Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
As reentrâncias das Redes de Atenção à Saúde: os significados produzidos pelo trabalhadores
Yane Carmem Ferreira Brito, Jordana Rodrigues Moreira, Suellen Silva Vaz, Karla Cavalcante Mesquita, Ilse Maria Tigre de Arruda Leitão, Maria Salete Bessa Jorge

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


APRESENTAÇÃO: As Redes de Atenção à Saúde (RAS) surgem com a proposta de desenvolvimento de diálogos entre os diversos dispositivos existentes do território, o qual estão submersos em singularidades. As RAS emergem como proposta que deve conter serviços organizados em níveis de complexidade tecnológica, na qual se estabelecem suas ações e seus serviços, permitindo satisfazer às necessidades da pessoa no cuidado com a sua saúde. Apesar de todas essas características que demonstram a potencialidade do trabalho em rede ainda é notório a dificuldade de articulação entre os diversos dispositivos e essas barreiras são de diversas ordens: políticas, sociais, entre outras. As barreiras de ordem políticas trazem em seu cerne a precarização dos vínculos empregatícios, em períodos preestabelecidos (mudança de governo) os profissionais são retirados de suas funções e essa renovação rompe os “velhos” vínculos mantenedores daquela rede. Por sua vez, o social está intrinsecamente ligado ao estabelecimento de vínculos para além do contexto de rede, é no seio social que se estabelecem redes informais, as quais são potencializam as ações de cuidado. Para a efetivação das redes se faz necessário que os trabalhadores estejam imbricados em todo esse processo e sintam-se mais dos partícipes desse processo, eles sejam o processo. Assim, objetivou-se identificar os significados atribuídos pelos trabalhadores de saúde que compõem a equipe saúde da família às Redes de Atenção à Saúde. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, recorte do projeto guarda-chuva intitulado “Gestão em Redes Compartilhadas: espaços de tecnologia e inovação para o cuidado na atenção primária em saúde”. O estudo foi realizado no município de Fortaleza, em duas unidades de Atenção Primária à Saúde do distrito de saúde da regional IV.  A coleta de dados abrangeu o mês de novembro de 2017. As unidades selecionadas foram: Unidade de Atenção Primária à Saúde Gothardo Peixoto e Unidade de Atenção Primária à Saúde Dr. Luís Costa. Os participantes do estudo foram os trabalhadores da saúde que compõem a equipe da Estratégia Saúde da Família com maior número de famílias cadastradas de cada unidade de Atenção Primária à Saúde. Os participantes foram convidados a participar da pesquisa com prévia orientação sobre seus objetivos e agendamentos. Os critérios de inclusão serão: trabalhar na unidade há, pelo menos, um ano. E como critérios de exclusão serão adotados: trabalhadores em afastamento legal de trabalho, em período de férias ou não forem encontrados na unidade durante o período da coleta. Foi adotado um roteiro de entrevista semi-estruturada. A técnica utilizada foi a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2010). Para garantir o anonimato dos entrevistados, os participantes foram codificados com “TEC”, o técnico de enfermagem, “ACS”, o agente comunitário de saúde, “ENF”, o enfermeiro e “MED”, o médico, seguido de numeral arábico conforme a ordem em que serão entrevistados. O estudo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará e da Coordenadoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde de Fortaleza, tendo aprovação e CAAE: 53417616.0.0000.5534. RESULTADOS: Participaram do estudo 12 trabalhadores de saúde. A predominância de trabalhadores de saúde é do sexo feminino (11) e somente um trabalhador de saúde do sexo masculino. As faixas de idade foram classificadas com intervalos de 15 anos. Entre 25 e 40 anos, são dois trabalhadores de saúde e entre 41 e 60, dez. Com relação à formação, nove são agentes comunitários de saúde, dois são técnicos de enfermagem e um é enfermeiro. Portanto, 75% dos participantes são agentes comunitários de saúde. Oito dos trabalhadores de saúde trabalham na Unidade Primária à Saúde entre dois a cinco anos, e quatro trabalham a mais de cinco anos. As interlocuções resultantes das entrevistas semi-estruturadas dizem respeito às percepções dos trabalhadores de saúde das Redes de Atenção à Saúde resultando em uma categoria temática: As Redes de significados ou os significados das redes? Reuniram 14 unidades de contexto, que agrupam falas sobre os significados atribuídos pelos trabalhadores de saúde as RAS. A maioria dos participantes da pesquisa não conseguiram definir o conceito da RAS corretamente, gerando significados bem diferentes do conceito da teoria. Nas falas a seguir, percebe-se claramente as desconexões que os participantes fazem do real significado das redes: “Redes de Atenção à Saúde é a primária, é a rede que você procura primeiro. Você vai, está sentindo uma febre, uma gripe, uma coisa mais leve, você procura um posto de saúde, atenção primária, é o primeiro atendimento” (ACS 3) e  “É quando você procura na unidade as suas necessidades básicas, por exemplo, um clínico, uma prevenção. Quando você chega na unidade e você encontra essas suas necessidades” (TE 2). Fica evidente que participantes das RAS não sabem o que elas são, quais são seus significados, e possivelmente não conseguem efetivar a rede por não a conhecer em seus reais conceitos. Para outros trabalhadores, os significados não são tão claros, mas também não são tão desconexos como outros participantes. Para esses, pode-se resumir a rede como um “conjunto de unidades”: “Para mim Rede de Atenção são o conjunto de postos, hospitais, clínicas que atendem a população em geral” (ACS 4) e “Rede de Atenção eu entendo que é todo o conjunto que existe, que presta assistência a população” (ACS 5). Houve ainda um participantes que conceituou corretamente as RAS, e talvez explicou o motivo de muitos trabalhadores desconhecerem as RAS em seu significado mais profundo, na teoria a RAS é uma coisa, mas na prática é outro: “A Rede, pela minha experiência de SUS, a teoria não condiz com a prática, mas na teoria é como tivesse outros locais de apoio ao programa saúde da família, no qual a gente teria uma referência e contra-referência, seria como se tivesse um cuidado continuado, partiria da atenção básica para esses outros locais, que no caso, seriam, serviços secundários e terciários, as ONGs, na teoria” (ENF 1). CONSIDERAÇÕES FINAIS:  Os achados encontrados mostram que os trabalhadores de saúde não compreendem os significados das Redes de Atenção à Saúde, gerando vários outros significados para elas que não são os legítimos significados, comprometendo toda a operacionalização das RAS, deixando de ser um potencializador do serviço e passando a ser mais um complicador do sistema de saúde.



Palavras-chave


Redes de Atenção à Saúde; Atenção Primária à Saúde; Sistema Único de Saúde