Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A ARTE COMO ESTRATÉGIA NORTEADORA NA MILITÂNCIA PELO DIREITO À SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Vanessa de Souza Amaral, Deíse Moura de Oliveira, Amanda Morais Polati, Milleny Tosatti Aleixo, Adélia Contiliano Expedito, Pamela Brustolini Oliveira Rena, Nayara Rodrigues Carvalho

Última alteração: 2017-12-21

Resumo


Apresentação: A arte permite articular e relacionar as vivências, as crenças, as evoluções e as transformações da sociedade. Compreendida também como uma maneira de fazer o indivíduo e o coletivo se questionarem, repensarem atitudes, comportamentos e tendências. A mobilização social vem construindo história em busca de direitos sociais e na luta pela cidadania.Ocupar diferentes espaços na militância por uma saúde pública de melhor qualidade e ter expressão nesse campo é, portanto, uma necessidade dos profissionais da saúde, sendo a arte uma importante parceira nesse contexto. O profissional da saúde pode ser um mobilizador de grupos sociais na rede onde atua e assumir o papel de um agente de  transformação social . O ano de 2016 foi marcado por uma luta importante no setor saúde, com mobilização de pessoas de diversos segmentos da sociedade contra o Projeto de Ementa Constitucional (PEC) 55, que mesmo naquela época sendo um projeto de lei já revelava-se como uma proposta que acarretaria sérios prejuízos à saúde. Objetivo: relatar uma experiência de mobilização social no Ato em Defesa do Sistema Único de Saúde e contra o Projeto de Ementa Constitucional 55 tendo como deliniador o Teatro do Oprimido. Desenvolvimento do trabalho: a atividade foi construída de forma compartilhada, envolvendo diversas instituições/representações: Universidade, Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Municipal de Saúde. Enquanto participação de estudantes destaca-se aqueles vinculados ao PetGraduSUS , o Levante Popular da Juventude,  membros do Grupo de Pesquisa, Práticas e Estudos em Saúde Coletiva (GRUPPESC), de enfermeiros mestrandos e graduandos de enfermagem, os quais se mobilizaram e articularam para a promoção do ato em defesa do SUS e contra a PEC 55. O referido Ato ocorreu em 4 de novembro de 2016, na cidade de Viçosa, Minas Gerais. O local escolhido foi o centro da cidade, em uma praça, onde já se é de costume o fluxo intenso de pessoas, sendo este um aspecto facilitador da atividade, pois aproximou indivíduos de diversas faixas etárias e perfis. O Teatro do Oprimido foi o referencial teórico escolhido, método  esse que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais elaboradas pelo teatrólogo Augusto Boal , o objetivo é transformar a realidade através da dialógica, pois trabalha o sujeito no sentido de capacitá-lo através de suas vivências, além de ser uma ferramenta de trabalho político, social, ético e estético, contribuindo para transformação social. Esse método, através da discussão, problematiza questões do dia-a-dia do sujeito, com o objetivo de fornecer uma maior reflexão, partindo do princípio de que a linguagem teatral é a linguagem humana usada por todas as pessoas no cotidiano. Sendo assim, estabelece a comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores, estimulando a capacidade crítica e propondo alternativas para lidar com questões que permeiam o cotidiano das pessoas. A atividade utilizou o teatro-fórum, que é uma das ramificações do Teatro do Oprimido, técnica onde os atores representam uma cena até apresentar o problema e, em seguida, propõe que os espectadores mostrem, por meios de ações cênicas, soluções. Nesta técnica existe um personagem primordial – o curinga – responsável por narrar, mediar, provocar e envolver o espectador .Foram formuladas três esquetes, para provocar essa discussão. A primeira esquete trabalhou a construção do Sistema Único de Saúde (SUS), ressaltando que essa se deu por meio da participação popular, construída por meio da união de diversos grupos sociais. A segunda esquete discutiu os possíveis impactos da PEC 55 na saúde pública e a necessidade de lutar pelos direitos já conquistados. A terceira provocou uma interação com os espectadores acerca do papel dos profissionais da saúde quanto ao exercício do seu papel político, no sentido de promover ações, sua cidadania e promocar ações  com o intuito de lutar, mobilizar e articular práticas coerentes com os princípios doutrinários e organizativos do SUS. Resultados e discussões: A arte no ato em defesa do SUS e contra a PEC 55 possibilitou um espaço de interação com usuários do Sistema de Saúde, outros militantes e também permitiu reflexões e construções importantes para o processo formativo dos participantes, tanto da graduação quanto da pós-graduação. Muitas pessoas, atraídas pela curiosidade do teatro, pararam e se inseriram nas discussões de uma forma espontânea e participativa. As esquetes, pautadas no Teatro do Oprimido, foram consideradas pelos envolvidos nesta experiência, metodologia capaz de mobilizar os transeuntes e afetá-los, evidenciado pelo aumento do número de pessoas que foram se agregando à medida que as dramatizações iam se descortinando. Participar dessa experiência reveste-se de grande sentido tanto para militar por lutas sociais quanto por ser repensada as metodologias que favorecam a ocupação de espaços no campo político.  A arte é uma dessas metodologias capaz de promover a mobilização de emoções e reflexões das vivências cotidianas dos usuários, profissionais e gestores de saúde possibilitando a capacidade de mobilização e organização, a fim de promover mudanças na sociedade no eixo saúde. Acreditar que essa mudança possa ocorrer passa necessariamente pela politização dos trabalhadores do campo. Antes de sermos profissionais ou futuros profissionais somos cidadãos numa sociedade que também requer atenção e cuidados, em busca de uma saúde mais justa e equânime para todos. Quando a luta é por todos, os benefícios também serão para todos. É neste contexto que a experiência ora relatada se inscreve e reveste de sentido para os atores em formação na saúde e prática social. Considerações finais: A arte é um caminho a seguir que facilita a aproximação dos usúarios e permite o enfrentamento dos inúmeros desafios na saúde de forma reflexiva e envolvente, por meio dela é possivel o despertar para a necessidade de transformar o ambiente social em que se vive. Nessa ótica, ela é um instrumento nos espaços de militância no processo formativo que deve ser motivadores, provocativos e estimuladores, no sentido de impulsionar o exercício de cidadania, de fortalecer diálogos e lutas por direitos sociais. Promover e protagonizar experiências dessa natureza no processo formativo enriquece sobrenamaneira a capacidade de olhar, refletir e agir dos atores, constituindo base fundamental para a formação e atuação política do profissional da saúde, a qual figura ainda como uma grande lacuna a ser preenchida nesse campo profissional.

Palavras-chave


Arte; Sistema Único de Saúde; Participação da Comunidade