Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
ASSISTÊNCIA À SAÚDE ÀS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA: Uma experiência para o futuro profissional de saúde
Veridiana Barreto Nascimento, Gabriela de Cássia Oliveira dos santos, Marcilene Batista Costa, Maria da Conceição Cavalcante Farias, Walter de Aquino Vieira Filho, Renata Simões Monteiro

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


Apresentação: Este estudo traz o relato de experiências vivenciadas por discentes, docentes e residentes da Universidade do Estado do Pará (UEPA) Campus XII – Santarém sobre os atendimentos da equipe multiprofissional realizados durante a terceira etapa do I Jogos Indígenas do Baixo Tapajós (JIBAT), no qual o objetivo foi de conhecer o modo de vida, valores e tradições dos povos indígenas; e participar diretamente na assistência, conforme os aspectos da comunicação e a necessidade de adaptações exigidas para a atuação profissional juntamente com a equipe multiprofissional. Desenvolvimento do trabalho: A experiência que será descrita ocorreu com os Indígenas na comunidade de Bragança, localizada no município de Belterra-PA, realizado no período de 03 a 05 de junho de 2016. Esta oportunidade surgiu durante a graduação, proposta pela docente do curso de enfermagem oferecida como estágio pela disciplina "Enfermagem e as populações Tradicionais da Amazônia", no 8º período do curso. Esta oportunidade empolgou a turma de graduação, pois iria contribuir consideravelmente para a formação enquanto profissionais da saúde, uma vez que poucos acadêmicos têm a chance de obter tal experiência. A viagem para a comunidade de Bragança iniciou no dia 3 de junho de 2016, com duração de 8 horas, chegando ao destino às 6 horas da manhã do dia seguinte. O meio de transporte utilizado foi barco e a equipe foi composta por seis acadêmicos (três de enfermagem, dois de fisioterapia e um de medicina), um fisioterapeuta e dois médicos. A ideia dos organizadores dos Jogos Indígenas do Tapajós – JIBAT, é que o evento seja realizado anualmente no mesmo período, nos meses de maio e junho. Nesta primeira edição, o evento contou com as seguintes modalidades: futebol, canoagem, natação, peconha (subida no açaizeiro), lança, arco e flecha, corrida de resistência, corrida de velocidade, corrida com tora e embira de guerra (cabo de guerra). No primeiro dia de disputa, a programação iniciou com um ritual de dança contemplando as quatro etnias presentes, representadas pelas cores azul, vermelho, verde, preto. Os jogos iniciaram com a modalidade natação e remo, depois cabo de guerra, peconha, corrida de velocidade, corrida de resistência e arco e flecha.  A equipe multiprofissional buscava sempre uma melhor localização para os atendimentos rápidos aos atletas. Cabe mencionar que além da equipe multiprofissional havia um ponto de apoio da equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU). No segundo dia de jogos na aldeia Bragança, houve as modalidades: arremesso de lança, logo depois a corrida com tora, na qual as toras de madeira pesavam em torno de 25 kg para as mulheres e 30 kg para os homens. Depois ocorreu o jogo de futebol, tanto feminino, quanto masculino, simultaneamente. Vale mencionar que os jogos iniciavam a 08h00min da manhã e continuavam até às 18h00min com intervalo para o almoço.  Durante os atendimentos, a equipe multiprofissional de saúde observou que as ocorrências mais comuns foram: fadiga, hipotensão postural, hipoglicemia, dores musculares e náuseas. As menos comuns foram: Entorses, traumas miotendíneos e articulares. Percebeu-se então a importância de uma equipe multiprofissional atuando durante os jogos, para um atendimento adequado e eficaz.  Os médicos atuavam na assistência com medicamentos e atendimento às escoriações e possíveis entorses, juntamente com os profissionais fisioterapeutas, onde este ultimo atuava mais especificadamente com alongamentos, possíveis entorses ou luxações. A equipe de enfermagem atuava em todos os âmbitos de apoio aos outros profissionais cuidando dos indivíduos como um todo, principalmente na prevenção de hipoglicemia, por falta de uma alimentação adequada antes das modalidades, na recuperação  de possíveis lesões, onde os participantes dos jogos não se atentavam muito ao detalhe de alongar-se e preparar-se antes das atividades e, por isso haviam intercorrências de exaustão física e fadiga. Em geral, as dificuldades em relação à atuação da equipe multiprofissional, eram diversas, incluíam: a falta de recursos materiais para a prestação da assistência qualificada (resumindo-se a gelo, massagem e manobras de conforto respiratório); a chegada ao local das provas, pois era necessário caminhar por aproximadamente 20 minutos pela floresta, da embarcação até o local das provas; além proporcionar uma atenção por longos períodos de forma continua aos jogos e aos atletas. Resultados e/ou Impactos: Enquanto acadêmicos,  residentes e docentes, estávamos motivados a conhecer uma nova cultura, observar seus valores e tradições, e principalmente, participar da assistência durante a realização dos jogos desta população, uma experiência que acrescentou muito em como indivíduos, futuros profissionais e especialistas. As dificuldades não foram empecilho para que a equipe multiprofissional atuasse da melhor forma possível no atendimento aos atletas dos jogos indígenas. As dificuldades de atuação faz com que na prática influencie no planejamento e execução das atividades, pois trabalhar de acordo com a realidade local também foi um grande desafio, levando a improvisação, exigindo dos estudantes e profissionais a necessidade de saber atuar nos diferentes cenários da prática profissional, considerando os pressupostos dos modelos clínico e epidemiológico. Ao observar a cultura, valores e tradições dos povos, notaram-se algumas manifestações culturais específicas de cada etnia como a pintura no corpo, onde os atletas possuíam sua pintura corporal representando sua aldeia como forma de expressão ou até mesmo como conservação da cultura. Foi perceptível que os atletas indígenas não se alimentavam antes das práticas e exercícios, o que resultava em hipoglicemia e náuseas durante e após as atividades. Nesse sentido cabe inferir que há um déficit no conhecimento dos mesmos a respeito de uma boa alimentação antes de qualquer exercício, alguns afirmavam ver a alimentação antes das modalidades, de forma negativa. Nesse sentido, faz-se importante uma assistência dos profissionais da saúde no que se refere à promoção e prevenção da saúde desses povos por meio da educação em saúde, como uma forma de informá-los que a alimentação antes de qualquer atividade física é essencial para o corpo e bem-estar. Alguns indígenas presentes faziam uso de vestimentas, que não as de cunho indígena, a exemplo disso era o Pajé, importante figura indígena que também era estudante de uma faculdade pública da região, que utilizava apenas o cocar e pintura pelo corpo como expressão indígena, fazendo uso de vestimentas comuns, já os outros indígenas ali presentes apenas como apreciadores dos jogos, não faziam nem uso dos acessórios indígenas. O que remete a reflexão de que os indígenas, em alguns aspectos, estão perdendo seus valores. Mas o I JBAT aconteceu com o objetivo de resgatar esses valores, as raízes, bem como resgatar as práticas indígenas que há muito não era utilizada. Considerações Finais: Diante das situações presenciadas nos jogos, percebeu-se a necessidade de uma intervenção e orientação da população quanto à importância da preparação física antes dos jogos, de uma alimentação direcionada a prática esportiva de alto rendimento, e principalmente hidratação. Além de uma qualificação profissional, a equipe deve ser sensibilizada para trabalhar com este público, levando em consideração os costumes, os rituais e as tradições que são fortemente associados à sua cultura. Relatos desta natureza são de grande valia na qualificação dos profissionais da saúde, pois atuar na atenção à saúde indígena em seu próprio habitat possui peculiaridades o que, invariavelmente, traz dificuldades ao profissional de saúde, mas, também, oferece momentos de profundo aprendizado para a sua atuação profissional, entre eles o enfermeiro, pois poucos têm a oportunidade de atuar com populações indígenas durante a sua formação acadêmica.


Palavras-chave


Experiência, Profissional, Enfermagem