Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Propaganda e marketing de álcool para estudantes universitários: Discutindo aspectos sociais e de saúde
Sérgio Valério Escobar Filho, Marina Gomes Martellet, Rosely Valéria Rodrigues, Carlos Henrique De Castro

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


Introdução

Porto Velho, a exemplo de outras capitais Brasileiras, reúne condições para o consumo de álcool, população universitária, fluxo de pessoas de vários lugares, a trabalho ou estudo, clima quente e um poder público com dificuldades de organizar a cidade. Com a presença de grandes universidades, oferecendo praticamente todo o tipo de curso, a capital de Rondônia é polo regional, estadual e nacional em termos de ensino superior. Dado este quadro, a procura por atividades de lazer por parte dos estudantes, como festas, formaturas, jogos, recepção de calouros, encontros de fim de semana, se soma a um novo momento de vida,  a maioria jovens, deixando de morar com os pais e formando sua identidade pessoal. Nesse período de transição e e de novas redes de relacionamento, o álcool é anunciado para a juventude por meio de colocação e recursos que mais os atraem, a fim que os estudantes se alinham com a cultura de consumo de álcool de suas universidades

Desenvolvimento

Partindo desse pressuposto, esse trabalho visa entender a estratégia de vendas e comunicação de grupos distribuidores de grandes marcas de bebidas em Porto Velho para com o público jovem visando verificar a influência do marketing no consumo de álcool por esse segmento, mais especificamente descrevendo estratégias de venda e comunicação, avaliando se obedecem a critérios locais ou padrões nacionais, investigando se há foco em universitários para por fim elencar elementos de mercado, público e privado, criados tanto para promover como para reduzir o consumo. A pesquisa em questão se caracteriza por estudo descritivo observacional, o trabalho inicial se baseou em pesquisa e revisão bibliográfica em artigos científicos disponíveis em plataformas online e publicações oficiais ou não. Como segunda etapa da investigação, foi realizada uma entrevista com três distribuidores importantes do mercado de bebidas da cidade de Porto Velho, buscando variar grupos de renda e localização. Foi realizado paralelamente um trabalho campo, com acompanhamento de eventos sociais de conscientização da sociedade e órgãos governamentais na cidade de Porto Velho, com vista a observar quais suas abordagens quanto a políticas de redução de danos das bebidas.

Resultados

Surpreendentemente, se verificou pela pesquisa uma estratégia de vendas pouco ou nada organizada para atender o público universitário em particular. De maneira semelhante a vários setores da economia da cidade, falta organização profissional para atender e estimular a demanda por este grupo. Dos três locais observados, dois não desenvolvem nenhuma estratégia específica para este grupo, apenas um estabelecimento, com público de maior renda possui uma política específica, que afirmam estar sendo colocada em prática a pouco tempo  e limitada, baseado em página no Facebook, aluguel de espaço e choppeiras. O uso indiscriminado de álcool é bem conhecido, o uso de bebidas é tolerado ou mesmo estimulado pela sociedade, assim, de acordo com como a demanda for preenchida pela oferta, pode se levar a alta no consumo e a diversificação por parte dos consumidores. Todos os estabelecimentos afirmam que o público universitário é um nicho importante de suas vendas, o principal argumento dado para não ter práticas específicas foi nunca ter avaliado o assunto. Do outro lado da moeda, dos consumidores universitários, se encontra um cenário onde a organização de festas busca bebidas em estabelecimentos generalistas, como redes de atacado na cidade ou consumo não fidelizado em bares e distribuidoras.

O quadro sugere a possibilidade de que o mercado local ainda esteja sub atendido e que o consumo possa ter uma alta acompanhando a maior organização no setor, em processo repetido em seguimentos como de shoppings, imóveis e redes varejistas. Há espaço para a entrada de grupo com políticas mais agressivas para eventos, comunicação e descontos. Órgãos governamentais devem se preparar para a transição, de mercado desorganizado para um mercado de bebidas altamente competitivo conforme a saturação das vendas tradicionais no centro-sul do país. Porto Velho segue terra de oportunidade econômica. Cabe definir regras para o consumo de álcool em locais públicos e o gerenciamento de eventos, melhorando as experiências de lazer da população e preservando a qualidade de vida.

Por parte do poder público, se verificam bem vindas estratégias para enfrentar a problemática, a exemplo da Superintendência de estado de políticas sobre drogas, a SEPOAD, para prevenção de abuso no consumo e oferece alternativas sociais, com palestras, congressos, como a semana de enfrentamento de álcool e drogas de Rondônia, incluindo Atividades como o "Projeto Acordar", oferecendo lazer em periferias, e projetos de resgate, "Projeto Acolher", para pessoas em situação de vulnerabilidade social associada ao uso abusivo e dependência de drogas, e o "Projeto Acreditar", estimulando voluntários a compartilhar experiências. Outra atuação governamental é pelo o Detran, com o "Maio Amarelo", para combate, prevenção e conscientização, incluindo blitz e panfletos informativos.

De forma semelhante, também o setor privado contribui no enfrentamento, a exemplo da participação de associações beneficentes, como a "Casa Família Rosetta", atuando como abrigo de reabilitação na cidade. Entidades não governamentais representam alternativas em atendimento a comunidade, por exemplo através empresas e igrejas, em diferentes locais, com diversos públicos, e multiplicando recursos, tanto por voluntariado quanto por doações e orçamento não limitado apenas pelo critério político.

Enfrentar a problemática do álcool nas questões públicas, desde segurança urbana, violência familiar, agravos de saúde, incluindo drogadição, ordem urbana, no trânsito, perdas financeiras e de produtividade dos cidadãos. Assim, também as universidades precisam tomar parte ativa no problema haja em vista que elas são um elemento que o desencadeia e em um cenário onde jovens entram em contato com a bebida muito cedo, antes de estarem amadurecidos para o consumo. Cabe estimular eventos supervisionados e tentar coibir exageros, hoje a participação das instituições é incipiente ou nula, favorecendo um ambiente de uso abusivo. Abordar álcool e drogas na grade curricular, apesar de relevância, da proximidade com o público e a tentativa em ampliar a interdisciplinaridade no ensino, se vê dificuldade em conciliar conteúdos com a vida diária, mesmo na área da saúde.

Se verifica que a percepção do corpo de alunos quanto ao grau de envolvimento da instituição é baixo. Ao mesmo tempo, há intensa associação de atividades de lazer focando este grupo, onde a bebida é associada  a algum aspecto do evento, como o curso ou a data a ser celebrada, se munindo de estratégias verbais, de imagens, preços promocionais e distribuição de bebidas, o open bar, que ainda pode ser associado ao "ladies first" com entrada inicial apenas de mulheres. Dada a duração dos cursos e a frequência de eventos, representam a massificação da associação entre festas, bebida e universidade.

Considerações finais

A partir de maior envolvimento interinstitucional que se espera avanços em se enfrentar agravos do álcool, sendo importante garantir que as informações sobre o tema cheguem de forma atrativa para os cidadãos, ampliando atores sociais para prevenir e mitigar os impactos do consumo abusivo, ainda que em um ambiente econômico muito ruim vivido pelo país, dificultando a captação de recursos. Ampliar quantitativamente as intervenções é fundamental em se tratando de assistência à saúde da população. Assim, observar a evolução dos padrões de venda e consumo do setor abre possibilidade ao poder estatal de adaptar suas políticas sanitárias a eventuais novas realidades do mercado.