Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-21
Resumo
APRESENTAÇÃO: A tuberculose é um problema de ordem mundial, atingindo principalmente os países em desenvolvimento, levando de 1,2 a 1,5 milhões de mortes ao ano. Mesmo sendo uma doença que requer de um diagnóstico, tratamento e acompanhamento na Atenção Primária à Saúde, a Atenção Terciária ainda acaba sendo a porta de entrada de muitos pacientes bacilíferos ou sintomáticos respiratórios, ou seja, em plena fase de transmissão da doença. A existência da tuberculose nosocomial não é algo novo, este assunto vem sendo levantado desde a década de 80 e, vem se tornando preocupante a cada ano, principalmente com o aumento das coinfecções por HIV, aparecimento da tuberculose multirresistente e, observa-se que a falta de estudos direcionados ao assunto é alarmante, visto que, comprovadamente os profissionais de saúde mais especificamente da área de enfermagem estão 20 vezes mais suscetíveis a desenvolver a doença do que o restante da população, principalmente em países que apresentam altos índices epidemiológicos da tuberculose, como o Brasil. Outro fator contribuinte do cenário epidemiológico da tuberculose ocupacional é o atraso no diagnóstico da doença ou mesmo na hipótese diagnóstica da mesma, principalmente no ambiente hospitalar, atrasando as iniciativas de medidas preventivas e biossegurança, aumentando assim, o risco e tempo de exposição dos trabalhadores ao agente causador da doença. Componentes de ordem estrutural também são elementos de agravação do cenário e, é comum a inexistência de exaustores específicos para o manejo correto dos pacientes em isolamento em tratamento intra-hospitalar. OBJETIVO: Revisar a literatura científica nacional e internacional sobre a tuberculose ocupacional intra-hospitalar e a existência de medidas preventivas na Atenção Terciária. DESENVOLVIMENTO: Tratou-se de uma Revisão Integrativa da Literatura com a seguinte questão norteadora: “Qual a produção científica sobre a tuberculose ocupacional em âmbito hospitalar e qual a existência de recomendações de prevenção dentro dos hospitais?”. Utilizou-se a base de dados LILACS e, para a seleção dos artigos consultou-se os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS), sendo utilizados: tuberculose pulmonar, risco ocupacional, prevenção e controle e, seus correspondentes no idioma inglês, com operador boleano “and”. Os critérios de inclusão foram artigos que abordassem a temática da tuberculose pulmonar, riscos ocupacionais na área da saúde, prevenção e controle da TB em âmbito hospitalar, nacionais e internacionais, nos idiomas português, inglês e espanhol, dos últimos cinco anos, e os de exclusão foram artigos referentes à TB extra pulmonar e com enfoque nos pacientes, além dos artigos não disponíveis na íntegra e publicações secundárias. RESULTADOS: A amostra final resultou em oito artigos originais, sendo todos correspondentes à base de dados LILACS. Os artigos foram divididos em duas categorias temáticas: “contágio por tuberculose ocupacional em unidades de atendimento hospitalar” e “recomendações de prevenção da tuberculose adotadas por unidades hospitalares”. Destaca-se a escassez de produções científicas atuais quando se fala em perfil epidemiológico dos profissionais afetados, visto que a tuberculose continua sendo uma doença negligenciada, em especial quando acomete os trabalhadores de saúde. Em um estudo descritivo e retrospectivo de 2002 a 2006, foram notificados 25 casos de TB nosocomial em um Hospital Universitário, sendo 32% técnicos de enfermagem, 16% médicos e 12% enfermeiros. Dos casos reportados, 96% foram constatados como sendo casos novos e apenas 4% como reincidência. O teste de sorologia para HIV foi realizado apenas em 84% dos trabalhadores, sendo 9,5% positivos para o vírus. Foi afirmado por 33% dos profissionais o contato prévio com pacientes sintomáticos respiratórios em ambiente hospitalar e apenas 1,5% tendo contatos na comunidade. A partir da análise das produções, pode-se observar a maior prevalência da transmissão entre os profissionais de enfermagem e medicina, respectivamente e diversos aspectos podem ser considerados com estes achados, tais como o maior tempo de exposição ao agente devido a uma maior aproximação com os pacientes em unidades hospitalares, o manejo correto dos pacientes e principalmente, o uso ativo ou não das medidas de biossegurança. Um estudo realizado em 2014 com 13 instituições de diversos estados brasileiros observou que apenas 46,2% das unidades realizavam capacitação dos profissionais acerca das medidas de prevenção da tuberculose. Em 53% das instituições foi afirmada a existência de exaustores HEPA em locais adequados. Com relação a precauções por aerossóis, 100% das instituições afirmaram disponibilizar máscaras N95 para seus funcionários, em contrapartida, 92,3% confirmaram fazer uso da reutilização das mesmas. Com relação a exames periódicos de teste tuberculínico em seus profissionais, 62,9% das instituições afirmaram não o realizar. Uma pesquisa quase-experimental realizada em um hospital brasileiro observou que há lacunas relacionadas aos conhecimentos acerca da tuberculose em todas as categorias profissionais, principalmente em tomadas de decisão na prática hospitalar e concluiu, após intervenções educativas, que medidas simples como distribuição de panfletos informativos e discussão de caso-problema se tornam muito efetivas na disseminação do conhecimento e obtiveram interesse significativo pela população alvo do estudo. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Observou-se que as ações de prevenção e controle tomadas por algumas instituições brasileiras estão caminhando para uma maior preocupação com a disseminação da tuberculose ocupacional, mas essas medidas ainda não são suficientes e possuem pontos a serem trabalhados, como a capacitação dos profissionais que não é realizada na maioria das unidades pesquisada bem como no melhoramento de estratégias já implantadas, visto que quase 70% das unidades afirmaram possuir projetos relacionados à tuberculose. Ainda assim, a maior fragilidade é relacionada à questão da infraestrutura da unidade, algo que requer mais tempo e investimento. Além disso, é necessário mais do que uma comoção somente institucional, como também ações individuais ativas por parte de todos os profissionais de saúde. O índice que contágio por tuberculose intra-hospitalar, como se pode observar, é multifatorial e pode sofrer mudanças devido ao cenário epidemiológico de cada região. Quando consideramos o Brasil como uma área endêmica, observamos a necessidade de ações conjuntas pessoais, institucionais e governamentais, visto que mesmo sendo preconizada a formação de comissões de biossegurança relacionadas à tuberculose em todos as instituições que prestam serviços de saúde, ainda não existem normas regulamentadas que orientem e direcionem os gestores quanto a esta temática na Atenção Terciária.