Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-27
Resumo
APRESENTAÇÃO
No século XXI a tuberculose ainda é considerada um problema de saúde pública em potencial, com índices de incidência e mortalidade elevados. Dados históricos revelam que a tuberculose é uma moléstia tão antiga quanto a humanidade e, que por muitos anos, foi estigma de exclusão social para morte física e moral do indivíduo adoecido.
Atualmente, as taxas de incidência e mortalidade por tuberculose demostraram uma redução significativa, embora ainda seja considerada como um grave problema de saúde no Brasil e em países em desenvolvimento. Mesmo com os avanços nos métodos de tratamento e cura da doença, maior conhecimento científico sobre a transmissão da tuberculose e fácil acesso a unidades de saúdes que oferecem diagnósticos e tratamento, os dados epidemiológicos apontam para 10,5 milhões de pessoas notificadas e 1,5 milhão de mortes confirmadas somente em 2015, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 69 mil pessoas adoeceram com tuberculose e 4,5 mil morreram de tuberculose em 2015. Apesar dos valores elevados, a incidência de tuberculose no Brasil reduziu de 42,7 em 2001 para 34,2 casos por 100 mil habitantes em 2014.
A criação de estratégias e metas por meio da Coordenação Geral do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (CGPNCT), com o objetivo de acabar com a tuberculose como problema de saúde pública no Brasil, tendo por meta menos de 10 casos por 100 mil habitantes e 1 óbito por 100 mil habitantes, até o ano de 2035.
O ponto principal do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose, é a ênfase a populações mais vulneráveis e grupos de risco, considerando seus aspectos sociais que determinam os indicadores de cura e formas resistentes. O Plano define pilares, objetivos e estratégias que sirvam de suporte para os programas e ações no controle da tuberculose para a construção dos trabalhos considerando suas competências.
O estado do Amazonas apresenta uma das maiores incidências de tuberculose, caracterizando um grave problema de saúde estadual e nacional. Isto reforça a necessidades de políticas educacionais e de aprimoramento para os profissionais que atuam nos níveis de atenção à saúde, a partir desta concepção, a Educação Continuada torna-se ferramenta primordial nos serviços de saúde. Com isso, esta pesquisa teve por objetivo analisar a percepção dos enfermeiros sobre educação continuada na temática da tuberculose.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
Esta pesquisa é de natureza qualitativa que tem como finalidade a compreensão do tema abordado por meio da obtenção de dados descritivos e análise do material a partir da óptica de 18 enfermeiros, citados de E01 a E18, de um hospital de ensino localizado na cidade de Manaus, Amazonas. A obtenção dos dados foi mediante ao contato direto com os participantes da pesquisa por meio de entrevista, posteriormente, ocorreu a transcrição do discurso para a análise dos dados. Foi possível compreender as percepções, opiniões e significados sobre Educação Continuada na temática da Tuberculose e ações de enfermagem frente ao paciente adoecido através do método de Análise de Conteúdo, modalidade temática, que organiza, categoriza recortes e palavras presente no discurso permitindo a elaboração dos temas prevalentes na entrevista.
RESULTADOS E/OU IMPACTOS
Educação Continuada sobre Tuberculose.
A maioria dos enfermeiros demonstraram desconhecimento sobre atividades de Educação Continuada no âmbito hospitalar pertinentes à tuberculose, destacando a necessidade de maior suporte do setor para a realização de aprimoramento e capacitação.
[....] Te confesso que eu não vejo nada... não vi nenhum tipo de (gaguejando) chamada, de apelo, de cuidado, de informação. (E01).
Pôde-se verificar que maioria dos profissionais não receberam nenhuma atividade educativa sobre tuberculose, este evento infere diretamente nos aspectos de qualidade assistencial e acreditação hospitalar. Nesta perspectiva, destaca-se a importância da construção de caminhos e estratégias que conduzam ao desenvolvimento técnico e científico no manejo dos pacientes com tuberculose.
Os dados epidemiológicos apontam a tuberculose com um grave problema de saúde do Amazonas. No entanto, constatou-se que alguns enfermeiros desconheciam até os dados epidemiológicos divulgados pelo Ministério da Saúde.
[...] Incidência? (de tuberculose no Amazonas) ... É... esses dados aí eu não conheço. (E08)
Isso tudo culmina em determinantes para o aumento da incidência de tuberculose no estado, apesar do Plano Nacional está baseado em três pilares, onde um deles possui o objetivo de intensificar a pesquisa e inovação, a divulgação dos resultados não foram suficientes para alcançar todos os profissionais da saúde. Diante deste cenário, é possível estimar que em outros serviços de saúde os profissionais da saúde também desconheçam que o estado enfrenta um grave problema de saúde pública. Contudo, o relato de alguns participantes aponta para práticas educativas existentes em um momento recente.
[...] Tivemos várias palestras sim, até então porque a gente tinha um...um.. uma clínica aqui embaixo que funcionava a respeito da tuberculose, de doenças. (E10)
[...] Eles... Eles palestram sobre a doença pra gente. A última informação que a gente teve aqui foi os isolamentos, tipos de isolamentos, que inclusive o respiratório. (E11)
Compreende-se que o programa de Educação Continuada não alcança todo o contingente de enfermeiros, visto que uma minoria, relatou a experiência de participar das atividades educativas. Supõe-se que a temática não seja atraente ou a divulgação dos eventos sejam insuficientes.
O cuidado de enfermagem no manejo dos pacientes com tuberculose necessita de uma abordagem diferenciada por tratar-se de uma doença infecciosa, que demanda condutas de enfermagem específicas. Nesta linha de pensamento, os enfermeiros foram abordados a respeito sobre as ações de enfermagem frente ao paciente com tuberculose.
Ações de Enfermagem Frente ao Paciente com Tuberculose.
Devido ao potencial infeccioso e contagioso da tuberculose, medidas de precaução padrão e para aerossóis foram os mais citados pelos enfermeiros. A menção busca de sinais clínicos e laboratoriais foram raras, o que mostra um conhecimento superficial dos enfermeiros sobre o manejo do doente e dependência de outros profissionais para a tomada de decisão.
[...]. Então a gente já isolou o paciente, tomou as precações, orienta funcionário, orienta família, quanto as prevenções desse paciente a partir do momento que foi identificado (E03)
A conduta de precaução para aerossóis é essencial para quebra da cadeia de transmissão do paciente bacilífero, devido a capacidade infecciosa do bacilo ser viável em ar ambiente por tempo prolongado. Além do isolamento, o uso do equipamento de proteção individual específico é indispensável, neste caso, a máscara N95.
Outra medida de intervenção identificada foi a Educação em Saúde prestada ao paciente e acompanhante e até mesmo a Educação Continuada realizada com a equipe de enfermagem pelos próprios enfermeiros. A orientação prestada aos personagens envolvidos no cuidado ao paciente com tuberculose é crucial para a eficácia do tratamento, diminuição dos índices de abandono e quebra da cadeia de transmissão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo evidenciou a ausência da abordagem de temas referente a tuberculose e ações de enfermagem pouco efetivas, que demonstram insegurança no manejo dos pacientes adoecidos. Diante desses condicionantes, espera-se estratégias educativas mais atrativas para os enfermeiros, a partir da divulgação dos dados epidemiológicos para que os profissionais compreendam que a tuberculose é um problema de saúde pública brasileiro.