Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Perfil epidemiológico de usuários estrangeiros atendidos em unidades básicas de saúde de município da tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru
Giane Santos-Melo, Selma Regina Andrade, Sônia Maria Lemos, Aldalice Pinto Aguiar

Última alteração: 2018-01-15

Resumo


Apresentação: A faixa de fronteira brasileira, designada como 150 quilômetros de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional, é formados por três arcos, denominados “Arco Sul”, “Arco Central” e “Arco Norte”. Estudos têm demonstrado a caracterização da situação de saúde e dos processos de integração entre países do arco sul e arco central, porem pouco são exploradas estas questões nas fronteiras do arco norte. Sendo que este é considerado o arco de fronteira com maior extensão territorial e menor densidade demográfica, com 1,2 habitantes/Km2. Além dessas características, outras peculiaridades diferenciam o arco norte dos arcos central e sul, pois por estar situado na região amazônica, estas fronteiras se localizam em regiões de difícil acesso e geralmente ligadas a áreas indígenas. Estas condições fazem desta região uma das áreas mais críticas da Amazônia brasileira, por concentrar alguns dos principais determinantes de saúde, que são influenciados principalmente pela a elevada mobilidade populacional, atividades de grande impacto ambiental, ocupação desordenada do espaço, falta de acesso aos serviços de saúde e condição de vida precária de determinados grupos populacionais. Neste contexto, os estudos sobre as questões que envolvem os atendimentos a estrangeiros nestas regiões podem contribuir para a implementação de ações que aumentem a integração de saúde entre países fronteiriços fornecer subsídios para o planejamento de ações que favoreçam tanto brasileiros quanto estrangeiros. Assim este estudo teve como intuito responder as seguintes questões de pesquisa: a. qual o perfil epidemiológico dos estrangeiros atendidos em duas unidades básicas de saúde do município de Tabatinga/Amazonas? E quais motivações levaram estes estrangeiros a procurar os serviços de saúde no município brasileiro? Diante desta demanda, este estudo teve como objetivo principal descrever o perfil epidemiológico dos estrangeiros atendidos em duas unidades básicas de saúde do município de Tabatinga-AM. Desenvolvimento: Estudo descritivo de abordagem quantitativa, que segundo Gil, 2008 se caracteriza com objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno. O local de estudo foram duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Tabatinga, estado do Amazonas, município este que faz fronteira com a cidade de Letícia, no Departamento de Amazonas, Colômbia e Com a comunidade de Santa Rosa, Departamento Loreto no Peru. A primeira UBS foi a Unidade de Santa Rosa localizada na zona norte do município de Tabatinga e a segunda foi a UBS Dídimo Pires, localizada na zona central do município. A escolha das unidades se deveu pela proximidade das mesmas com a fronteira por via terrestre com Letícia/Colômbia e a fronteira fluvial com Santa Rosa/Peru. A População do estudo foram os estrangeiros de ambos os sexos, maiores de 18 anos que procuraram as UBS durante os meses de março e junho de 2016. A coleta de dados aconteceu nos meses de março e junho de 2016 e foi realizada através da aplicação de formulário contendo perguntas fechadas sobre dados socioeconômicos, nacionalidade, local de moradia e dados para se avaliar a motivação da busca por atendimento. A analise dos dados foi realizada através de estatística descritiva, com a utilização de gráficos e tabelas, criados a partir do programa Microsoft Office Excel 2010, observando a especificidade das frequências absolutas e relativas. Em respeito aos aspectos éticos, foram atendidas as recomendações da resolução n⁰ 466/ 2012 do Conselho Nacional de Saúde, no que diz respeito à composição do protocolo a ser encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa. Assim, o projeto por se tratar de pesquisas com seres humanos a pesquisa recebeu aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Plataforma Brasil com referência do CEP da Escola Superior de Ciências da Saúde/Universidade do estado do Amazonas (ESA/UEA) com número CAAE 53369916.0.0000.5016 e parecer de aprovação n. 1.477.923. Os dados obtidos foram armazenados de forma confidencial e somente o pessoal autorizado e vinculado ao projeto teve acesso às informações obtidas, sendo que para divulgação dos resultados do estudo foi resguardada qualquer identificação de pessoas. Resultados: foram coletados dados de 47 pacientes, sendo que 20 destes foram atendidos na UBS Santa Rosa e 27 na UBS Dídimo Pires. Pela análise dos dados verificou-se que a maioria dos participantes eram mulheres (89%) com idade entre 18 e 30 anos (42%). Verificou-se que a procura por atendimento para crianças entre zero e cinco anos foi de 19%, seguido 4% de crianças de seis a 11 anos. Quanto a nacionalidade, 53% dos participantes eram peruanos, enquanto 47% disseram ser colombianos.  A análise dos dados socioeconômicos demonstrou que a maioria possuía ensino médio completo (28%), seguidos de ensino fundamental incompleta (17%). 6% dos entrevistados se declaram analfabetos. Quanto a ocupação, 47% dos se declaram desempregados e 23% referiram trabalhos informais. A maioria dos participantes afirmou possuir renda média familiar abaixo de um salário mínimo (49%) ou não ter nenhuma renda, necessitando de auxílio de programas governamentais ou de outros membros da família para sobrevivência (25%). 15% dos participantes optaram por não declarar a sua renda mensal. No questionamento sobro o que os motivou a procurar os serviços de saúde em Tabatinga, Amazonas/Brasil, 96% alegaram a facilidade de acesso aos serviços de saúde pela proximidade entre os países e 4% alegaram estar em casa de parentes ou amigos no município e procuram as UBS pela qualidade dos serviços ofertados. A maioria dos participantes (79%) alegou não possuir nenhum plano de assistência a saúde m seu país de origem. Os participantes foram questionados sobre quantas vezes no último ano eles procuram os serviços de saúde de Tabatinga, Amazonas/Brasil e 30% responderam que o fizeram mais de dez vezes, outros 21% refere que procurou os serviços de saúde do município de duas a quatro vezes e 19% procuram o serviço entre cinco e dez vezes. 18% dos participantes referem que aquela foi sua primeira visita a UBS e 12% não souberam ou optaram não responder a questão. A maioria dos atendimentos (47,5%) foram direcionados ao profissional médico, ou ao enfermeiro (41%) e 3% procuram o cirurgião dentista. A maioria dos atendimentos foi motivada pela busca de soluções para sinais e sintomas de doenças, como cefaleia, febres, dores abdominais ou problemas odontológicos (40%), seguidos de atendimento ao pré-natal (27%), avaliação de crescimento e desenvolvimento infantil (24,5%) ou outros 8,5 serviços das Unidades. Após o atendimento, 38% desses pacientes foram encaminhados para agendamento de consultas de retorno ou com outros profissionais de saúde, outros 4% forma encaminhados para realização de exames laboratoriais. 52% dos participantes receberam alta do atendimento, sendo que destes a maioria (58%) retiram medicações na farmácia das UBS para finalização de tratamento. Considerações Finais: Este estudo se limitou a descrever o perfil epidemiológico dos que procuraram duas UBS do município de Tabatinga, Amazonas, Brasil, não sendo assim possível mensurar a porcentagem de estrangeiros atendidos em relação ao atendimento total das UBS, porém pode verificar pelo número de participantes que o atendimento a estrangeiros nessas UBS é uma realidade e é significativamente importante na demanda diária de serviços do município, pois além de tratar-se de uma população com especificidades próprias, trata-se ainda de uma população itinerante que nem sempre podem ser acompanhados pelos programas de saúde implantados no Brasil. Assim, políticas públicas de integração em saúde são necessárias nestas regiões a fim de possibilitar a garantia da integralidade da saúde ofertada a populações fronteiriças.

Palavras-chave


Áreas de fronteira; Saúde na fronteira; Cooperação internacional