Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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VIVÊNCIAS E ESTÁGIOS NA REALIDADE DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (VER-SUS) PELO PONTO DE VISTA DE EGRESSOS DO CURSO DE MEDICINA
Caroline Mota de Souza, Caroline Mota de Souza, Alessandra Aziz Borges Bitar, Fabiana Mânica Martins, Fabiana Mânica Martins

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação

Um dos pontos-chave dentro do Sistema Único de Saúde é a Educação Permanente em Saúde, onde os profissionais devem ser formados e atualizados continuamente de forma a compreender seu espaço de trabalho e suprir as demandas dos usuários do sistema. A graduação em Medicina tem papel fundamental nessa formação, devendo “qualificar os profissionais para um olhar e uma escuta ampliada ao processo saúde-doença e a qualidade de vida” (FERLA, 2011, p.6). Porém, muitas vezes a formação segue o caminho oposto, de forma a manter um modelo hospitalocêntrico e biologicista, formando um profissional pouco adequado às demandas do serviço público. O projeto de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS/Brasil) vem como uma ferramenta que oportuniza ao graduando a experimentação do sistema, de forma a “apresentar elementos das configurações do sistema, do controle social, e da atenção à saúde” (ROCHA apud MARANHÃO, 2013).

Acredita-se que ao conhecer a realidade do interior do Amazonas através do VER-SUS, os estudantes egressos possam perder preconceitos e tornar-se mais críticos e envolvidos nos processos de trabalho nos municípios do interior do estado, de forma a aumentar a fixação de profissionais médicos nestas regiões. Poucos trabalhos foram desenvolvidos em relação ao VER-SUS no Amazonas, de forma que se torna um campo amplo e fértil para pesquisa. Além disso, esta pesquisa está vinculada ao Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

Objetivou-se, com este trabalho, descrever o ponto de vista dos alunos de Medicina que realizaram a vivência do VER-SUS Amazonas acerca das experiências adquiridas, registrar a realidade do sistema de saúde nos municípios participantes do VER-SUS, através das vivências dos estudantes e verificar o impacto dos estágios e vivências no SUS na formação acadêmica dos estudantes de Medicina, voltado à realidade do Amazonas.

 

 

 

Desenvolvimento do Trabalho

Os dados foram colhidos dos participantes egressos do VER-SUS Amazonas, na posição de viventes ou facilitadores. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser acadêmico do curso de Medicina; manifestação espontânea de interesse na participação do estudo, sem ressarcimento financeiro e respeitando os aspectos éticos envolvidos neste tipo de pesquisa. Os sujeitos foram alertados sobre o caráter da pesquisa, de forma verbal e através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e também sobre o caráter voluntário na pesquisa. Além disso, o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos (CAAE), com o número 20016613.7.0000.5020.

A busca por uma alternativa metodológica nos remete a abordagem qualitativa de investigação, pois como refere Minayo (2004), ao desenvolvermos uma proposta de investigação, ou no desenrolar das etapas de uma pesquisa, vamos reconhecendo a conveniência e a utilidade dos métodos disponíveis, face ao tipo de informações necessárias para se cumprirem os objetivos do trabalho. (GERHARDT e SILVEIRA, 2009).

Os dados foram coletados através de questionários disponibilizados online, via Google Forms, com questões abertas e fechadas, a serem respondidos pelos sujeitos da pesquisa.

 

 

Resultados e Impactos

Foram coletados dados de cinco participantes do VERSUS Amazonas, através dos questionários. Em relação ao perfil dos estudantes, todos eram da Universidade Federal do Amazonas. A grande maioria participou das vivências nos períodos iniciais do curso, predominantemente no quinto e terceiro períodos. Em relação a edição da vivência, houve participantes da quarta, quinta e sexta edições, com predomínio desta última. Quatro pontos foram avaliados no questionário, sendo o primeiro a percepção do vivente sobre a experiência educativa em sua formação acadêmica acerca do SUS, tanto em aulas e disciplinas, quanto no VERSUS. Percebe-se que há dificuldade em inserir o aluno dentro do sistema básico, no formato de aulas práticas. Isso parte tanto de dentro da Universidade, quanto dos gestores de unidades e secretarias de saúde.

Grande parte dos entrevistados relatou que somente no VERSUS Amazonas visualizou de forma integral o funcionamento do sistema público de forma realista, tanto os pontos positivos, quanto os negativos. Assim, fica claro que a inserção do estudante de medicina no SUS através deste tipo de iniciativa é uma forma de expor o acadêmico a um ambiente rico em aprendizados e discussões, bem como desenvolvimento do pensamento crítico sobre o sistema, atenção básica e a multidisciplinaridade. Assim, faz-se necessário mudar, dentro das universidades, a forma com que se promove vivências dos estudantes na prática cotidiana, principalmente no que diz respeito à  atenção básica. Dessa forma, o ambiente prático proporcionado pelas vivências se firma como um instrumento de formação essencial, onde o acadêmico relaciona os conhecimentos adquiridos durantes aulas teóricas com as experiências vivenciadas no VERSUS, desenvolvendo posicionamento crítico e reflexivo acerca da realidade da saúde no interior. A partir disso, o futuro profissional médico se firma como agente ativo, que busca por meio de suas ações por um sistema de saúde mais efetivo e funcional.

O segundo ponto discutido foram os pontos positivos e negativos das experiências nos municípios, onde os entrevistados comentavam sobre as vivências. O que mais foi relatado, enquanto ponto negativo, foi o despreparo dos gestores e dos trabalhadores das unidades para receber os viventes.

Já o terceiro ponto diz respeito as repercussões que estas experiências tiveram na futura vida profissional dos viventes. Foi relatado pelos entrevistados que a vivência os fez perceber a importância de se conhecer o sistema no qual estão inseridos e o seu papel como construtores deste sistema, tomando para si a responsabilidade de defender o SUS e todas as pessoas que de alguma forma atuam para que ele funcione.

Por fim, no quinto e último questionamento foi pedido aos participantes que comentassem sobre suas expectativas sobre o VERSUS e se elas haviam sido correspondidas. Os viventes, em sua maioria, comentaram que a experiência foi positiva e que as expectativas foram alcançadas e até mesmo superadas.

 

Considerações Finais

O Sistema Único de Saúde é fruto de muitas mobilizações sociais, no qual se estabeleceram juridicamente o direito a saúde gratuita, igualitária e não exclusiva para toda a população brasileira. Ainda que consolidado através de leis, este é um sistema em constante mudança e construção, pelos seus usuários e profissionais envolvidos.

Entretanto, muitos profissionais da saúde não enxergam seu potencial transformador e construtor, por se deixarem abater pela frustração em ver um sistema com inúmeros erros práticos, mas principalmente por não conhecerem a estrutura e organização do SUS.

Dessa forma, a Universidade tem papel fundamental na formação deste profissional médico, com senso crítico e ciência do seu papel enquanto consolidador do SUS. Para que isso ocorra, é fundamental que o estudante de Medicina tenha contato com todo o histórico, legislação e organização do SUS, através das aulas teórico-práticas previstas na grade curricular e nas Diretrizes Nacionais Curriculares do Curso de Medicina, exigidas pelo Ministério da Educação.

Mais importante ainda, é o estudante vivenciar a realidade e confrontar teoria e prática, junto com seus professores e profissionais já atuantes nos serviços, através de debates, trocas de conhecimentos e vivenciando o real funcionamento das unidades. Ainda que com falhas estruturais, bem como dificuldades no financiamento, o VERSUS proporciona aos estudantes de Medicina do Amazonas uma experiência valiosa de inserção no SUS, tornando-se necessária a institucionalização desse tipo de iniciativa para que a mesma ganhe mais visibilidade.

 

 

 

 

 

 


Palavras-chave


Formação; Saúde; Profissionais