Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIAS DIFÍCEIS ENTRE OS ACADÊMICOS DA ÁREA DE SAÚDE: UM ESTUDO SECCIONAL
Thalia Mendonça Cardoso, Ester Alves de Oliveira, Lowisa Consentini Garcia, Marcela Catunda de Souza Michiles, Sibila Lilian Osis, Selma Barboza Perdomo

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


A comunicação é o meio pelo qual todo ser humano se relaciona, constrói vínculos e expressa seus próprios pensamentos, assim também como torna-se espectador das expressões de outrem em determinados momentos.

Em saúde, profissionais fazem o manejo desta ferramenta para revelar informações acerca do quadro clínico de seu paciente, explicar procedimentos, obter respostas e até mesmo promover conforto; de forma não verbal, médicos, enfermeiros e odontólogos também comunicam-se com seus clientes, quer estejam cientes ou não, através de expressões faciais e corporais que sugerem suas emoções, vale ressaltar que as emoções constituem justamente o aspecto mais difícil de se controlar, pois são reações espontâneas muitas vezes.

Dentro deste contexto, a comunicação de notícias difíceis é referida como o ato de transmitir informações que causarão impactos e mudanças de maneira negativa na vida de quem as recebe; diante disto, é possível notar a grande responsabilidade que está nas mãos dos profissionais de saúde: comunicar ao seu cliente algo difícil que implicará em ruptura da atual realidade dele; complexo, que será doloroso para o ouvinte absorver.

Essa responsabilidade é uma realidade na prática da assistência, entretanto, é possível inferir que existe negligência quanto a abordagem do tema durante a graduação dos profissionais, criando desta maneira uma lacuna no caráter profissional do indivíduo; inferência essa que parte do que é registrado em muitos artigos que abordam o tema de comunicação de notícias difíceis em saúde, isto é, relatos de médicos e enfermeiros (principalmente) que atribuem a grande dificuldade em lidar com a transmissão de notícias negativamente impactantes à sua graduação.

Portanto, nota-se que é necessário que as exigências do campo de atuação dos profissionais de saúde sejam contempladas em seus cursos acadêmicos com a finalidade de melhor preparar-lhes para as diversas situações que virão a desafiá-los rotineiramente; o que justifica a relevância deste tema.

Quanto as inquietações que direcionaram o desenvolvimento deste projeto, são elas:

  • Como não desconstruir a si ou ao outro diante da notificação de notícias difíceis e na abordagem de temas complexos frente a terminalidade?
  • Como desenvolver valores e atitudes para conduzir comunicação assertiva para a compreensão de contextos difíceis na área da saúde?
  • Qual o papel da família na tomada de decisões frente a terminalidade?
  • Como reconhecer a família como parte da equipe multiprofissional diante de questões difíceis, comunicando a elas a importância de sua atuação?
  • Como respeitar o desejo do paciente sem infringir a ética profissional?

Quanto aos objetivos da pesquisa, tem como objetivo geral: analisar o conhecimento dos acadêmicos da área da saúde sobre comunicação de notícias difíceis; e como objetivos específicos:

  • Identificar o perfil sócio religioso dos profissionais da área da saúde;
  • Listar as atividades que consideram complexas na transmissão de notícias difíceis; e,
  • Correlacionar as variáveis específicas na comunicação com o perfil sócio religioso.

Trata-se de um estudo exploratório, do tipo transversal, com coleta de dados na Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), com acadêmicos dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia.

  • Esta etapa atende o seguinte critério de inclusão:

Estão inclusos os estudantes a partir do 3º período dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia devidamente matriculado no sistema UEA.

  • Quanto aos critérios de não elegibilidade:

Acadêmicos menores de 18 anos; visitantes de outras instituições ou em intercâmbio.

A amostra foi calculada de acordo com o número de ingressantes nos cursos da ESA/UEA, sendo assim, o tamanho da amostra foi calculado pelo programa OpenEpi, perfazendo uma amostra de 137 acadêmicos dos cursos de Enfermagem e de Odontologia e 225 acadêmicos do curso de Medicina.

A pesquisa encontra-se em andamento, e para realização da coleta de dados está sendo utilizado um instrumento que contêm características gerais e características específicas, e é baseado no protocolo Spikes, que foi criado em 1994 para facilitar a transmissão de más notícias tanto para os profissionais quanto para os pacientes, e tem sido utilizado como referência nos estudos que tratam do tema de Comunicação de Notícias difíceis.

Dentre as características gerais encontra-se o curso do participante, ingresso na universidade, especialização/titulação, idade, gênero, raça/cor, estado civil, número de filhos, setor de atuação e tempo de atuação na unidade; já as variáveis específicas relacionadas ao tema do projeto são: frequência com que informa notícias difíceis, nível de dificuldade na comunicação, preparo prévio para transmissão de notícias difíceis, percepção de habilidades para a tarefa, percepção da dificuldade, manejo das emoções próprias e do paciente, uso de protocolo, estratégias baseadas em evidências, percepção de sofrimento do impacto da tarefa e percepção da habilidade; além de afirmações que tratam do tema da terminalidade.

As perguntas variam entre múltipla escolha, escalas de 0 a 10 e as opções de verdadeiro ou falso a respeito de afirmativas que intentam analisar o conhecimento individual acerca do contexto da terminalidade.

No tocante aos aspectos éticos cabe ressaltar que após cadastro na plataforma Brasil recebeu parecer favorável sob protocolo nº 2.302.838 – CEP. Todos os profissionais concordantes com o estudo e que são correspondentes aos critérios de inclusão estão sendo devidamente informados dos objetivos do estudo e efetuam a participação na pesquisa após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE .

A pesquisa encontra-se atualmente na fase da coleta de dados, de maneira que ainda não é possível uma percepção plena de seus resultados, entretanto, durante a aplicação dos questionários entre os universitários observa-se que os mesmos sentem-se instigados pelo tema, fazendo perguntas a respeito e até mesmo discutindo entre si, tais situações permitem um vislumbre do grande impacto positivo que uma abordagem mais científica do assunto dentro das grades curriculares dos alunos causaria, deixando-os mais preparados para o campo prático, estabelecendo-os como indivíduos mais habilidosos para manejar as muitas variáveis que permeiam a comunicação de notícias difíceis em saúde.

Dada a relevância do assunto, acredita-se que a iniciativa de dar visibilidade ao tema ‘Comunicação de Notícias difíceis’ entre os acadêmicos da área da saúde pode ser o pontapé inicial para formar profissionais menos vulneráveis emocionalmente, além de oferecer um contato prévio com as situações que envolvem o aspecto da terminalidade, de maneira que o campo prático não venha surpreender indivíduos desprecavidos, mas sim desafiar profissionais que foram formados não somente tecnicistas, mas que foram despertados e capacitados a respeito de um ponto extremamente necessário e determinante na construção de uma boa conduta profissional.

Visando estes resultados no desempenho das atividades dentro das unidades de saúde, mediante a abordagem do assunto durante a graduação, é possível concluir que o tema e o uso deste no preparo de médicos, enfermeiros e odontólogos, afetará de maneira direta a população que utiliza-se de serviços de atendimento, beneficiando, no final das contas, principalmente a estes, que poderão usufruir de um atendimento diferenciado e mais qualificado.


Palavras-chave


Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida, Comunicação, Comunicação em Saúde, Saúde