Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Grupo de Gestantes como uma estratégia de fortalecimento do vínculo mamãe-bebê: Relato de experiência de um projeto de extensão da Universidade Federal do Amazonas.
Caroline Mota de Souza, Laís Mirelle da Silva Brasil, Rachel Pereira Ferreira, Fabiana Manica Martins

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação:

Um dos pontos-chave dentro do Sistema Único de Saúde é a Promoção em Saúde. Define-se promoção em saúde como uma combinação de apoios educacionais e ambientais que visam a atingir ações e condições de vida conducentes à saúde.

Acredita-se que ao intervir, através dos projetos de extensão universitária, com atividades além das consultas com a equipe de pré-natal, podemos alcançar todos os medos, dúvidas e ansiedades próprias do período gestacional e puerperal, fomentando a relação mãe-bebê e também entre as usuárias da unidade e seus trabalhadores, bem como os estudantes participantes da ação.

Dessa forma, procurou-se promover a troca de conhecimentos e experiências em um ambiente acolhedor, bem como levantar reflexões sobre este período tão peculiar na vida de uma mulher.  Além disso, o projeto de extensão tinha por objetivo propor a arte como estratégia não só de diálogo sobre saúde no período gestacional e perinatal, mas também como forma de desenvolver o protagonismo das gestantes em suas famílias e comunidade, assim como demonstrar técnicas artísticas diferentes para que elas pudessem reproduzir e produzir o enxoval dos bebês, estabelecendo o cuidado mãe-bebê e promovendo saúde materno-infantil.

Outros objetivos do projeto eram: promover atividades de promoção à saúde, principalmente voltadas às demandas das gestantes participantes e sensibilizar a equipe de saúde da UBS sobre a importância do grupo de gestantes, trocando conhecimentos sobre esta ferramenta e seu papel na promoção de saúde.

Este trabalho tem por objetivo compartilhar as experiências vividas e sentidas por acadêmicos de medicina numa UBS de Manaus através do projeto de extensão “o que esperar quando se espera? Promovendo o cuidado mamãe e bebê através do grupo de gestantes” com grávidas em processo de pré-natal, bem como das gestantes participantes e os resultados obtidos no projeto.

Desenvolvimento do trabalho:

As atividades foram realizadas entre fevereiro de 2016 e fevereiro de 2017 e foram divididas em dois momentos: o primeiro, iniciado em fevereiro de 2016, com as acadêmicas e professora envolvidas, profissionais e gestores de uma UBS na Zona Norte de Manaus, a fim de conhecer o espaço físico da unidade e demonstrar a importância do grupo de gestantes. Nesse período também foram realizadas reuniões formativas com informações baseadas em revisões bibliográficas, com momentos para elaboração de materiais e temas a serem discutidos no grupo de grávidas, com base nas principais demandas das grávidas da UBS, discutidas com a gestora e profissionais.

No segundo momento, iniciado em maio de 2016, foram realizadas as ações de fato. As gestantes foram convidadas a participar dos encontros enquanto esperavam para suas consultas de pré-natal, duas semanas antes do início, bem como pelas agentes de saúde e através de cartazes espalhados pela unidade. Os grupos, geralmente com seis mulheres, foram realizados no auditório da própria UBS, nas tardes de quarta-feira. As acadêmicas atuavam abordando os temas pré-definidos em cronograma de forma criativa, através de slides, filmes e folders, bem como metodologias ativas como tempestade de ideias, Rodas de Conversa e Círculos de Cultura (metodologia freireana). Num segundo momento do encontro as professoras orientadoras, junto as alunas promoviam as atividades de arte, onde as gestantes aprendiam técnicas de artesanato como crochê, patchwork, pintura, decoupagem e costura, bem como sua aplicabilidade. As participantes produziam suas próprias criações, que poderiam ser utilizadas como base para confecção de itens de decoração e enxoval do bebê. Os encontros eram realizados uma vez por semana, às quartas feiras, com duração de 50 minutos, aproximadamente. Em cada dia eram realizadas uma metodologia e uma técnica de artesanato diferente, que era aprimorada no encontro seguinte, no qual as gestantes traziam também suas produções da última semana.

 

Resultados e/ou impactos:

Com as atividades, era esperado que se pudesse discutir as questões principais de saúde das grávidas, tanto com a gestão da UBS quanto com as usuárias, acolhendo-as na unidade e despertando nelas o interesse na participação na efetivação do SUS, além de criar um espaço para ouvir suas demandas, dúvidas e aflições. Além disso, conseguiu-se potencializar o vínculo mãe-bebê através da arteterapia, com a manifestação dos sentimentos, mesmo os negativos e os que ficavam escondidos, ao longo da gravidez, através da arte.

As alunas participantes puderam entrar em contato com as demandas reais das gestantes, confrontando a teoria apresentada nas aulas na universidade, bem como vivenciar a troca de conhecimentos com as gestantes. Além disso, as acadêmicas conseguiram experimentar novos instrumentos para promover e fazer saúde dentro da unidade básica de saúde, com enfoque na saúde materno-infantil, de forma a sair do consultório médico e entrar em contato mais próximo com as gestantes participantes.

As usuárias participantes da ação não tinham nenhum contato prévio com as técnicas de artesanato e foram aprendendo com as professoras coordenadoras as técnicas básicas. Logo todas já tinham domínio e puderam confeccionar peças do enxoval dos seus bebês, lembranças do chá de bebê, decoração para casa e até mesmo colocar à venda seus produtos, de forma a complementar na renda familiar.

Um fato relevante foi o aumento da autoestima das mesmas e seu protagonismo através da expressão artística. Elas comentaram, ao final das ações, que passavam muito tempo ociosas em suas casas e que depois do grupo conseguiram encontrar uma forma de expressarem-se e encontrar uma ocupação. Algumas gestantes relataram também que conseguiram assumir um papel de liderança no núcleo familiar, através das vendas de suas criações. Isso tornou não só o vínculo mãe-bebê mais estreito, mas também promoveu um momento de autodescoberta e amor próprio.

O vínculo entre elas mesmas e entre a equipe se manteve com algumas mesmo após o término das atividades práticas, já que o contato através das redes sociais foi continuado. As mesmas sentiram confiança na equipe do projeto para tirar dúvidas sobre os cuidados com o recém-nascido, bem como trocam ideias sobre técnicas e expõem seus trabalhos, formando laços de amizade e confiança com as alunas e professoras participantes.

Outros dois resultados esperados ao final da ação eram que as gestantes pudessem ter maior adesão ao parto natural e ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses, ao realizar debates e rodas de conversa sobre os temas. Todas as gestantes tiveram seus filhos por parto natural e estão amamentando de forma exclusiva, conforme foi relatado pelas próprias.

Considerações finais.

O grupo de gestantes é uma estratégia pouco utilizada, em que os profissionais da área da saúde têm a oportunidade de desenvolver atividades que extrapolam o cuidado, como a educação em saúde, auxiliando na prevenção de doenças e na promoção da saúde. A sala de espera se baseou nesta forma de interação junto a arte para formar o vínculo entre mãe e bebê e tornar os momentos terapêuticos entre as elas, além de fortalecer o vínculo com a equipe. Acreditamos que essa estratégia de cuidado possibilitou atender de forma dinâmica as demandas apresentadas pelas grávidas. A troca de experiências foi facilitada e extremamente benéfica para ambas as partes, pois as experiências e conhecimentos prévios de cada uma das participantes foram compartilhadas em um ambiente favorável a discussões e construções de arte com saúde.

 


Palavras-chave


Grupo de gestantes; saúde materno-infantil; extensão universitária