Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA: EXISTE UMA PREDISPOSIÇÃO?
SILVANI VIEIRA CARDOSO, Sandra Greice Becker

Última alteração: 2017-12-29

Resumo


Apresentação: O fenômeno violência de gênero acomete todas as raças, religiões e culturas, o qual compromete e interfere na saúde pública. É um evento silencioso, que acarreta destruição pessoal e familiar, que em sua maioria são irreversíveis.

A violência contra a mulher quando acontece em domicílio é um dos tipos de violência mais difíceis de prever e de combater, pois a principal testemunha é a vítima, a qual possui vínculo interpessoal e amoroso com o agressor. E, embora aconteça com frequência, nenhuma mulher se une a um parceiro esperando, conscientemente, sofrer qualquer tipo de violência. O parceiro por sua vez, pode entender e interpretar a diferença de gênero, como algo que lhe confere domínio e poder, adentra a uma relação esperando comportamentos de submissão, tendo assim, controle sobre a sua parceira. A relação que antes era configurada como amorosa, passa a ser de dominação e agressão, na qual o parceiro utilizará de estratégias para comprometer a autoestima da parceira, fazendo com que a mesma se sinta culpada e merecedora das agressões. Neste controle emocional, o parceiro justifica suas ações como as sendo de preocupação e cuidado, o que pode fazer alusão a traumas já vivenciados. Devemos lembrar que, a história familiar e comunitária pregressa de ambos interfere diretamente na interpretação e análise desses comportamentos, seja ele de vítima e ou agressor.

Sendo assim, este fenômeno violência pode ser caracterizado em violência física, sexual e psicológica, dentre estas, a mais discutida e estudada é a violência física, pois deixa marcas externas e visíveis, mas, e o que está invisível?

Para o Hirigoyen, a violência psicológica pode ser expressa através do controle, isolamento, ciúme patológico, assédio, aviltamento, humilhação, intimidação, indiferença às demandas afetivas e ameaças. Sentimentos e comportamentos esses que são subjetivos e nem sempre compreendidos, o que configura uma das dificuldades em identificar a violência presente.

Na esfera da assistência em saúde pública podemos avaliar um possível despreparo dos profissionais e da estrutura física e organizacional do sistema de atendimento imediato.

Em uma busca rápida e simples nas plataformas de pesquisa, podemos evidenciar que a violência psicológica é um termo pouco pesquisado em sua essência. Diante disso, nesta proposta pretendemos destacar e enfatizar a violência psicológica, pois, a mesma deixa marcas internas, subjetivas e nem sempre interpretadas e expressadas. Nesta linha, teremos como objetivo discutir se a violência psicológica é oriunda de traumas ou são apenas padrões de violência cotidiana que se repetem?

Seria esta mulher suscetível e predispostas a sofrer violências psicológicas?  Método: Trata-se de um relato de experiência a partir de leituras para construção de projeto de pesquisa, que envolverá mulheres que sofreram violência psicológica. Referenciais teóricos e metodológicos da filosofia e psicanálise nos darão suporte para esta discussão. Resultados: Para muitos autores como, Freud, Ferenczi e Werlang, a experiência vivida na infância da mulher irá lhe configurar um comportamento psicológico que busca, inconscientemente, a reprodução dessas experiências. É como se suas escolhas e comportamentos já fosse pré-destinada inconscientemente. Mulheres que experimentam violência, principalmente psicológicas na vida uterina e na infância possuem tendência, segundo esses autores, a terem uma espécie de atração por situações que lhe configurem controle, repressão e domínio. Podemos pensar em uma programação psicológica de eventos traumáticos, que necessitam ser satisfeitos a todo instante e lugar. A violência psicológica é romantizada, sendo justificada pela estruturação de uma família patriarcal, as ofensas passam a ser interpretadas como um comportamento necessário e da essência masculina, o que acaba por favorecer o ego e o machismo dos parceiros Mulheres que resistem ou não preenchem os requisitos de comportamentos estabelecidos pelo parceiro são severamente punidas.

Na pós-modernidade, esta violência é compreendida pelo autor, Michel Maffesoli, como sendo um fenômeno social que não pode ser conceituada, pois sua definição não é unilateral.  Justificando que o comportamento da violência se difere de acordo com a época, cultura e sociedade, configurando-se em um fenômeno que se transforma com o decorrer do tempo e de acordo a cultura envolvida. Sendo este comportamento influenciado de acordo com o meio e o histórico familiar e social ao qual o sujeito está inserido, seja este vítima ou agressor. Esta violência é associada a poder, dominação e potência, a qual está intimamente ligada ao conceito de pluralidade.

O autor, ainda, caracteriza a violência em três vertentes: violência anômica, violência banal e violência totalitária. Podemos compreender que o fenômeno violência está em constante mutação, e que cada sujeito será influenciado pela diversidade de fatores ao qual estiver inserido.

Sendo assim, o comportamento e a interpretação da violência serão diferentes para cada agressor e vítima, tornando-a mais complexa e com maiores desafios para o seu controle. Vale ressaltar que, a violência não é um fenômeno da atualidade e sim histórico da nossa sociedade, fazendo com que o mesmo seja envolvido a um contexto ritualístico, que necessita ser refletido e contemplado em sua essência e temporalidade. Considerações Finais: A mulher que sofre violência psicológica, nem sempre sabe interpretar que tais comportamentos do agressor, ainda mais, se esta mulher vivencia sentimentos de humilhação, controle e de ameaças desde a sua infância, pois a mesma pode confundir violência com cuidado e preocupação. Compreender o que é violência psicológica e que ela lhe confere dor e adoecimento é um desafio. E este, torna-se ainda maior, pois não raro todo o comportamento familiar e pessoal, necessita ser revisitado, o que pode configurar ainda maior dor. Assim sendo, acreditamos que os casos de violência contra a mulher não acontecem de maneira isolada e geralmente existem traumas pregressos.  Compreender o agressor de forma integral e individual se faz necessário para discutirmos sobre as influencias, os fatores desencadeantes, os atenuantes, bem como para buscarmos uma melhor forma de abordar e tratar o agente da agressão como um problema de saúde pública.

A partir dessas reflexões questionamo-nos como será a melhor forma de abordagem terapêutica para tratar as mulheres vítimas de violência, para que o cuidado possa ser humanizado, holístico e integrativo, sendo esta a temática da próxima pesquisa desenvolvida no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Enfermagem e Saúde – NIPES/UFAM/CNPq.

 

 

 

 

 


Palavras-chave


Violência Contra a Mulher; Violência Doméstica; Saúde Pública