Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ANÁLISE DE DADOS PARA O SUS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL
Bianca Borges da Silva Leandro, Flávio Astolpho Vieira Souto Rezende

Última alteração: 2017-12-27

Resumo


Apresentação

A formação dos trabalhadores que atuam na área da saúde constitui-se um dos desafios do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde 1999, por meio da Política Nacional de Recursos Humanos em Saúde, é apontada a necessidade de uma educação crítica, autônoma e criativa para os trabalhadores dos serviços de saúde. A formação dos profissionais que atuam nas áreas de informações e registros com foco na análise de dados em saúde não foge a esse contexto. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo relatar o percurso do Curso de Atualização Profissional em Análise de Dados para o SUS (APAD- SUS) desenvolvido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) durante os anos de 2016 e 2017.

Desenvolvimento do trabalho

Trabalho elaborado em formato de narrativa de experiência. Foi realizada uma análise descritiva das fichas de inscrição dos profissionais que realizaram o curso nos anos de 2016 e 2017, complementada por uma análise qualitativa do plano pedagógico do referido curso e dos relatórios produzidos pela coordenação do curso ao final da experiência formativa.

Esta proposta formativa surgiu a partir da demanda de alunos egressos de outros cursos da EPSJV que relatavam a necessidade de se aprofundar sob aspectos específicos que subsidiassem a análise da situação de saúde de forma ágil, clara e contextualizada. Como também de próprios docentes da referida instituição que avaliaram a necessidade de se ofertar uma formação que caminhasse em sintonia com as necessidades dos serviços de saúde, orientada por um processo de autonomia e emancipação dos profissionais. Desse modo surgiu, em 2015, a formulação do projeto político-pedagógico do APAD-SUS que teve como proposta principal problematizar os temas relacionados à etapa de análise de dados com ênfase no processo de tomada de decisão.

Resultados

O curso foi estruturado com 84 horas, envolvendo aulas teóricas-práticas, distribuídas em quatro disciplinas. Nas duas primeiras, foram discutidos o histórico do SUS, seus princípios e diretrizes, a epidemiologia nos serviços de saúde, os principais sistemas de informação em saúde, a conceituação e construção de indicadores de saúde e reflexão sobre o conceito de território e conceitos básicos de geoprocessamento aplicado à saúde. Nas duas disciplinas seguintes, focou-se a prática profissional nos programas Tabnet, TabWin e Epi-Info compreendendo-os com potencialidade de serem utilizados no cotidiano dos serviços de saúde.

A metodologia utilizada no curso tem como referência as singularidades das práticas dos trabalhadores que atuam com as informações e registros em saúde, bem como as especificidades do trabalho desenvolvido nos diferentes serviços do SUS.  Os encontros presenciais são marcados pela problematização, momentos de troca entre os estudantes e docentes, oficinas de trabalho coletivo e apresentação de assuntos pertinentes ao curso. O processo educativo tem continuidade de atividades por meio de uma Comunidade Virtual via plataforma Moodle. Nela, são disponibilizados os materiais didáticos, cronogramas, avisos, atividades e fóruns, sendo um espaço mediado pelos docentes envolvidos no curso.

Nos dois anos de realização, 2016 e 2017, foram formados 43 estudantes. Por meio das fichas de inscrição, verificou-se que 58,1% (25 estudantes) mencionaram ter o nível médio e 41,9% (18 estudantes) ter também nível superior. Pode-se perceber uma combinação interessante entre profissionais de diferentes trajetórias formativas, o que potencializou a troca de saberes realizada no decorrer do curso. Vale salientar que do total, as mulheres são a maioria (72,0%, 31 estudantes). Em relação à faixa etária observa-se que a mais numerosa é a de 36 a 40 anos (25,5%).

Em relação à esfera administrativa, a maior parte dos estudantes está vinculada à esfera municipal (41,9%), seguida da federal (34,9%), estadual (9,3%), privado (2,3%) e, em 11,6% das fichas, esse dado estava em branco. No tocante ao dado em branco, deve-se destacar que alguns alunos no momento do curso estavam sem atividade de trabalho. Ainda relacionado a esse tema, a maior parte dos estudantes (53,4%) são estatutários, ou seja, com vínculo de trabalho mais sólido o que pode permitir uma maior aplicação dos conceitos e assuntos discutidos em suas atividades do trabalho. Dos demais, 14,0% são celetistas, 18,6% outros vínculos (bolsistas, residentes, estágios) e 14,0% dos dados estavam em branco.

Pode-se observar que 30,2% desenvolvem atividades relacionadas à área de vigilância em saúde, 18,6% atuam diretamente no serviço de informação e controle, 28,0% estão envolvidos com setores ligados a programas de saúde ou de atenção ao usuário dos serviços de saúde, por fim, deve-se destacar que em 20,9% dos casos esse dado não foi preenchido. Essa diversidade de atuação também foi relevante para as reflexões e discussões realizadas durante o processo formativo, tendo em vista que cada discente atuava em um ponto da rede de atenção à saúde, favorecendo o compartilhamento de experiências, saberes e práticas.

A partir da análise de um relatório elaborado pela coordenação do curso referente à percepção da turma de 2017 sobre o curso, identificaram-se duas categorias analíticas que refletem o sentido do curso para o trabalho realizado e a relevância do diálogo com distintas categorias profissionais, a saber: 1. aumento do aprendizado com a possibilidade de aplicação concreta no dia a dia do trabalho; e 2. potencialidade do diálogo interprofissional entre profissionais de distintos níveis formativos.

Em relação à primeira categoria identificada, a maior parte dos alunos relatou a pertinência da formação e das discussões vivenciadas para a qualificação e melhoria do processo de trabalho. Deve-se destacar que as problematizações realizadas durante os encontros eram contextualizadas com a realidade vivenciada no SUS. Algumas reflexões e o repensar sobre o trabalho em um processo constante de Educação Permanente em Saúde foram aspectos observados. No tocante à segunda categoria analítica identificada, notou-se que a diversidade de conhecimento presente da turma, como também a presença de trabalhadores que atuavam em distintos locais e com diferentes níveis formativos refletiram-se na possibilidade de articular e integrar diferentes olhares, em um processo constante de troca de experiências e de conhecimento do trabalho realizado pelo outro.

Ao final da realização da segunda turma, um resultado importante de ser destacado e que indica a relevância da articulação entre ensino-serviço tratou-se da efetivação de dois processos de cooperação juntos a serviços de saúde com ênfase nos conteúdos e atividades abordados no APAD-SUS.

Considerações finais

Esta experiência interprofissional mostrou-se potencial na qualificação de trabalhadores de saúde para o processo de análise de dados, sobretudo realizado de forma coletiva, revelando a possibilidade de modificar as práticas. O processo de análise de dados em saúde deve ser algo realizado por diferentes profissionais de saúde, sejam de nível médio ou superior, de forma a integrar distintos olhares. Identificou-se a necessidade das instituições formadoras e dos serviços de saúde em potencializar a construção de espaços que viabilizem a troca de experiências de diferentes trabalhadores de saúde, favorecendo o diálogo interprofissional. O APAD-SUS é uma proposta de formação profissional em constante construção, a sua estrutura é repensada a partir de cada demanda dos serviços de saúde. Mantém como orientação principal uma qualificação crítica, emancipadora, problematizadora do trabalho em saúde, com ênfase nas necessidades de saúde, defendendo a pluralidade de trabalhadores e em sintonia com a defesa da saúde enquanto direito social e com a melhoria do SUS.

Palavras-chave


Educação em Saúde; Informação em Saúde; Análise de dados; Uso da informação em saúde