Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE INDÍGENA TABALASCADA
Daniele Caséca Ruffo, Ákilla Caroline Nascimento Pereira, Camila Stein, Fabianna Fabíola Néri Teixeira, Rosa Maria De Oliveira Galvão Da Costa

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


Apresentação: Este resumo visa detalhar a visita à comunidade de Tabalascada, no estado de Roraima, realizada no dia 5 de outubro por 21 voluntários, alunos da Universidade Federal de Roraima e filiados à IFMSA BRAZIL (Federação Internacional das Associações de Estudantes de Medicina do Brasil). Os objetivos foram aproximar os estudantes de medicina à realidade vivenciada por comunidades indígenas e levar educação em saúde para essa população. Os alunos desenvolveram atividades integrativas, como palestras com crianças e adultos, quiz e atividades lúdicas com crianças, nas quais os participantes foram instigados a expor suas dúvidas e compartilhar seus conhecimentos e até relatos pessoais sobre o assunto. A aplicação de um questionário posterior de avaliação de impacto revelou que a ação foi de grande importância na formação humanizada de futuros profissionais e na educação em saúde preventiva da população.  Desenvolvimento: Os povos indígenas são parte importante da identidade histórica e cultural do Brasil, existindo cerca de 897 mil indígenas espalhados por todo território nacional e distribuídos em cerca de 300 grupos étnicos que falam mais de 200 línguas e possuem sistemas políticos diferentes. No norte do país, os dados demográficos desta população são bastante expressivos: cerca de 342 mil indígenas estão concentrados nessa região. Destes, 47.976 residem em Roraima, sendo a unidade federativa  detentora da maior população relativa desta etnia: 11 mil indivíduos autodeclaram-se indígenas no estado. Apesar da importância, este tema ainda é um desafio a ser vencido sob vários aspectos, tanto pelas carências estruturais enfrentadas por essa população, quanto pela falta de estímulo dos profissionais em permanecer nessa área ou até mesmo iniciar o trabalho, fazendo com que alguns problemas básicos ainda persistam, como falta de saneamento básico e assistência à saúde. Ademais há uma falha curricular importante nas escolas de medicina do país, que já foi reconhecida pelo CFM no I seminário sobre saúde indígena que ocorreu no primeiro semestre de 2017. Essa falha é ainda mais prejudicial nas universidades nortistas, em especial na UFRR, por ser de um estado com população indígena tão presente. Devido essas razões, foi idealizada uma ação na comunidade Tabalascada, no município roraimense Cantá. Os voluntários foram escolhidos por formulário, avaliando disponibilidade e motivação. Houve dois encontros para capacitação dos estudantes selecionados, conduzidos por profissionais da área. Em referência ao outubro rosa, foram abordados o câncer de mama e de colo do útero, ambos muito prevalentes em Roraima. Também foi realizada uma capacitação em saúde da criança, sobre puericultura, prevenção de verminoses e incentivo de bons hábitos de higiene e alimentação saudável. Para a realização das atividades, os alunos foram divididos em grupos menores. Um dos grupos ficou responsável pelo auxílio da triagem e atendimento ambulatorial, auxiliando na aferição de pressão arterial, verificação do índice de massa corpórea e organização de prontuários. Outros estudantes acompanharam atendimentos ambulatoriais, tendo a oportunidade de ajudar no exame físico, encaminhamentos e formulação de hipóteses diagnósticas. Assim, os acadêmicos puderam adquirir conhecimentos sobre relação intercultural, principais afecções que afetam aquela comunidade e noções semiológicas importantes para a atuação em unidades básicas de saúde. As mulheres atendidas no posto de saúde da comunidade e as professoras da escola local tiveram uma palestra com outro conjunto de estudantes sobre Câncer de mama e de colo do útero. Foram abordados assuntos como fatores de risco, preventivo, autoexame das mamas e sinais de alarme. Logo após foi feito uma dinâmica em forma de 'quiz' sobre o assunto abordado. Isto permitiu verificar o quão eficiente foi a transmissão das informações e corrigir falhas de comunicação. Um último grupo de alunos ficou responsável por realizar uma conversa informal sobre parasitoses intestinais, higiene pessoal e hábitos de saudável, bem como foi proporcionar um momento de recreação por meio de pintura, música e brincadeiras. As crianças ensinaram canções infantis na língua Macuxi para os voluntários e foi oferecido como lanche um mingau de macaxeira, comida típica da comunidade. Essas atitudes simples revelam a forte tradição deste povo e tiveram grande impacto sobre os alunos participantes. Resultados e/ou impactos: Questionários foram aplicados aos voluntários após a ação. Analisando os resultados obtidos sobre a importância da ação na formação médica dos participantes, pode-se concluir que grande parte dos alunos (75%) ampliou sua visão a respeito do impacto que o contato precoce com a realidade na qual o grupo foi inserido tem sobre sua construção profissional. Além disso, o “quiz“ revelou que as pacientes não tinham ampla informação sobre o tema, mas que essa falha conseguiu ser corrigida por meio da palestra. Considerações finais: O Projeto Saúde Indígena teve como objetivos promover uma aproximação dos alunos com essa realidade, possibilitar melhorias para a comunidade visitada, através de ações educativas. Além disso, promoveu difusão de conhecimentos para a população, permitindo uma maior conscientização sobre os temas abordados e possibilitou trocas culturais importantes entre moradores da comunidade e visitantes. Verifica-se a necessidade de melhorias nas condições de assistência médica aos povos indígenas, o que pode ser alcançado por meio de melhorias na estrutura física, ações de saúde e prevenção, levando em consideração os aspectos culturais e locais e ampliação da atenção. Os desafios em área indígena são muitos, como aspectos geográficos, linguísticos e culturais. Essa realidade reforça a importância de ações que foquem em componentes educativos, a fim de disseminar conhecimento científico transmitido de acordo com o entendimento popular, e, concomitantemente, possibilite trocas de experiências culturais, devido sua importância para a formação profissional e na construção de valores. Dessa forma, a ação foi muito importante para enriquecimento cultural e profissional dos estudantes que participaram. Regiões como a Comunidade Tabalascada, próximas à cidade, mas com uma cultura e tradição diferentes, são áreas que precisam de um olhar peculiar, atentando para as necessidades locais e buscando-se levar a promoção de saúde de forma direcionada. Ademais, ressalta-se que é uma oportunidade de conhecer novas línguas e novos costumes, promovendo interação entre a população e os voluntários e maior preparo para futura atuação nos serviços de saúde, uma vez que a formação médica não consiste apenas de literaturas e ensino, mas também de vivências e habilidades que só poderão ser exercitadas a partir do contato com a realidade vivenciada pelos pacientes.

Palavras-chave


Indígenas; educação; ação