Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PRECISAMOS FALAR SOBRE SUICÍDIO NA TERCEIRA IDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Daniele Rodrigues Silva, Lays Nunes Da Silva, Samantha Modesto de Almeida, Paula Emannuele Santos do Amaral, Widson Davi Vaz de Matos, Mario Antônio Moraes Vieria, Kethully Soares Oliveira, Iara Samily Balestero Mendes

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: A Organização Mundial de Saúde vem alertando para o fato de, em cada ano, existir quase um milhão de mortes por suicídio, o que corresponde aproximadamente a um suicídio em cada quarenta segundos. Esses dados tendem acompanhar o crescimento demográfico dos últimos anos afirmam as literaturas, tornando assim, o suicídio um verdadeiro problema de Saúde Pública. O suicídio entre idosos é ainda mais preocupante, pois culturalmente é visto como um tabu na sociedade, em que todos sabem que existem, mas sobre o qual não se discuti, pois se torna na maioria das vezes paradoxal na terceira idade, já que grande parte da sociedade tem a visão de que a pessoa idosa nessa fase já superou todo sofrimento da vida e por isso não teria motivos para cometer tal ato. As estatísticas, porém, alertam que isso precisa ser mudado, pois em todo o mundo, as maiores taxas de tentativas e atos consumados estão nas faixas etárias mais avançadas.

De acordo com estudos recentes, o suicídio em pessoas que estão na faixa etária dos 60 anos pode chegar, em alguns países, a ser 50% superior aos valores verificados em outras idades, há oito suicídios por 100 mil habitantes, taxa maior que a registrada entre outros grupos etários. Em 2015, foram 11.736 notificações de casos, os dados, divulgados pelo Ministério da Saúde em alusão ao Setembro Amarelo, alertam para a alta taxa de óbitos entre os idosos acima de 70 anos, principalmente homens.

Um dos fatores que levam muitos idosos a anteciparem o fim da vida está relacionado às perdas principalmente da saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais, de cônjuges, amigos, etc. Além disso, a pessoa idosa é mais suscetível a passar pelo processo de depressão que tem um papel importante nessa escolha, assim como as questões de aspectos sociais da terceira idade como o próprio isolamento social. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi sensibilizar o público alvo para mudança de postura diante da realidade do suicido na terceira idade e fazer com que reflitam e criem possibilidades para reduzir o sofrimento mental e busquem ajuda para prevenção do suicídio.

Desenvolvimento do trabalho: Este trabalho é fundamentado na teoria do Arco de Maguerez, baseado na problematização da situação, onde foi observada a realidade dos idosos que participam do Projeto Universidade da Terceira Idade em Belém/PA e ressaltaram-se os pontos chaves para aplicar a educação em saúde através de rodas de conversa e dinâmicas, que puderam nortear a conscientização sobre a prevenção do suicídio. Sendo o primeiro contato realizado pela coordenadora do projeto que realizou o convite para os membros da Liga Acadêmica Paraense de Saúde mental para contemplar esse grupo com a campanha setembro amarelo que tem como objetivo a prevenção do suicídio. Foram colhidas informações sobre o perfil do grupo a fim de conhecer a realidade dos idosos e levantamento dos principais problemas que estes relatavam no que concerne à saúde mental. Posteriormente, em outubro de 2017, desenvolveram-se atividades com um total de 40 idosos, iniciando uma breve palestra sobre os fatores que levam os idosos anteciparem o fim da vida, o processo de envelhecimento, autocuidado e saúde mental. Logo em seguida foi realizada uma roda de conversa onde foram distribuído para todos pedaços de papel com a seguinte pergunta: “O que você diria para uma pessoa que estaria pensando em suicídio?” Foi discutida a forma de prevenção que estava presente em todas as repostas, que se mantiveram anônimas. E por fim foi realizada uma dinâmica em que se deu o nome de “Coloque para fora” em que eles tinham que encher um balão pensando na primeira palavra triste que vinha a mente com o intuito de depositar dentro da bexiga todo sentimento ruim que existia e o rompimento do objeto seria o símbolo que aquilo foi externalizado.

Resultados: Observou-se que os idosos tinham bastante interesse pelo assunto, mas ainda consideravam algo que não se podia falar abertamente por ainda ser um tabu. Muitos idosos tinham duvidas sobre: quando buscar ajuda, quem procurar, onde procurar assistência e como funcionava a rede de atenção psicossocial. Também foi observado que os idosos que já passaram por algum problema psicossocial demoraram a ter algum tipo de assistência devido aos fatores burocráticos do Sistema Único de Saúde o que fez a desistirem de iniciar o tratamento e que a maioria estava passando por alguns problemas citadas pela literatura como sendo um dos principais fatores que levam idosos a cometerem suicídio.

Sobre a primeira dinâmica executada com a pergunta “O que você diria para uma pessoa que estaria pensando em suicídio?” os efeitos percebidos decorrentes da experiência foram que as respostas dadas pelos idosos estavam ligadas a cunho religioso e a maioria tinha conhecimento que a espiritualidade tinha influência na saúde mental dos indivíduos, por isso grande partes das respostas faziam referencias a Deus. Também se analisou que os idosos conseguiram compreender o que foi explanado e as respostas estavam diretamente ligadas com a fala dos membros sobre procurar atendimento profissional e obtiveram outras respostas valorizando a pessoa em si e a vida.

Com isso, obtivemos um interesse notório dos idosos, que demonstraram compreender o assunto repassado, assim como responderam a vários questionamentos, e ficaram entusiasmadas com as possibilidades de ajudarem outras pessoas a procurarem ajuda profissional. No final da palestra foi realizado um relato de tentativas de suicídio por uma idosa, na qual fez sua fala se baseando na palestra dada no inicio e acabou se usando como exemplo de superação e luta contra sofrimento psíquico e incentivando quem estivesse passando pelos mesmos problemas procurassem o mais rápido ajuda profissional e familiar para manter a saúde mental em dia. Todas as falas foram valorizadas e eram aplaudidas no final de cada uma.  A participação no Projeto Universidade da Terceira Idade também foi citada como uma forma de prevenção do adoecimento psíquico, já que busca atualizar as pessoas idosas sobre seus direitos, discutir questões sociais que fazem parte do cotidiano desses idosos, compreender o processo de envelhecimento para que eles sejam sujeitos de direitos e possam lutar por uma velhice digna.

Considerações finais: Em relação às contribuições para a enfermagem, o estudo em questão destaca a importância da atuação da enfermagem no campo da prevenção do suicídio e demonstra de que forma somos precursores da promoção à saúde mental. As atividades realizadas se mostraram de grande valia para o publico da terceira idade de maneira que os conhecimentos foram compreendidos e possivelmente repassados, sendo assim, foi demonstrado que a educação em saúde pode interferir no processo saúde-doença, e também sensibilizar os idosos a cuidarem de suas saúdes mentais, visto que falar sobre suicídio facilita a prevenção. A avaliação da realidade observada no grupo de idosos nos remota à alta necessidade de políticas públicas voltadas à promoção da saúde, as quais incluem campanhas que objetivem a difusão da educação voltada para saúde mental do idoso, não somente como auxiliadora no processo de conscientização, mas também como incentivadora de iniciativas tomadas pelos mesmos, na tentativa de amenizar os problemas que os assolam, levando em consideração que a informação é uma ferramenta bastante útil em mudanças comportamentais e que a prevenção é bastante eficaz na promoção de saúde.


Palavras-chave


Saúde mental; terceira idade; suicídio.