Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-21
Resumo
Apresentação: A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher propõe que atividades educativas integrem o escopo de ações direcionadas às usuárias da atenção básica e que essas promovam empoderamento para participação ativa nos processos decisórios relativos ao cuidado com sua saúde. Todavia, tal proposição política não tem se concretizado nas práticas de atenção à mulher, já que a sobreposição da clínica e a desvalorização dos processos educativos são problemas contemporâneos. O objetivo da pesquisa foi conhecer a realidade vivenciada por equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) do interior Pernambucano, no tocante ao desenvolvimento de atividades de educação em saúde com mulheres. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de pesquisa exploratória, qualitativa, que tem a Integralidade como eixo teórico. Participaram nove trabalhadoras/es atuantes em quatro unidades da ESF do sertão do Estado de Pernambuco, Brasil, Outubro de 2014 a Dezembro de 2015. Utilizou-se a Oficina de Reflexão para produção do material empírico, mediante as etapas de apresentação e integração; desenvolvimento do tema; socialização das experiências; síntese; avaliação; descontração/ relaxamento. Teve duração de três horas, durante as quais os discursos foram registrados em diário de campo e por gravador de voz. O material produzido foi analisado pela técnica de Análise de Discurso por Fiorin. Resultados: há reprodução do paradigma biomédico na organização do serviço e nas práticas de saúde nas ESF lócus da pesquisa; a gestão autocrática e a prioridade para o alcance de metas limitam o trabalho educativo com mulheres na perspectiva emancipatória e distancia o cuidado da integralidade. Contribui para essas limitações a insuficiência da formação acadêmica, também influenciada pelo modelo hegemônico, para o trabalho com a comunidade e o desestímulo em adotar a educação em saúde como estratégia para a promoção da saúde na prática profissional. A inexistência de intervenções educativas é justificada, sobretudo, pela estrutura física do serviço e pelo modelo de gestão ambos atendendo ao modelo clínico individual, que inviabiliza o coletivo. A desvalorização do trabalho profissional, a falta de apoio logístico e a prioridade para a produtividade foram citados como fatores de desmotivação para o trabalho na ESF e como dificuldades para o trabalho educativo com as mulheres. Considerações finais: Reorientar o cuidado às mulheres na ótica das práticas educativas emancipatórias exige de trabalhadores/as, usuárias e gestores/as disponibilidade para mudança dos modos tradicionais de gestão e de atenção adotados. Requer também romper com o paradigma biomédico que orienta a formação e a produção da saúde. Transformar essa realidade requer, antes de tudo, a compreensão dos fatores que obstaculizam a consolidação do processo educativo como instrumento de empoderamento e cidadania, e como um componente fundamental da integralidade.