Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ANÁLISE DE INFORMAÇÕES E GESTÃO DE UMA ÁREA PROGRAMÁTICA, RJ, BRASIL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Lucas Gonçalves, Mary Ann Freire, Regina Agonigi

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação:

O uso da tecnologia está inserido em muitos campos da sociedade, alterando relações pessoais e profissionais. No âmbito da saúde, as barreiras fazem com que a implementação ocorra de forma lenta e gradual, ainda sendo um setor em que a tecnologia tende avançar cada vez mais nas diversas complexidades da assistência.
O setor saúde vive uma crise na forma de se produzir saúde, induzindo ainda o modelo produtor de procedimentos, ou modelo médico hegemônico. Para se repensar novas modelagens assistenciais, assentadas em diretrizes como a integralidade do cuidado, há que se aprofundar o debate sob novos fundamentos teóricos, particularmente sobre a natureza do processo de trabalho, sua micropolítica e importância na compreensão da organização da assistência à saúde. As lógicas que se observam na construção dos sistemas de informações (SIS’s) são as mesmas reproduzidas na maioria dos serviços de saúde, como também na formalidade das redes de atenção.
Este estudo teve como objetivo compreender a lógica existente na produção, fluxo e análise dos dados que alimentam os SIS’s de uma Coordenação de Área do município do RJ.

Desenvolvimento
:

Configurado como um relato de Experiência, através do desenvolvimento de um estudo descritivo, de abordagem crítico-reflexivo, a partir da proposta de imersão no campo da Gestão em Saúde, como possibilidade de ampliar as experiências acadêmicas e de aprofundar os conhecimentos no campo da pesquisa.

O local da experiência foi a Divisão de Informações, Controle e Avaliação (DICA), da Área Programática (AP) 2.1, do município do Rio de Janeiro. A divisão fica localizada na Coordenação de Área Programática (CAP) 2.1, situada no bairro de Botafogo.

A vivência teve início em maio de 2017, com duração de quatro meses, não se restringindo apenas à divisão, e sim, a experiência viva do acompanhamento da captação e análise de informações, além de reuniões locais com gestores de unidades.

Resultados:

A experiência evidenciou certo afastamento entre nível da gestão e os profissionais das unidades de Atenção Primária à Saúde. A DICA possui uma agenda para reuniões com os gestores e profissionais das unidades, além de encontros extraordinários a partir de demandas sinalizadas. Para pré-determinar tais encontros, há uma grande dificuldade em conciliar as agendas de todos os profissionais envolvidos, pelo número limitado de profissionais na gestão e por afetar a rotina das unidades com uma reunião geral.
Os encontros são limitados e não possuem uma ação resolutiva total, ficando claro pela recorrência de erros mesmo após a tentativa de agregar normas e da renovação de algumas estratégias. O encontro é fundamental para analisar a realidade local da unidade, as características dos profissionais e a realidade da população da área em que a unidade é responsável. As variáveis frias e objetivas ocultam os contrastes entre regiões de uma mesma AP e, por isso, o papel participativo da gestão deve ser priorizado.
Um encontro da divisão com um Centro Municipal de Saúde (CMS) mostrou como a estratégia do encontro é valorizada pelos profissionais das equipes. Com uma simples palestra sobre produção e algumas soluções para problemas da rotina da unidade, os profissionais se mostraram empolgados para aderir novas práticas de registro e tornar os indicadores mais condizentes com o esforço diário de uma microrregião marcada por grandes vulnerabilidades. Além disso, os profissionais ainda ficaram surpresos com a demonstração dos dados referentes a produtividade das equipes, não condizentes com a prestação de serviços. A troca de experiências e saberes entre profissionais de diversas formações tornou o ambiente mais múltiplo e dinâmico, pilar da Atenção Básica.
O preenchimento do prontuário eletrônico pelos profissionais é alvo de muitas críticas pelo nível central de gestão. Há perdas expressivas relativas a dados e produção porque as informações não são compatíveis com o esperado. Uma das estratégias adotadas para melhorar registro profissional e mitigar a carência de conhecimentos específicos é a confecção de instrutivos para todos os profissionais de saúde das unidades. Os instrutivos são didáticos e demonstram o passo a passo de como realizar o registro a partir das situações da rotina dos sujeitos da unidade.
A DICA tem papel importante em reuniões com a empresa responsável pelo prontuário eletrônico implementado nas unidades de saúde e possui papel esssencial na cadeia de informações geradas. Afinal, a produção dos profissionais, em sua grande maioria, é convertida automaticamente das ações registradas no sistema, gerando consolidados que servem de base para análise de diversos setores da SMS (a análise é feita nas Coordenações das Áreas Programáticas e no nível Central).
As mudanças no prontuário eletrônico ocorrem em prol de uma melhora na rotina da atuação dos profissionais, sendo requisitadas por sugestões encaminhadas para a gestão. Além disso, alterações são realizadas para a otimização da análise dos dados gerados. Isso só se consolida quando os sistemas do prontuário eletrônico são capazes de associar a funcionalidade desejada com a operacionalização do próprio sistema.
Os SIS’s funcionam ainda como ferramentas que contribuem para a “justificativa” do repasse de verbas do setor público para as Organizações Sociais de Saúde que prestam serviços para a Rede de atenção em saúde (RAS), funcionando, assim, como potenciais avaliadores do investimento. Os dados extraídos em consolidados pelo prontuário eletrônico são apenas um dos exemplos que podemos citar. A real importância do preenchimento das informações possui caráter subentendido para boa parte dos profissionais e, talvez por isso, a cobrança da gestão não seja incorporada com potência de transformação na reestruturação dos processos de trabalho na prática profissional diária.
Ficou claro como os indicadores de saúde são as bases de relação entre a OS, gestão da secretaria de saúde e profissionais nas unidades. As variáveis são um dos pilares do atual contrato de gestão municipal e são separadas para contemplar a OSS, unidade de saúde e equipes de saúde. Tais contratos apontam uma prévia do alcance das produtividades estabelecidas como metas a serem batidas, sendo acompanhadas continuamente pela CAP.
O não alcance das metas gera uma atenção especial dos gestores e uma busca dos aspectos que foram determinantes para a queda de produção assistencial e dos resultados evidenciados. As metas não contemplam todos os aspectos objetivos e subjetivos da produção de cuidado por parte das equipes de saúde, logo, a avaliação se torna limitada e insuficiente

Considerações finais:

A experiência evidenciou o afastamento da divisão e suas limitações expressas nas ações majoritariamente administrativas. A valorização da estratégia de educação permanente é um fator importante para as desejadas mudanças no processo de trabalho, no fazer e no saber.
Por fim, as informações, carregadas de objetividade, não contemplam a totalidade da produção de cuidado, seus aspectos subjetivos e a inserção no território, afetando o planejamento da assistência à saúde. As práticas de gestão se tornam limitadas e não contemplam o planejamento ideal para uma melhor prática de prevenção, promoção e recuperação da saúde.

Palavras-chave


Gestão em Saúde; Sistemas de Informação em Saúde; Vigilância em Saúde Pública