Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ESQUIZOFRENIA COMO FATOR DE ALTO RISCO NO PERÍODO GESTACIONAL: UM RELATO DE CASO
Juliana Araújo, Kamile da Silva Cerqueira, Simone da Silva Aguiar Figueira, Ilma Pastana Ferreira

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave, de caráter crônico, que acomete cerca de 1% da população mundial de mesma prevalência entre homens e mulheres. Esta patologia é caracterizada pelo aparecimento de sintomas como delírios, alucinações, fala e comportamento desorganizado, apatia entre outros sinais que são clinicamente classificados como positivos ou negativos. Apesar de sua fisiopatologia ainda ser pouco compreendida, sabe-se que a maioria dos sintomas deste transtorno aparece entre os 15 e 35 anos de idade com duração mínima de seis meses na primeira crise. O período gestacional constitui uma fase de grandes mudanças físicas e mentais na vida de uma mulher, estas alterações podem gerar ansiedades que deixam a genitora mais vulnerável a perturbações emocionais tanto durante a gestação quanto no período puerperal. Sabe-se que é no período gravídico-puerperal que se encontra a fase de maior incidência de transtornos psíquicos na mulher e, quando já se tem um transtorno psiquiátrico desenvolvido, esta situação torna-se mais grave. De acordo com os estudos de Seeman (2013), o risco de desenvolvimento de psicose pós-parto entre primigestas com histórico de hospitalização devido a transtornos psiquiátricos é mais do que 100 vezes maior que o da população em geral, 25% das mulheres com esquizofrenia desenvolvem psicoses pós-parto. Os sintomas psicóticos ativos, presentes nas crises esquizofrênicas, podem trazer sérios riscos tanto para período gestacional quanto para puerpério, uma vez que os mesmos têm sido associados à autoagressão materna, danos físicos à criança, inadequada inserção materno-infantil e trajetórias de desenvolvimento infantil mais precária, segundo Rochon – Terry, 2016. O impacto provocado pelo transtorno psiquiátrico no período gravídico-puerperal é evidenciado por altas taxas de abortamento, prematuridade, baixo peso ao nascer, pré-eclampsias, atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor do feto e depressão pós-parto materna, bem como maiores dificuldades em realizar adequadamente os cuidados necessários no pré-natal, conforme afirma Brasil, 2010. Este estudo tem como objetivo descrever o período gestacional de uma paciente portadora de esquizofrenia, acompanhada pela Unidade de Referência Especializada durante o período de janeiro a outubro de 2015. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo de abordagem qualitativa do tipo relato de caso, tendo sido coletados dados dos prontuários de uma paciente atendida em uma Unidade de Referência Especializada do município de Santarém-PA. Foram recolhidas informações de 18 consultas, incluindo médicas e de enfermagem das quais foram selecionadas as informações pertinentes da história clínica de todo o pré-natal da paciente, das quais foram utilizadas as informações de maior relação com vulnerabilidade e riscos potenciais para a saúde materna e fetal. Posteriormente, foram realizadas consultas à literatura como forma de proporcionar embasamento teórico para o relato. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: A Paciente do estudo em questão, tinha 33 anos, portadora do transtorno psicótico Esquizofrenia, compareceu para inscrição de pré-natal no dia 14 de janeiro de 2015 em uma Unidade de Referência Especializada com 6 semanas e 3 dias de amenorreia, encaminhada pelo Centro de Assistência Psicossocial, onde foi acompanhada pelos 6 anos anteriores a gestação, informou fazer uso dos medicamentos: Haldol 1mg e Prometazina 25mg (um comprimido ao dia). Descreveu ser sua primeira gestação, planejada e aceita até o momento da consulta com data provável do parto para o dia 08/09/15. Esta informação é discordante dos estudos de Guedes (2007), nos quais são descritos que as pacientes com transtornos mentais são mais vulneráveis a terem uma gestação não planejada devido a fatores, como: dificuldade para estabelecer uniões estáveis, ser vítima de abuso sexual, estar com o juízo crítico prejudicado em surtos psicóticos, hipersexualidade e impulsividade.  No decorrer da realização das consultas subsequentes de pré-natal, foi possível observar também, ganho ponderal de peso nas primeiras semanas de gestação, no qual se destacou o ganho de 4,6 quilos em apenas 13 dias registrado na vigésima segunda semana de amenorreia. Sobre este fato, estudos de Leite Sampaio et al (2015) destacam que os antipsicóticos podem levar ao aparecimento efeitos adversos como: ganho de peso, alterações no perfil lipídico e metabolismo da glicose, exigindo, desta forma, um controle nutricional ainda maior destas pacientes devido a estes fatores. Através da análise do prontuário, também se pôde constatar o aparecimento de alguns sintomas relacionado à esquizofrenia, como alterações no padrão de sono, tristeza profunda e fácil choro que desencadearam em uma crise no dia 20 de março, na qual a paciente informa ter cogitado suicídio. As estimativas variam, mas os estudos colocam que até 15% dos pacientes podem morrer devido á tentativa de suicídio em momentos de crise devido à instabilidade do momento. Nas consultas posteriores houve relativa estabilidade do quadro psicótico da paciente, uma vez que, por recomendação psiquiátrica, a mesma teve medicação alterada para Haldol Decanoato intramuscular a cada 25 dias e acompanhamento periódico do CAPs. Na consulta puerperal, paciente comparece com 18 dias após parto cesáreo, informa que RN nasceu com 3375 gramas, 36 centímetros de perímetro cefálico, 35 centímetros de perímetro torácico, 52 centímetros de estatura, parto sem intercorrências, sem alterações patológicas e de humor até o momento da consulta. No que diz respeito aos efeitos no RN devido a medicação utilizada pela paciente, apesar de não haver estudos comprovando a teratogenicidade do Haloperidol durante o período gestacional, a bula do medicamento indica que a utilização desta droga durante o terceiro trimestre pode trazer ao neonato o aparecimento de sintomas como agitação, hipertonia, hipotonia, tremor, sonolência, dificuldade respiratória ou transtornos alimentares, sintomas extrapiramidais ou de retirada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A esquizofrenia traz riscos inerentes à saúde materno-fetal, assim como a maior parte dos transtornos mentais graves, portanto, é essencial que haja um bom acompanhamento por parte da equipe de saúde em dar assistência não somente a gestante, mas aos familiares, alertando-os para as principais necessidades da paciente, suas limitações e sinais de riscos. A partir deste estudo, pôde-se perceber que o atendimento prestado a paciente foi prejudicado por falta de comunicação entre os setores de saúde, CAPs e a Unidade de Referência, que tinha como único vínculo os receituários e relatos da própria paciente. A continuidade das informações entre os profissionais é essencial, pois melhora significativamente a assistência prestada a paciente. Espera-se, que a partir deste estudo, novas pesquisas surjam no ramo de planejamento familiar às pacientes de saúde mental e esquizofrenia destacando a importância clínica que este transtorno nos riscos gestacionais.


Palavras-chave


Gestação de alto risco; Esquizofrenia; assistência de enfermagem