Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O QUE PENSEI E O QUE ENCONTREI! A PERCEPÇÃO DOS MÉDICOS DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS DO MUNICÍPIO DE PARINTINS.
Luene Silva Costa, Solane Pinto de Souza, Elaine Pires Soares

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: O Programa Mais Médicos foi criado em 2013 no Brasil com objetivo de atender as necessidades e dificuldades do país em atrair e fixar médicos na Atenção Básica principalmente em localidades com maiores vulnerabilidades econômicas e sociais, longe de centros urbanos, além de reorientar a formação médica no Brasil. Nesta perspectiva, o município de Parintins aderiu ao Programa Mais Médicos (PMM) e os primeiros médicos começaram a chegar em outubro de 2013.  O município é conhecido mundialmente por apresentar o maior Festival Folclórico a céu aberto da América Latina, onde no mês de junho a cidade recebe milhares de pessoas de diferentes estados e países para prestigiarem a apresentação dos bois Garantido e Caprichoso na arena do bumbódromo. Apresenta uma estimativa de 113.832 mil habitantes no ano de 2017 segundo o IBGE, e está localizado há 368,8 quilômetros a leste da capital do estado do Amazonas, Manaus. Parintins é considerado prioritário para aderir ao programa por apresentar 22,41% da população vivendo em extrema pobreza, seguindo critérios estabelecidos pela a Portaria Interministerial 1.377 de 13 de junho de 2011. Atualmente o município possui um quantitativo de 14 profissionais sendo: 09 médicos de nacionalidades cubana, 01 médico colombiano e 4 brasileiros, destes 10 atuam na zona urbana e 4 na zona rural, o que corresponde a 56% dos médicos que atuam na atenção básica. O programa veio contribuir no intuito de sanar a necessidade do município em atrair e fixar médicos, seja na zona rural ou zona urbana, sendo a zona rural a principal contemplada, pois apesar de já ter vivenciado a presença do médico em momentos esporádicos, atendendo necessidades momentâneas, curativas, com a presença do médico do programa mais médicos, a população ribeirinha passou a vivenciar a presença constante do médico, podendo usufruir de atividades básicas como educação em saúde e um atendimento multidisciplinar.  O município passa a partir de 2013 a vivenciar um momento importante nas equipes de saúde da família, a presença do médico de forma continua, gera impacto na saúde da população, no cotidiano de vida e de trabalho e nas equipes de saúde da família. De fato, a presença do médico gera impacto, seja no cotidiano dos serviços de saúde, seja nos serviços oferecidos a população como mostram estudos A partir da fala dos profissionais, esse trabalho visa mostrar a partir do relato dos mesmos, as mudanças ocorridas no cotidiano do profissional médico estrangeiro do programa mais médicos no município de Parintins. Desenvolvimento: Trata-se de um trabalho descritivo, qualitativo, sistematizado para responder algumas indagações no intuito de conhecer qual a expectativa dos médicos estrangeiros ao terem conhecimento que vinham para o município e a percepção dos mesmos após sua chegada e trabalho no município. Para a construção deste relato, foi realizado levantamento do quantitativo dos médicos do PMM atuantes no município e destes quais eram estrangeiros, pois o objetivo era mostrar a percepção daqueles que não vivenciaram tal realidade. Em seguida, foi realizado agendamento de entrevista para aqueles que aceitaram participar do estudo. Resultados: A maioria dos médicos estrangeiros atuantes no município vieram da Cuba e já haviam vivenciado outras experiências em países como África e Venezuela, que segundo eles eram realidades bem diferentes das que encontraram aqui no Brasil. Souberam do programa através de amigos médicos que já tinham participado em outro momento de atividades como esta, mas também citam as propagandas de televisão e outras mídias. Quando entraram no programa e souberam que viriam para o Brasil, a maioria mostra entusiasmo na fala e pontuam a alegria, por ser um país alegre, há quem diga que é um sonho conhecer e trabalhar no maior país da América do Sul. Referem que só tiveram conhecimento em que localidade do país iriam trabalhar quando chegaram em Brasília. Sobre o município, a princípio por se tratar do Amazonas, o que veio a mente dos entrevistados é que iriam conhecer o Rio Amazonas, o maior rio do mundo, ou iriam ver anacondas, piranhas e jacarés, nada diferente do que ouvimos falar quando nos deparamos com visitantes de outros países e até mesmo de outros estados do Brasil, como alguns estados da região sudeste, por exemplo. Ainda em Brasília tentam extrair o máximo de informações sobre a cidade, fazem buscas na internet, perguntam  como sãos as características de saúde do município, as pessoas, a cultura e a partir dessas informações criam-se expectativas que em sua grande maioria são superadas pelo que encontraram de fato na cidade. Como agentes de mudanças, todos referem ter causado alguma transformação no território a qual foram inseridos, uns referem que a simples presença do médico em locais que antes não havia, já é uma grande mudança para aquela população; há quem diga que a mudança não é só para os que recebem a assistência, mas para os mesmos, pois são transformados pelo que aprendem e vivenciam com as novas experiências e novos saberes compartilhados. A maioria relata que não havia tratado pacientes com leishmaniose e malária em nenhum momento de sua trajetória médica. A tuberculose também é algo que preocupa os médicos cubanos, pela alta incidência de casos no município, assim como a hipertensão e o diabetes, que na percepção deles está relacionada ao consumo excessivo de carboidrato, uma vez que, a farinha de mandioca é à base da alimentação do caboclo em qualquer lugar do Amazonas. Quando questionados sobre a relação com a equipe de saúde a qual fazem parte, os entrevistados relatam boa relação com todos os membros da equipe, porém é com o agente comunitário de saúde que demonstram maior entrosamento. Foram indagados se existe algo que dificulta a resolutividade de assistência prestada ao usuário, os mesmos citam com maior ênfase a demora na realização de exames complementares, a deficiência de espacialidades no município e o idioma, que foi citado por alguns como uma barreira que no início dificultava a comunicação médico-paciente, mas que com o passar do tempo vai sendo superado, citam também as palavras locais como dialetos e as palavras indígenas que às vezes não compreendem e necessitam de ajuda dos nativos, como por exemplo, a palavra curumim que quer dizer menino; mãe-do-corpo que esta relacionada à questão uterina entre outros. Considerações Finais: O programa mais médicos traz consigo muitas expectativas quanto aos avanços na atenção básica, seja nas possibilidades de expansão de equipes de saúde da família ou mudanças no cotidiano da assistência. Por outro lado, entender as percepções deste profissional quanto as mudanças no seu cotidiano, seja pessoal e/ou profissional a partir de sua entrada no programa no país, possibilita traçar estratégias para facilitar a permanência dos mesmos no país e garantir sua continuidade nas equipes, assim como servir de subsídios e mudanças na própria dinâmica das equipes de saúde da família. O programa gera impacto positivo principalmente em localidades mais distantes de centros urbanos como Parintins, e acolher esse profissional nas suas diferentes realidades faz parte do processo de construção de uma sistema único e igualitário a partir de estratégias inovadoras como o PMM.


Palavras-chave


Atenção Básica; Programa Mais Médicos; Vivências