Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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AÇÕES DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO ÂMBITO DA ATENÇÃO BÁSICA: REVISÃO INTEGRATIVA
Clísten Alves Corrêa, Firmina Hermelinda Saldanha Albuquerque, Herika Paiva Pontes, Karla Maria Carneiro Rolim, Maria Solange Nogueira dos Santos, Mirna Albuquerque Frota, Luana de Sousa Oliveira, Rafaela Lima Nascimento

Última alteração: 2017-12-27

Resumo


Apresentação: A educação em saúde é um campo de práticas e de conhecimento do setor Saúde que tem se ocupado mais diretamente com a criação de vínculos entre a ação assistencial e o pensar e fazer cotidiano da população. Isso implica considerar toda ação de saúde como uma ação educativa, visto que processos de promoção, prevenção, cura e reabilitação são também processos pedagógicos, na medida em que as relações estabelecidas com o outro interferem direta ou indiretamente em seus modos de pensar, sentir e agir. Diferentes concepções e práticas têm marcado a história da educação em saúde no Brasil, mas, até a década de 70, a educação em saúde foi basicamente uma iniciativa das elites políticas e econômicas e, portanto, subordinada aos seus interesses. Voltava-se para a imposição de normas e comportamentos por elas considerados adequados. Movimentos populares e de profissionais da saúde, insatisfeitos como o modelo de saúde até então vigente, as práticas de educação em saúde começaram a sofrer uma grande transformação. Muitos profissionais, norteados pelo método da Educação Popular, sistematizado por Paulo Freire, se organizaram junto a grupos populares e começaram a esboçar novas formas de se fazer e pensar saúde, atuando junto às comunidades locais e desenvolvendo serviços comunitários, desvinculados do aparato estatal. Nesse sentido, a educação popular em saúde emergiu, como uma estratégia de construção da participação popular não apenas no âmbito da saúde, mas da vida social como um todo. A Educação Popular em Saúde esteve articulada à Política de Educação Permanente para o Sistema Único de Saúde (SUS), coordenada pela Secretaria de Gestão da Educação e do Trabalho em Saúde (SGETS). A partir de 2005, ela foi inserida na Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, o que promoveu mudanças significativas no campo institucional, fortalecendo sua identidade enquanto projeto de democratização do SUS. Em 2012, foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS). São definidos seis princípios teórico- metodológicos pela PNEPS, sendo eles: diálogo, amorosidade, problematização, construção compartilhada do conhecimento e compromisso com a construção do Projeto Democrático Popular. O texto da PNEPS-SUS também traz alguns eixos estratégicos para sua implementação, sendo eles: participação, controle social e gestão participativa; formação, comunicação e produção de conhecimento; cuidado em saúde; intersetorialidade e diálogos multiculturais. Considerando a importância da educação popular em saúde, enquanto instrumento de articulação dos princípios e diretrizes defendidos pelo SUS, este estudo objetivou investigar, por meio de revisão integrativa da literatura, as ações em educação popular em saúde no âmbito da atenção básica. Desenvolvimento: Optou-se por uma revisão integrativa nas bases de dados LILACS e SciELO com a utilização associada dos descritores: educação em saúde, atenção básica e promoção da saúde. Os critérios de inclusão foram: artigos científicos com o texto disponibilizado na íntegra, publicados no período de 2007 a 2017, com o idioma em inglês, português espanhol. A coleta dos dados ocorreu no mês de setembro de 2017. Após a leitura dos artigos selecionados as informações extraídas foram categorizadas e analisadas de forma descritiva. Resultados: Inicialmente foram identificados 324 artigos, 291 na LILACS e 33 na SciELO, foram excluídos estudos em duplicidade e que não atendiam ao tema proposto, restando 27 artigos que compuseram a amostra final. O maior número de estudos foi encontrado em periódicos da Atenção Primária à saúde. Quanto ao tipo de publicação, a maioria dos trabalhos se configurou como relato de experiência. As práticas e ações de Educação Popular em Saúde, no âmbito da atenção primária à saúde, foram desenvolvidas majoritariamente nos espaços de Unidades de Saúde da Família e Unidades Básicas de Saúde. Entretanto, outros espaços como centros comunitários, associações locais, rádios comunitárias, as igrejas, as feiras e as escolas emergiram como espaços potenciais para se pensar e fazer educação em saúde. A comunidade elege os lugares privilegiados para a troca de informações, pois têm um papel significativo e simbólico dentro da comunidade e, por isso mesmo, são lugares relevantes para a prática da educação em saúde. Nesse sentido, o movimento de ir até o outro, no espaço em que este se sente familiarizado e acolhido, facilita a tarefa de construção de vínculos e estimula a troca e a construção de parcerias com a população. Alguns estudos apontaram que a educação popular em saúde representou um instrumento de reorientação das rotinas e reconfiguração dos serviços marcados pela baixa adesão, falta de diálogo e participação dos usuários. Antes da implantação das propostas de educação popular em saúde predominava nestes espaços um modelo de educação em saúde, desenvolvido de forma verticalizada, muitas vezes, focado apenas na agenda ministerial, com centralização das decisões nas equipes de saúde, e desconsideração pelos interesses da população. As principais estratégias adotadas pelos profissionais para atrair a população para os programas e as ações de educação popular em saúde foram o caráter de não obrigatoriedade da participação e a utilização do lúdico e da arte como ferramentas de aproximação do universo popular e de construção de vínculos. A linguagem da arte permite resgatar o sujeito em sua totalidade, incluindo as dimensões ética, estética, do corpo, da religiosidade e da afetividade. Dessa forma, a arte e a cultura constituem estratégias privilegiadas nas práticas de educação popular em saúde. É importante pensar a educação popular em saúde não apenas como um instrumento de educação em saúde, mas como um recurso estratégico, que potencializa a conscientização da população sobre suas condições de vida e a abertura de canais de participação no nível local, reforçando a organização popular e s lutas sociais pela saúde. Dessa forma, torna-se fundamental avaliar nos próximos anos de que forma a PNEPS pode contribuir com as experiências de educação popular em saúde, já consolidadas e aquelas ainda em processo de implantação, assim como as dificuldades e desafios encontrados pelos serviços para sua efetiva implementação. Considerações finais: Foi possível evidenciar através desta revisão algumas experiências de educação popular em saúde se encontram mais sistematizadas, demonstrando a viabilidade e a resolubilidade deste método, pois quando se abre espaço para a população de forma dialógica e amorosa, esta se torna mais consciente das suas condições de vida e saúde e isto se reflete em maior controle social, em uma gestão mais participativa e em maior integralidade das ações. No entanto, algumas experiências ainda estão caminhando e, neste sentido, a PNEPS-SUS representa um grande avanço ao possibilitar maior sistematização, articulação e generalização das práticas de educação popular em saúde. Ao mesmo tempo é necessário capacitar também os profissionais de saúde para trabalhar com essa nova metodologia e uma possibilidade é pensar a própria educação popular como proposta educativa na formação e capacitação de recursos humanos.


Palavras-chave


Educação em saúde, atenção básica, promoção da saúde.