Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Atendimento à gestante na Atenção Básica: o desafio enfrentado para a efetivação do Programa de Humanização no Pré-natal e nascimento no município de Santarém-PA.
Camila de Almeida Silva, Luana Carla Lima de Almada, Andrea Reni Mendes Mardock, Zilma Nazaré de Souza Pimentel

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) surge no intuito de superar limitações do atendimento às gestantes, há muito tempo, vivenciadas pelas mulheres brasileiras. Entretanto, a atenção primária ainda enfrenta dificuldades em colocar a humanização em prática nesse setor. Perante tal cenário, o objetivo geral desse trabalho é avaliar e comparar como é desenvolvido o atendimento às gestantes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Santíssimo e do Diamantino, sendo a primeira localizada em um bairro central e a última em um bairro periférico da cidade de Santarém-PA, considerando para tanto as orientações do PHPN e as percepções dos servidores e da clientela das unidades supracitadas. Quanto aos aspectos metodológicos, adotou-se a abordagem quantitativa, qualitativa, descritiva e observacional, junto com análise de conteúdo por meio da interpretação e correlação dos dados coletados. Nesse sentido, aplicou-se um questionário fechado às gestantes e um questionário aberto aos profissionais. Participaram da pesquisa 56 pessoas, das quais 50 são gestantes - 27 da UBS Santíssimo e 23 da UBS Diamantino -  com mais de 18 e menos de 45 anos que estavam cadastradas no SISPRENATAL e que não estivessem em sua primeira consulta. A pesquisa também contou com a participação de 6 profissionais da saúde, sendo 3 de cada UBS, que trabalham diretamente com as grávidas atendidas no Pré-natal, dentre os quais enfermeiros, técnicos em enfermagem e agentes comunitários de saúde. É importante destacar que a pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará – Campus e foi aprovada com o Número do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética: 72637417.1.0000.5168. Primeiramente, buscou-se compreender qual o grau de conhecimento que as grávidas tinham sobre atendimento humanizado às gestantes, questionando-as se elas sabiam o seu significado ou não. Na UBS Diamantino, 52% (12 gestantes) não sabiam o seu significado e 48% (11 gestantes) possuíam a acepção do termo. Na UBS do Santíssimo, a porcentagem de gestantes que não conheciam o termo foi de 52% (14 gestantes) e 44% (12 gestantes) afirmaram conhecer o termo e 4%, (1 gestante) preferiu não responder. Ainda que a quantidade respostas daquelas que sabiam o significado de “atendimento humanizado” tenham sido quase iguais à quantidade daquelas que desconheciam o seu sentido, esses números não são os adequados para o desenvolvimento do PHPN. Aos profissionais também foi indagado acerca do conceito desse termo. É importante destacar que a sua definição requer um conhecimento prévio sobre as lutas pelos direitos das mulheres e sobre a conceitualização de humanização. Na prática, observou-se que alguns participantes basearam suas respostas em parâmetros burocráticos, como quantidade de exames, enquanto outros, deram destaque a escuta ativa e a alteridade. Entretanto, nenhum dos profissionais deu espaço, em sua definição, ao fator “mulher”, demonstrando assim que apesar da luta pelo reconhecimento das questões psicológicas, econômicas e sociais, ainda hoje, as gestantes são vistas de uma forma, muitas vezes, restrita ao período biológico pelo qual passam o que dificulta o empoderamento e a participação delas na elaboração conjunta de atividades e de educação em saúde que sejam adequadas as suas necessidades como grávidas, como mulheres e como cidadãs. Sob outro aspecto, quando os profissionais da UBS do Santíssimo foram questionados se o fato da sua UBS ser central prejudicaria ou beneficiária os investimentos por ela recebidos. Foi relatado que aparentemente não havia diferença, mas que apesar de uma boa estrutura, existe a carência de uma equipe multiprofissional, que atenda às necessidades biopsicossociais das gestantes. Por outro lado, os profissionais da UBS Diamantino deram destaque, por unanimidade, a falta de estrutura física em comparação com as unidades centrais. Percebe-se, assim, que elas enfrentam problemas distintos, enquanto a UBS do Santíssimo já possui uma boa infraestrutura, o que a possibilita “subir” um degrau em suas solicitações e voltá-la para a necessidade da equipe multiprofissional, a UBS do Diamantino ainda reclama por algo substancial que é a infraestrutura adequada. Outra questão abordada foi sobre atividades de saúde realizadas nas unidades, e para isso, elaborou-se uma questão que solicitava para que as participantes indicassem qual das atividades enunciadas (diálogo entre gestantes e profissionais da saúde sobre gestação e parto; palestras sobre violência obstétrica; palestras sobre atendimento humanizado às gestantes ou amparo psicológico e nutricional) elas gostariam que fosse realizada na sua UBS. Caso a gestante desconsidera-se a importância das atividades propostas ou entendesse que todas já vinham sendo realizadas, havia também dois itens que representavam essas opiniões. Na UBS Diamantino, as participantes optaram majoritariamente pela realização de mais diálogo entre gestantes e profissionais sobre a gestação e o parto, de um universo de 23 mulheres, 60,90% (14 gestantes), escolheram esse item, 17,40% (4 gestantes)  acham necessária a realização de atividades ou de conversas que proporcionem maior amparo psicológico e nutricional, outras 13,04% (3 gestantes) defenderam a necessidade de esclarecimentos acerca da violência obstétrica  e 8,66% (2 gestantes) optaram pelas outras alternativas. Já na UBS do Santíssimo as gestantes priorizaram a necessidade de amparo psicológico e nutricional. Das 27 participantes, 33,34% (9 gestantes) optaram pela alternativa que versava sobre o amparo psicológico e nutricional, 22,22% (6 gestantes)  defenderam a necessidade de existir um maior diálogo sobre gestação e parto, 18,52% (5 gestantes) reconheceram a importância e palestras sobre atendimento humanizado às gestantes, outras 18,52% (5 gestantes) relataram que todas as atividades já vinham sendo realizadas na unidade , 3,7% (1 gestante) achou que essa atividades eram desnecessárias 3,7% (1 gestante) não respondeu nenhuma das alternativas. A partir da análise dos dados coletados observa-se que uma atitude que deveria ser trivial no atendimento às gestantes, como é o caso do diálogo constante sobre gestação e parto, está fazendo falta a uma grande quantidade de gestantes do universo pesquisado, sobretudo, aquelas gestantes da UBS do Diamantino, onde esse foi o item mais respondido. Nota-se também, a importância de maior amparo psicológico e nutricional às gestantes, uma vez que esse item foi o segundo mais escolhido como atividade necessária dentro das duas UBS de saúde pesquisadas e o item com maior expressão na UBS do Santíssimo. Por fim, questionou-se às profissionais das unidades se estas recebiam capacitação ou incentivos a educação continuada sobre o atendimento no pré-natal. A maioria dos profissionais relataram que a equipe é capacitada tecnicamente para a execução de suas atribuições. Segundo eles o que existe é uma carência de capacitação quanto ao atendimento humanizado às gestantes. Vale ressaltar que a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, infelizmente, ainda não é uma realidade na cidade de Santarém-PA, agravando ainda mais esse cenário. O desconhecimento nos torna incapazes de pleitear de forma consciente os nossos direitos. Logo, a dificuldade de conceituar ou mesmo o desconhecimento do termo “atendimento humanizado às gestantes” - fato descrito pela pesquisa -é um dos maiores obstáculos para a efetivação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento. Esse problema é agravado pela falta de capacitação, de infraestrutura e de uma equipe multiprofissional dentro da Atenção Básica de Saúde. A desigualdade sentida em vários aspectos da sociedade brasileira também foi percebida quanto a distribuição de recursos entre uma UBS periférica e uma central. Por tudo isso, falar de humanização - em um contexto de crise econômica e perdas progressivas de direitos - é muito mais do que uma escolha, é uma necessidade.

 


Palavras-chave


humanização; gestante; atenção básica