Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O IMPACTO DOPROJETO VER-SUS NA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM DEFESA DO SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA¹
Thais Gomes Oliveira, Sônia Maria Lemos, Nany Camilla Sevalho Azuelo, Natália Guedes de Melo Silva, Izi Caterini Paiva Alves

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


INTRODUÇÃO: O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais abrangentes do mundo. Ele foi concebido em 1988 em conjunto com a Constituição Federal do Brasil quando, por meio desta, a saúde tornou-se um direito de todos e um dever do Estado. Contudo, somente com a Lei n° 8.080 de 19 de setembro de 1990, ganhou uma estrutura que buscou viabilizá-lo para atender universalmente a população. Para que possa operar adequadamente, vários fatores são relevantes, sendo um dos principais, profissionais com conhecimento científico, capacitados a atuar nos diversos níveis de complexidade do sistema, mas que permaneçam engajados na defesa de uma saúde pública de qualidade e com a capacidade de promover a articulação da comunidade no sistema. O Ministério da Saúde em parceria com a Rede Unida, em 2002, lançou o programa de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), com o intuito de estimular a formação de profissionais comprometidos eticamente com os princípios e diretrizes do SUS, além de conscientes do seu papel como agentes políticos sociais capazes de realizar transformações no seu meio. O projeto VER-SUS consiste de três fases: a seleção dos participantes, realizada através de questionário on-line disponível no site http://versus.otics.org; a vivência, correspondente ao período de sete dias onde os acadêmicos permanecem no município ou Estado realizando as atividades propostas pelo projeto; e a devolutiva, onde são expostas as experiências e impressões vivenciadas aos demais grupos participantes da edição. Este relato tem como objetivo expor a relevância do programa VER-SUS na formação do acadêmico em prol do SUS. DESENVOLVIMENTO: A vivência ocorreu no segundo semestre do ano letivo de 2015, mais precisamente de 8 a 15 de agosto, em um município do interior do Estado do Amazonas. A equipe era composta por seis acadêmicos, provenientes das instituições públicas de ensino do Estado, pertencentes aos cursos de enfermagem, medicina, odontologia, farmácia e saúde coletiva. Ao longo dos dias de vivência em loco, foram articuladas visitas nas instâncias de saúde disponíveis, sendo elas duas UBAS (Unidades Básicas de Atenção em Saúde), um hospital geral e um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial); além disso, também foram desenvolvidas atividades externas caracterizadas por visitas domiciliares a grávidas do pré-natal e idosos do programa hiperdia, ida a comunidades indígenas e o comunicação direta com a população do perímetro urbano em estabelecimentos públicos ou particulares. Ao final do dia, era atividade de cada aluno relatar suas experiências no portfólio pessoal e participar de uma roda de conversa com os demais integrantes objetivando a troca de percepções e conhecimentos sobre o SUS no município. RESULTADOS: A experiência VER-SUS ensejou de fato um amadurecimento de pensamento crítico-social na formação da acadêmica. A ideia de outrora estava pautada em especulações sem base científica e experiências pessoais insatisfatórias, contudo o ensino superior chamou ao conhecimento documentos que desenham a maneira ideal de funcionamento do SUS em todas as instâncias, e a chance de participar do projeto despertou a curiosidade em conhecer não por falácias, mas pela realidade o sistema que atende a população. Durante a vivência, passou-se por instituições dos níveis primário e secundário. Observou-se que, em sua maioria, a instituição do nível secundário possuía um aparato tecnológico mais completo e satisfatório, com um quadro de profissionais mais completo e com um abastecimento medicamentoso atualizado, enquanto que as instituições da atenção primária possuíam um arsenal tecnológico inferior e encontravam-se temporariamente privadas de algumas medicações, todavia os profissionais que ali estavam demonstraram habilidades organizacionais de suma importância para compensar as dificuldades e continuar levando um atendimento de saúde engajado na busca por qualidade. Quanto à saúde mental, o acesso ao documento da reforma psiquiátrica e as aulas expositivas não tinham sido suficientes para desconstruir uma concepção enraizada do modelo manicomial que estava posta na mente da acadêmica, contudo o contato com o espaço do CAPS observando e participando da nova forma de fazer saúde mental incentivou uma reestruturação de concepção para a aluna, assim como também evidenciou uma evolução sociocultural da importância dada pela população em si ao cuidado com a saúde psicossocial também das populações tradicionais. Outro ponto formativo valoroso foi à oportunidade de estabelecer uma comunicação direta com a população fosse ela do perímetro urbano fosse do perímetro rural, com a comunidade indígena, pois este contato ofertou uma verdadeira articulação entre o que é visto em sala de aula, com a literatura de apoio, e o que é de fato entregue a população. Mesmo as críticas mais negativas direcionadas a gestão do município e estabelecimentos de saúde serviram de embasamento e instigação no processo de amadurecimento do pensamento crítico e de discurso da acadêmica. Portanto, ao fim da vivência, a concepção de SUS nos interiores já não estava mais baseada em teoria, mas sim em vivência prática realística, onde ficou claro as imperfeições do sistema, mas também se observou que um trabalho bem feito dos profissionais somado com a participação ativa da população através da fiscalização e cobranças aos gestores mantém um bom funcionamento permitindo também a visão de que crescer sempre será necessário, mas que apenas a força do conjunto tem poder para estimular isto. O SUS funciona sim, para aqueles que estão dispostos a contribuir e lutar sempre para garantir isso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O projeto VER- SUS provou ser de extrema relevância para a formação dos acadêmicos, pois além de viabilizar a entrada e o contato direto com as instalações, maquinários e profissionais, também proporciona aos estudantes uma articulação direta com os principais interessados no atendimento de qualidade, os usuários. Com isso, há um estímulo da construção de uma visão própria acerca do SUS sem as interferências de informações distorcidas, bem como o incentivo em prol do amadurecimento do pensamento crítico do acadêmico possibilitando a desconstrução de preconceitos e imperícias. A marca que fica da vivência é que, mesmo com as dificuldades encontradas, os profissionais que lutam e defendem o sistema são importantes agentes transformadores e, em conjunto com a população que busca ativamente melhorias, são os grandes responsáveis pelo funcionamento universal do sistema de saúde.