Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-25
Resumo
APRESENTAÇÃO: A gravidez na adolescência tornou-se um tema de extrema relevância na realidade da saúde pública brasileira, especialmente, pelo aumento significativo de sua incidência e sua associação com a transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). O nível socioeconômico e a escolaridade são aspectos constantemente relacionados com a ocorrência da gravidez na adolescência, revelando que as classes econômicas menos favorecidas apresentam maiores indicadores deste evento. Este fato torna-se ainda mais preocupante quando a gravidez não é planejada e/ou sem apoio familiar, levando na maioria das vezes a adolescente a prática do aborto ilegal, geralmente em condições precárias, compreendendo um dos principais determinantes para os óbitos e patologias relacionadas à gestação. No que concerne a saúde dessas jovens, uma gravidez nessa fase tem maior probabilidade de ocasionar síndromes hipertensivas, partos prematuros, pré-eclâmpsia, desproporção feto-pélvica, restrição do crescimento fetal, além de problemas consequentes de abortos provocados e pela falta de subsídio necessário. Trata-se de um período da vida característico de inúmeras mudanças, as quais envolvem transformações físicas, psicológicas, biológicas e comportamentais o que pode tornar tal fase bastante conturbada decorrente das diversas descobertas e experiências, somando-se a construção da identidade e maturação sexual. Em virtude do atual cenário da gravidez na adolescência, buscou-se com este estudo, identificar o conhecimento dos adolescentes de uma escola pública do município de Santarém-PA acerca da temática, já que a gravidez na adolescência envolve inúmeros fatores que necessitam de um olhar mais atencioso dos serviços de saúde pública assim como a inserção de sua abordagem no ensino das escolas, para que os jovens tenham conhecimento sobre o assunto e sejam mais responsáveis com suas vidas e práticas sexuais, considerando que a relação sexual desprotegida não se traduz somente em uma gravidez não planejada, mas compreende também as ISTs cada vez mais frequentes e precoces nessa faixa etária. OBJETIVO: Analisar os acontecimentos e fatos presentes no cotidiano das adolescentes sobre a gravidez. MÉTODO: Participaram do estudo 18 adolescentes de uma escola pública da cidade de Santarém-Pará. A escola foi o local escolhido para a realização de atividades de educação em saúde do Projeto de Extensão Universitária “Prevenção de ISTs, aborto e gravidez na adolescência na comunidade escolar” da UEPA submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Estado do Pará (UEPA) - CAAE: 55793616.2.0000.5168. Para a coleta dos dados os pais dos adolescentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando a participação de seus filhos na pesquisa. Os resultados foram coletados por meio de um questionário estruturado, com 12 questões fechadas sobre gravidez na adolescência e suas implicações. A coleta de dados ocorreu em Junho de 2016. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: A pesquisa foi desenvolvida com 18 alunos do ensino fundamental, com faixa etária de 13 a 16 anos, 5,6% da amostra tinha 13 anos, 61,2% dos entrevistados dos corresponderam a 14 anos, as idades de 15 e 16 anos obtiveram as mesmas porcentagens (16,6%) do total dos alunos. Com relação ao gênero 33,3% dos entrevistados eram do sexo masculino, o público feminino correspondeu a 66,7% dos estudantes. A partir dos dados obtidos, observou-se que apenas 33,3% dos participantes revelaram conversar com os pais sobre assuntos relacionados ao sexo, o mesmo percentual foi obtido ao se questionar sobre quais jovens dialogavam com a família sobre assuntos relacionados ao aborto, fato este que pode comprovar a dificuldade que os pais apresentam em abordar temas relacionados tanto a sexualidade quanto a prática de atividade sexual segura. A maior parte dos alunos (88,9%) tinha conhecimento de colegas que haviam engravidado na adolescência, assim como também sabiam o quanto uma gravidez, principalmente quando não foi planejada, poderia interferir na vida dos adolesentes. Quando perguntado se eram contra a prática de abortos em casos de estupro, 66,7% dos entrevistados se posicionaram contra essa prática mesmo em situações de violência sexual. Com relação aos fatores apontados como causas dos abortos praticados no Brasil, 44,5% dos alunos revelaram não saber opinar, a vaidade ou falta de responsabilidade foi apontada por 27,7% dos entrevistados, casos de estupro foram relatados por 22,2% dos pesquisados e 5,6% dos estudantes apontaram a prática de aborto apenas aos casos em que a gravidez ocasiona risco de morte à mãe. Conforme descrito nos dados, notou-se que a maior parte dos jovens não possui as informações necessárias no que concerne aos riscos à saúde materno-fetal oriundas de uma gestação durante a adolescência, sobretudo as que ocorrem sem planejamento e apoio. Com relação ao modo como os abortos são praticados, 83,4% dos entrevistados relataram não saber como ocorre o referido ato e apenas 16,6% dos participantes afirmaram saber como se dá essa prática, este resultado reforça a necessidade de ampliar a disseminação das informações referentes as consequências de um aborto realizado em condições sanitárias precárias ou inadequadas e/ou quando realizado por pessoas não capacitadas. A importância de inserir cada vez mais informações acerca dessa temática, sobretudo no ambiente escolar, traduz-se no fato de que os adolescentes buscam respostas para as suas dúvidas em meios de comunicação como a televisão, internet, conversa com amigos, entre outros, o que pode contribuir para a transmissão de informações errôneas sobre o assunto em questão. Dos jovens entrevistados, 66,7% posicionaram-se contra a legalização do aborto no Brasil, o que confirma ser um assunto conhecido por todos como um ato ilegal em nosso país, um caso típico de controvérsia quanto ao fundamento ético; um problema, porém, de saúde pública pela frequência com que ocorre no Brasil, representando a quarta causa de morte materna, devido suas complicações. Quando perguntado sobre qual seria a idade ideal para uma gravidez, 44,6% dos pesquisados afirmaram que não existe idade ideal para esse momento, mas a faixa etária acima de 20 anos e acima de 25 anos tiveram percentuais semelhantes de 27,7% na opinião dos entrevistados. Esta concepção da maioria dos pesquisados, confirma a ideia de que não existe idade ideal para que se ocorra uma gravidez, porém tanto a mulher quanto o homem devem sentir-se preparados biologicamente, socialmente e financeiramente para essa nova etapa de suas vidas. CONSIDERAÇÕES: Esta pesquisa não foi realizada com o intuito de se apresentar soluções ou conclusões definitivas sobre gravidez na adolescência e aborto, mas delinear o panorama dos acontecimentos atuais sob uma ótica de tendências variadas acerca da temática abordada, com o intuito de facilitar uma maior aproximação entre os diferentes lineares dos estudos e as opiniões dos estudantes do ensino fundamental, alertando para o fato de que gestações no período da adolescência são de alto risco, uma vez que, estas – em sua grande maioria – ocorrem sem uma base sólida para dar suporte a adolescente sobre as mudanças advindas de uma gravidez não planejada, contribuindo para significativos percentuais de adolescentes brasileiras que morrem por ano em decorrência da prática do aborto ilegal.
Palavras-Chave: Adolescentes, Gravidez, Aborto.