Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Viveria o setor saúde sem pedras? Pedras vivem sem saúde
Thiago Bernardes Nunes, Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


O estudo descrito neste manuscrito tem por objetivo analisar – em perspectiva ético-política – o modo como a transformação do real foi se impondo ao trabalho e gerando experiências na condição oral de produtores de bens em pedra (pavimentação com paralelepípedos, ornamentos de jardins, base de edificações e etc.), no contexto de um município do sul do Brasil. Para tal, ergue-se uma pesquisa qualitativa, de abordagem compreensiva do tipo história oral-oral e análise dialética. Dados surgiram por entrevistas-narrativas num universo de pessoas construído pela técnica bola de neve, guiada por roteiro semiestruturado pautado no problema: como vai a sua boca e qual a história dela? Foram entrevistadas dezesseis (16) pessoas trabalhadoras, sendo: oito (8) broqueiros, quatro (4) “puxadores” de pedra e quatro (4) calceteiros. Previamente, realizou-se etapa exploratória nos espaços produtivos do próprio contexto. Deste percurso, que originou amplo material transcrito, brota a categoria para análise: “Não há consultórios sem pedras, mas há pedras sem consultórios”, emergida por relatos dos trabalhadores-produtores, onde a iniciação no trabalho com pedras se deu antes do primeiro acesso a cuidados bucais formais e, ao longo de suas vidas, não tiveram acesso a tratamento longitudinal, somente pontuais. Partindo do método cunhado pelo filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), o “posto che”, pautado na interlocução entre a historicidade do objeto e suas tendências contraditórias, verificam-se alterações nas necessidades da sociedade. Assim, argumenta-se que a transformação do real, neste contexto estudado, se deu por meio de relações de hegemonia e que a emergência de uma odontologia regulamentada, em face da formação econômico-social sobre a qual ela se edificou, não representou um valor democrático. Hegemonia que atravessa a atenção pública em saúde e o agir odontológico nacional, privilegiando grupos etários em detrimento à comunidade economicamente ativa. Diante da não presença dos serviços de saúde, práticas alternativas de cuidado irrompem da própria comunidade produtora de bens em pedra ao se deparar com o sofrimento decorrente de problemas estomatológicos evitáveis que não foram evitados. Pode-se concluir neste estudo que saúde não é um bem universalmente usufruído, mesmo em tempos de direito à saúde conquistado, e que o Sistema Único de Saúde (SUS) não se materializa no contexto pesquisado, pois as ações e direções estatais pouco englobam essa parcela da população.


Palavras-chave


Sistema Único de Saúde; Modelos de Atenção; Participação Popular; Odontologia; Pesquisa Qualitativa