Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O ENSINO DA ARTE NA INCUBAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS NO SEGMENTO DA SAÚDE MENTAL NOS MUNICÍPIOS DE BLUMENAU E REGIÃO
Lucineia Sanches, Claudia Sombrio Fronza, Josiane da Silva Martins Ewald, Lorena de Fátima Prim, Kalinka Cristina Caetano, Jaison Hinkel, Jólia Cristina S. G. Mueller, Valmor Schiochet

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: Este texto relata uma experiência sobre a cerâmica como atividade de Educação não formal realizada com membros da Associação de Familiares, Amigos e Usuários do Serviço de Saúde Mental de Blumenau, a ENLOUCRESCER. Trata-se do projeto de extensão universitária Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários no Segmento da Saúde Mental nos Municípios de Blumenau e Região. Este projeto é desenvolvido pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Regional de Blumenau – ITCP/FURB. Com recursos dos Editais PROPEX 17/PROEXT 2015 / Ações Integradas, em parceria com o curso de Artes Visuais da FURB. O objetivo principal das oficinas é o ensino da arte do fogo, cerâmica, proporcionar bem estar aos usuários através da prática de atividades ecologicamente sustentáveis e promover a geração de renda (que acontece através da venda das cerâmicas em feiras e eventos) seguindo os princípios da Economia Solidária. Desenvolvimento do trabalho: Esta experiência busca relacionar a área psicossocial com a arte e analisar as relações entre os elementos culturais presentes no ambiente e o sujeito, de forma que seja possível compreender o impacto destas relações no cotidiano e nas expressões artísticas. As oficinas são realizadas semanalmente, no Laboratório de Cerâmica da FURB. Os equipamentos e materiais utilizados são os mesmos utilizados no curso de graduação em Artes Visuais. O que faz com que os participantes sintam-se acolhidos e incluídos no espaço universitário. A média é de 15 participantes por oficina, no entanto, o grupo é composto por 30 usuários do CAPS AD e CAPS II. No início de cada semestre, antecedendo as oficinas, são realizadas reuniões informais com o grupo para o planejamento das aulas. Resultados e/ou impactos: No que diz respeito às oficinas de cerâmica, realizadas com membros da ENLOUCRESCER, a questão central é a promoção da saúde através da inclusão social, atividade que só se torna possível através da educação não formal. Neste processo, o trabalho é desenvolvido por professores e acadêmicos bolsistas que atuam com processos avaliativos, registrados em relatórios. Estes não conferem nota e não objetivam passar de um nível para outro, mas sim de fazer da arte um meio para a promoção do bem estar social de pessoas em situação de sofrimento psíquico. Neste ano de 2017, as propostas temáticas sugeridas apresentaram elementos da cultura regional do Vale do Itajaí, para serem incorporados na produção de cerâmica. Depois de discutir a respeito das questões ambientais da região, relacionou se elementos da fauna e da flora. Assim, o objeto desenvolvido é capaz de portar em si referências da identidade regional. Sendo assim, o elemento escolhido para tanto foi um mamífero, a Capivara (Hydrochoerus hydrochaeri), animal muito comum na fauna local e carinhosamente considerada pela população blumenauense como o animal símbolo da cidade. Ao perceber a necessidade de promover a reflexão sobre algumas questões ambientais e sociais da cidade de Blumenau, tomou-se a cerâmica como uma das formas mais sustentáveis para se produzir arte. Por meio da arte, a cerâmica cumpre papel vital na construção de um modo de fazer arte que sirva como forma de resistência ao modelo capitalista, que na maioria de suas produções, implica na degradação do meio ambiente. A partir desta experiência, pode se confirmar a hipótese que foi levantada ao iniciar o trabalho com cerâmica em 2011: de que a arte possui importantíssimo papel na construção de uma consciência sustentável, pois, como visto até aqui, estimula a criatividade e a inclusão, valores fundamentais para uma sociedade mais justa. E ainda, busca desenvolver com os portadores de sofrimento psíquico atividades de ensino não formal através das quais se torna possível ampliar e sistematizar conhecimentos. Esta ideia, aliada ao objetivo de produzir saberes que possam ser aplicados na vida cotidiana e possivelmente profissional são fundamentais para a busca por uma melhor qualidade de vida. São fatores que fazem com que o ensino da Arte se estenda de forma não formal em projetos inovadores de tecnologia social. A utilização das capivaras enquanto signo social e historicamente elaborado na produção de artesanato por parte dos usuários de serviços de saúde mental apresenta-se como uma alternativa extremamente benéfica. Em primeiro lugar, permite uma identificação dos consumidores com o produto, que facilmente conseguem associar o artesanato assim produzido com a cultura local. Surge assim uma alternativa para a caracterização dos produtos com consequente potencialização da comercialização dos mesmos. Em segundo lugar, a utilização desta significação no processo de trabalho permite inserir de maneira oportuna os usuários numa relação sadia com a sociedade, onde seu trabalho se torna produção social. As atividades possibilitam assim a participação destes indivíduos na condição de sujeito, restaurando sua autonomia e identidade. Esta ação constitui então uma dimensão semiótica, na qual os indivíduos são capazes de diferenciar as coisas de seus significados. Entende-se que este movimento psicológico pressupõe a interiorização das ações realizadas por estes indivíduos em seu labor. Isso pressupõe que são capazes então de, através deste mesmo movimento, passar do nível da ação para o nível da operação; ou seja, pressupõe uma melhor integração do indivíduo nas suas relações consigo mesmo e com o social e, portanto, abre espaço para a utilização deste trabalho permeado pela ação de significação do ambiente como atividade de saúde mental. Buscou-se principalmente a humanização da saúde, a atenção primária e autonomia dos pacientes, em contraste ao modelo hospitalocêntrico vigente, estabelecido no modelo Flexneriano. Assim, os pacientes passaram a ser entendidos como indivíduos em relação com a sociedade e não mais como doentes ou incapazes que deveriam ser afastados do convívio social. Esta construção de um novo modelo de saúde mental permite a interlocução entre as Artes e a Psicologia, uma vez que o processo de criação é compreendido como constituinte do homem e da expressão artística humana. Esta capacidade de construir novos significados para os signos interiorizados pelo indivíduo através das suas relações é mister para viabilizar não apenas a possibilidade da produção de arte, mas a vida em sociedade. Considerações finais: Diante do exposto, evidencia-se a importância e as potencialidades da arte da cerâmica, desenvolvida na região do Vale do Itajaí, como recurso para manifestar através da materialidade elementos da cultura regional. E ainda, expressar na particularidade de cada objeto, o jeito de interpretar que se forja na poética de cada um. Os resultados indicam melhoria na saúde dos usuários dos CAPS. As atividades por serem prazerosas auxiliam na redução de surtos, crises e internações. Assim, tem elevado a qualidade de vida e promovido a inclusão social desses sujeitos nas ações da Rede de Economia Solidária o Vale do Itajaí (RESVI), no Fórum de Economia Solidária (FESB) e nas feiras de artesanato realizadas mensalmente no Campus I da FURB. Esta experiência, que já traçou percurso de quase dez anos, se apresenta como referência para as redes de saúde mental que esboçam se formar pelo Brasil. A luta antimanicomial e as novas propostas de inclusão e socialização de portadores de sofrimento psíquico encontram terreno fértil e amparo seguro em projetos de extensão mantidos pelas incubadoras universitárias. A ITCP/FURB abre espaço para o desenvolvimento de estágios, Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e projetos de pesquisa em diversas áreas, aproxima o acadêmico da realidade cotidiana. No tocante as artes, o projeto coloca a educação não formal em artes como fator social transformador.

 


Palavras-chave


Saúde Mental; Cerâmica; Economia Solidária