Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
VULNERABILIDADE DE MULHERES QUILOMBOLAS DO RIO TROMBETAS (PA) ÀS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS/HIV/AIDS
Veridiana Barreto Nascimento, Suely Itsuko Ciosak, Jéssica Samara dos Santos Oliveira, Lays Oliveira Bezerra, Sheyla Mara Silva de oliveira, Nádia Vicência do Nascimento Martins, Lucia Yasuko Izumi Nichiata, Rair Silvio Alves Saraiva

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


Apresentação: As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) ainda são elencadas como um problema de Saúde Pública, que atinge uma diversidade de pessoas em todo o mundo, mediante a pluralidade nas formas de transmissão do patógeno. O ato sexual desprotegido, o compartilhamento de seringas para o uso de drogas e o contato direto com secreções e fluídos sanguíneos estão entre as formas mais significativas de contrair tais infecções. A população feminina é a mais vulnerável às IST/HIV/aids, devido à suscetibilidade biológica e à reduzida autonomia sexual, sendo acentuada pela vulnerabilidade individual, social e programática na atualidade. As transformações no perfil de acometimento das IST/HIV/aids com o processo de interiorização, pauperização e feminização faz com que populações antes não atingidas, como as remanescentes de quilombos, deparem-se com condições e situações de desvantagem social, acentuadas pelas disparidades regionais, que obstacularizam a construção de respostas de combate à epidemia, evidenciando sua condição de marginalização em relação à maioria das Políticas Públicas de Saúde. Objetivo: Identificar e analisar as vulnerabilidades de mulheres quilombolas do Rio Trombetas (PA) para as IST/HIV/aids. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, prospectivo, transversal com abordagem quantitativa. A coleta de dados deu-se por meio de entrevista individual realizada no domicílio, a partir de um questionário semiestruturado, após aprovação do Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da USP, sob o parecer: 1.667.309. Para a análise dos resultados foi adotado como referencial o conceito de vulnerabilidade. Esta pesquisa foi realizada em oito comunidades quilombolas do alto Trombetas, localizadas no município de Oriximiná, região Oeste do Estado do Pará. Resultados: Participaram do estudo 139 mulheres, todas se autodeclaram negras (63,3%) ou pardas (36,7%), a idade das pesquisadas compreendeu entre 16 e 55 anos, (34,5%) possuíam o ensino fundamental completo, (30,9%) o ensino médio e (4,3%) o ensino superior. Quanto ao estado civil, 69,1% estavam em união estável ou casada, 28,1% solteiras. Em relação à religião, 73,4% eram católicas e 26,6% evangélicas. Das 139, 38,1% tinham emprego fixo, sendo assalariadas, possuíam renda individual menor que um salário mínimo (60,4%) e 61,9% não apresentavam renda fixa, dependiam do trabalho da agricultura, do artesanato ou da renda do companheiro. O tipo de moradia predominante foi a de madeira (48,9%), com menos de três cômodos (56,8%), com água para consumo oriunda do abastecimento comunitário (61,2%). O celular foi o meio de comunicação mais utilizado (43,0%). A faixa etária da menarca foi de 11 a 14 anos (79,8%), do primeiro coito de 15 a 17 anos (46,0%), 71,9% já tinham realizado o exame de PCCU, 56,8% já haviam apresentado sinais de IST, como corrimento (32,4%) e dor pélvica (30,9%). O número de parceiro sexual nos últimos doze meses foi de um a dois parceiros (79,1%), o uso do preservativo masculino entre as casadas foi de apenas 16,7% e do feminino de 13,5%, entre os motivos para o não uso preservativo feminino está a indisponibilidade (52,5%). Quanto aos saberes sobre os IST/HIV/aids, encontramos que 69,1% já haviam recebido informações, sendo que 55,4% sabiam o que são IST, 80,6% que o uso da camisinha é um meio de prevenção, porém, 18,0% informaram não saber acerca da temática. Para 43,0% a relação sexual sem proteção é uma forma de contrair as IST/HIV/aids. 44,7% consideram que existe risco individual para contrair uma IST/HIV/aids e que a infidelidade do parceiro (45,2%) contribui para o risco. Apenas 8,1% classificaram o risco como alto e 64,6% como baixo e ainda 9,6% asseguram não apresentar risco nenhum para contrair uma IST/HIV/aids. Em relação ao conhecimento sobre a aids, 84,3% responderam que é “Doença que destrói o sistema de defesa do organismo causando a morte” e 40,3% não têm conhecimento sobre aids, 87,8% acreditam que a doença é transmitida através da relação sexual sem camisinha, 82,8% responderam que as secreções corpóreas (sangue, leite materno e sêmen) contêm o vírus HIV, porém 64,1% ainda acreditam que a picada de insetos transmite a aids. No que concerne a realização do teste anti-HIV, 74,1% já tinham feito em algum período, sendo que 89,3% realizaram no serviço público na cidade. Não há UBS nas comunidades e a conduta em situação de enfermidade é a de utilizar remédios caseiros (58,3%). Quanto ao enfrentamento das mulheres quilombolas, verificou-se que frente às limitações apontadas nas dimensões individual, social e programática o processo de enfrentamento é inexistente, mostrando quão vulneráveis e suscetíveis essas mulheres estão frente às IST/HIV/aids. Considerações Finais: Diante dos resultados encontrados, o principal desafio é traduzir as soluções para a superação dos diferentes contextos de vulnerabilidade das mulheres quilombolas às IST HIV/aids, implementando políticas efetivas e ações concretas que assegurem o acesso aos programas de promoção e prevenção, disponíveis no sistema de saúde, com garantia de assistência holística e integral para a saúde da mulher. Estudos nas áreas de IST/HIV/aids contemplando a vulnerabilidade das populações, somados ao processo de interiorização e pauperização, favorecem a resolução de problemas como a falta de serviços e ações de saúde, assim como são importantes instrumentos para mapear as reais necessidades e expectativas deste grupo, que se caracteriza por possuir crenças e culturas próprias e estar em um contexto geográfico diferenciado. Ao estudar a vulnerabilidade de mulheres quilombolas às IST/HIV/aids foi possível analisar o papel dessa mulher enquanto sujeito ativo no processo de promoção da saúde, tanto a nível individual e social, como no programático, uma vez que, de posse de condições de educação e de saúde, a mesma possa elaborar representações que orientem o seu comportamento, seus conhecimentos e suas práticas, que a torne menos vulnerável às IST/HIV/aids, transformando futuras gerações para o seu enfrentamento. Neste contexto, vale ressaltar que os enfermeiros, principais agentes da comunidade, devem considerar esses aspectos ao planejar intervenções de promoção, prevenção e controle dessas doenças. Partindo do princípio que a identificação das necessidades em saúde realizada pelos profissionais de saúde permite enfrentar vulnerabilidades com maior propriedade e conhecimentos, é extremamente relevante repensar nossas práticas profissionais junto às populações tradicionais, através da escuta sensível, possibilitando que a mulher seja protagonista de sua saúde, o que fortalecerá políticas públicas inerentes a sua realidade e vulnerabilidades.


Palavras-chave


Vulnerabilidade, Mulheres, Quilombo, IST/HIV/aids, Enfermagem