Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-20
Resumo
APRESENTAÇÃO
A integração entre a teoria e a prática e entre o mundo do trabalho e da aprendizagem é um importante eixo educacional de currículos orientados por competência e baseados em metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Por meio desse eixo, utilizado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês – IEP/HSL, o desenvolvimento de capacidades para intervenção e transformação da realidade gera projetos – que se denominam projetos aplicativos e acredita-se que sejam potentes, viáveis e factíveis. Essas características do projeto aplicativo (PA) tornam sua construção um desafio instigante. O processo de construção do PA contribui para o desenvolvimento do pensamento estratégico, para uma análise qualificada dos contextos que envolvem as práticas de saúde e, particularmente, o mundo do trabalho. Nesse sentido, o presente estudo tem o objetivo de relatar a experiência do desenvolvimento do PA por especializandos do curso de Preceptoria do SUS e Preceptoria de Residência Médica no SUS.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
O PA foi construído por um grupo de profissionais da saúde participantes do Curso de Especialização em Preceptoria do SUS e Especialização em Preceptoria de Residência Médica no SUS e ofertado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês (IEP-HSL) em parceria como o Ministério da Saúde (MS), a partir do Programa de Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) e Instituições de Ensino Superior do país.
O PA teve como base os fundamentos do Planejamento Estratégico Situacional. A proposta do PA foi iniciada a partir da análise detalhada dos problemas da atuação dos preceptores da residência médica, através de técnicas e ferramentas específicas de análise situacional para identificar os problemas a serem enfrentados, partindo do conhecimento da realidade e análise de viabilidade. O processo de escolha dos problemas e macroproblemas ocorreram através da realização da oficina de trabalho de identificação problemas na preceptoria a partir do contexto real. A proposta metodológica do curso de preceptoria nos conduziu a refletir à luz dos problemas reais que a preceptoria encontra-se imersa e, por meio de discussões e relatos de experiência na vivência da preceptoria, vários movimentos foram realizados para a construção problemas até se conseguir um consenso da seleção do macro-problema a ser priorizado pelo grupo.
1º Movimento: inicialmente, todos os membros do grupo escreveram nas tarjetas os problemas vivenciados e observados na preceptoria da residência médica hospitalar, considerando o grau de viabilidade na qual se pretende intervir. Cada participante elegeu dois desconfortos em relação ao contexto da preceptoria na residência médica. Posteriormente houve exposição das tarjetas em mural, possibilitando a visualização de todos os problemas listados.
2º Movimento: Identificação do conjunto de problemas apontados, seguindo do esclarecimento das ideias individuais e proporcionando o agrupamento de ideias afins e depois definir os macro-problemas.
3º Movimento: Considerando os problemas elegidos, iniciou-se a construção da matriz decisória. Adotou-se a matriz decisória que prioriza os problemas no sistema de saúde segundo quatro critérios (relevância, prazo/urgência, factibilidade, viabilidade). Em todos os critérios foram levantadas as evidências para indicar a seguinte pontuação: baixa (0); significativa (1); alta (2); e muito alta (3).
4º Movimento: Realizou-se o levantamento e mapeando dos atores sociais relacionados ao contexto de geração e/ou manutenção desses problemas, mediante a aplicação da matriz de valor e interesse. Para cada problema foi atribuída uma classificação de valor: “baixo”, “médio” ou “alto”. Para cada problema foi expresso o interesse do ator em três sinalizações: (1) negativo (-); (2) positivo (+) e (3) indiferente (neutro).
5º Movimento: Partiu-se para a explicação do problema através da construção da árvore explicativa – “Árvore de Problemas”, identificando causa, descritores, consequência e nó crítico de acordo com o problema.
6º Movimento: Seguiu-se com a construção do plano de ação/intervenção, ou seja, a definição da situação futura desejada e as ações que visam resultados, tomando como referência o nó crítico. Nesse curso adotou-se o plano de ação simplificado, que é uma ferramenta que planeja a elabora a proposta de enfrentamento para cada nó crítico, a partir da imagem objetivo (resultados esperados), identificando as ações/atividade, os responsáveis pela execução, os indicadores, os recursos necessários e a determinação de prazos para execução.
7º Movimento: Realizou-se a construção da matriz de análise de motivação em relação aos interesses e valores dos atores sociais permitindo identificar as ações conflitivas do plano de ação. Nessa matriz, a viabilidade foi classificada como alta, média, ou baixa, a depender da disponibilidade dos recursos disponíveis para viabilizá-las. Para a construção da matriz considerou-se os seguintes itens: (1) tempo necessário para que a ação seja viabilizada; (2) recursos financeiros e humanos; (3) responsáveis envolvidos; (4) disponibilidade de tecnologia para a execução da ação. Para a gestão do plano, realizou-se a condução do plano, seu monitoramento, a identificação das dificuldades e as correções necessárias a serem efetivadas nas atividades propostas, uma vez que não basta ter um plano de ação bem formulado, é fundamental, também, construir um sistema de gestão que (1) coordene e acompanhe a execução das ações; (2) promova a comunicação e integração dos envolvidos; (3) faça as correções de rumo necessárias; e (4) garanta que ele seja efetivamente implementado.
IMPACTOS
A construção do projeto aplicativo possibilitou o desenvolvimento da aprendizagem coletiva, além do respeito aos tempos de aprendizagem, às singularidades e às subjetividades dos participantes. O percurso do desenvolvimento do PA possibilitou o aprimoramento do potencial de inovação e criatividade, gerando o desenvolvimento do pensamento estratégico, com uma análise detalhada do contexto real das práticas de saúde. Essa iniciativa educacional possibilita colocar em prática os desejos dos participantes e ainda produziu apoio e inovações para a transformação de práticas, processos ou produtos na área da saúde e no contexto do sistema de saúde brasileiro. Nesse processo potencial da produção de mudanças, observamos o quanto é fundamental que as propostas de intervenção atendam aos requisitos de viabilidade e factibilidade em sua concretização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa iniciativa educacional possibilita acompanhar o desenvolvimento do grupo e permite o desenvolvimento das capacidades de antecipar e de intervir na realidade que precisam ir além dos elementos instituídos pelas políticas vigentes e da aplicação eficiente de recursos escassos, como parâmetros e objetivos a serem alcançados, uma vez que na produção do cuidado em saúde é preciso ousar para o desenvolvimento de ações efetivas para o usuário. Nesse sentido, essa incorporação de novos protagonistas, acrescentando diferentes olhares e perspectivas para promover as mudanças, mostrou-se um bom ponto de partida para ampliar as capacidades de criação e inovação da formação em saúde.