corpo para pensar a produção de cuidados
Cleiry Simone Silva, Ricardo Luiz Ramos, Paulo Sérgio Silva, Cleidson Junio Silva, Daniela Trindade Sousa, Nébia Maria Figueiredo

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


Introdução: Investigar sobre saúde é um desafio, sobretudo por considerarmos na produção do cuidado nos diversos níveis de assistência à saúde os aspectos econômicos, culturais, epidemiológicos, políticos, físicos, pessoais, espirituais e históricos que permeiam as pessoas, comunidades e coletividade. Estas decorrências se ampliam quando queremos enfocar aspectos da saúde do homem o que sugere um olhar pelo fator do gênero e do cuidado com seu corpo. Certamente as considerações sobre as práticas instituídas para cuidar do homem nos dias atuais exigem apenas saber das doenças para prevenção e medicalização, sem reconhecer como ele se percebe na relação com a sua saúde, masculinidade, representação e de tudo que acontece ao seu redor e isso inclui os fenômenos de transformação social presentes nos tempos atuais. A manutenção da saúde e a prevenção de adoecimentos nos impulsiona querer compreender os fatores que influenciam os homens a procurarem menos que as mulheres os serviços de saúde. Baseado nessas acepções emerge a questão orientadora deste ensaio interventivo: quais são os significados de corpo saudável para os homens? Na busca por respostas para essa indagação que posiciona os homens na relação de cuidado com seu corpo, é apresentado o seguinte objetivo: conhecer os significados de saúde para os homens a partir da palavra de ordem corpo. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo com abordagem descritiva. Isso porque o método qualitativo trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações1. O contexto escolhido deste estudo foi uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde está contida a Estratégia de Saúde da Família. A seleção do cenário do cuidado foi aleatória a partir de um sorteio que incluiu 33 unidades presentes no município de Boa Vista capital do estado de Roraima, localizado na Amazônia Legal, região Norte do Brasil. Foram incluídos no estudo os participantes do gênero masculino com idade entre 18 a 60 anos, vinculados a dois microcenários do cuidado adstrita a UBS: uma escola estadual e uma Instituição de Ensino Superior. Cabe destacar que este estudo é parte dos dados produzidos na tese de doutorado intitulada: Agenciamentos no corpo do homem: um estudo de enfermagem sobre o cuidado e prevenção nos espaços de viver, no qual o projeto foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UNIRIO e foi considerado aprovado em 29 de maio de 2017 sob o número de CAAE: 6579917.8.0000.5285. Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e tiveram seu anonimato mantido conforme as diretrizes estabelecidas na resolução 466/12. A estratégia de produção dos dados envolver três grandes momentos de coleta: I - realização de modelagem coletiva sobre o corpo, II - realização de uma assembleia sobre corpo e cuidado com um grupo de homens que foi gravada e transcrita e por fim aplicação de um roteiro de entrevista semiestruturado. Os procedimentos para análise de todo material foi realizado mediante aplicação do referencial teórico disposto em Laurence Bardin, que diz: a análise das comunicações visa obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens, indicadores, quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos2. Resultados: Ao todo participaram do estudo 85 homens. Dessa totalidade, 49% significaram seus corpos como narcísicos, onde as palavras de ordens identificadas foram: corpos belos, bonitos e lindos como sendo um excelente indicador de saúde. 34% sinalizaram tanto na modelagem quanto nas entrevistas não gostar das partes do corpo. Dentre as regiões mais sinalizadas foram incluídos as pernas, braços e barriga. 13% apresentaram na modelagem o órgão sexual masculino o que infere que a sexualidade não encontra espaço no discurso da saúde e do cuidado em saúde. É interessante pensar neste corpo significado pelos homens, sobretudo quando o consideramos nas experiências de viver e de sensações adquiridas, iniciadas na família e depois nas experiências de viver como uma forma saudável de cuidar para manter este corpo sadio, normal e bonito. Um corpo considerado espaço reduzido, tatuado pela sua história, sua representação social, seus modos de viver, produtor de processos, imagens, práticas e espaços de criação e de reflexão3. No que se referem às ações de cuidar realizadas pelos enfermeiros e como elas se dobram no cotidiano do trabalho interdisciplinar junto aos homens nos serviços de saúde a preocupação nos dias de hoje remete a novas formas de fazer e dar sentido a saúde.  Uma enfermagem que se utiliza dos sentidos corporais dos corpos em conexão: profissional de enfermagem e homem-cuidado que dão e são sentidos de vida. Cuidado em tocar para sentir, cuidado olhar para ver; cuidado ouvir para escutar, cuidado comunicação, cuidado gesto, cuidado na atenção as subjetividades do corpo e do espaço. Trazer esses homens para um território pessoal e de subjetividade em seus corpos por natureza é desafiador para o encontro e o cuidado. Só os homens conhecem os seus corpos, como as mulheres conhecem os dela e os homoafetivos os deles; nem mais homem e nem mais mulher, mas um homem ou uma mulher com novas essências e que carecem de cuidados em saúde. O fato é que a grande maioria dos participantes escondeu o pênis e isso têm sentido quando eles nos falam ou modelam seus corpos significados a gênero, não vestidos e não mostram seus órgãos genitais Não é o nosso interesse dar sentido sexual a ausência do órgão genital, mas da importância da sexualidade do corpo, no exercício de suas diversas potencialidades e escolhas da sexualidade de homens, mulheres, transexuais como energia vital, energia do homem enquanto ser que vive, produz, fala e precisa de cuidados em saúde. Considerações finais: Essas considerações são temporais, mesmo que estejamos pensando no cuidado para o homem histórico e do futuro, para trás e para frente, para o agora ao nos encontrar e cuidar deles. Estes homens que indicam implicações que são de ordem “filosófico existencial”, “filosófico-clínico” e “filosófico-espacial”, como temas significados a serem considerados na produção do cuidado nos multivariados níveis de assistência à saúde e na percepção dos profissionais de enfermagem e da saúde quando produzem cuidados com eles. Com a certeza do inacabado, esse parece ser o sentido construído neste estudo, que é o da perspectiva da enfermagem, mas que pode ser “interdisciplinar”. Essas unidades de conteúdo, encontradas serão as bases para outro reconhecimento do que é ser homem, neste século, nas políticas públicas e em seus territórios. Reconhecer que seu corpo singularmente é revelado, se coloca, se perde ou se encontra em outros momentos e fluxos que transcende doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos para prevenção de paternidades indesejadas.

Palavras-chave


Corpo; Cuidado; Homem.