Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-27
Resumo
Apresentação: O Brasil possui cerca de 24.033.745 adolescentes (12 a 18 anos) e destes 9.263.339 estão na região Sudeste (BRASIL, 2010). A adolescência constitui-se como uma importante etapa do desenvolvimento humano, sendo marcada por características biopsicológicas relacionadas ao crescimento corporal, à maturação sexual e aos contatos interpessoais, do adolescente como sujeito de valores e atitudes (REIS et al., 2013). Diversas são as alterações psicoafetivas e de conduta vivenciada por esse grupo, se apresentando como um grupo vulnerável aos graves problemas contemporâneos, tais como violência, desemprego, fome, trabalho infantil, prostituição e drogas. Por outro lado, a Política Nacional de Atenção à Saúde de Adolescentes e Jovens surge com o grande desafio de programar e desenvolver ações que atendam de modo integral as demandas referentes às distintas vulnerabilidades à saúde dos adolescentes em nosso país (REIS et al., 2013). Nesse sentido, as oficinas educativas são concebidas como o trabalho em grupo que possibilitam a quebra da tradição vertical que existe entre o profissional da saúde e o sujeito da sua ação, sendo uma estratégia facilitadora da expressão individual e coletiva das necessidades, expectativas e circunstância de vida que influenciam a saúde (LACERDA et al., 2013). Assim, essas ações emergem diante da vulnerabilidade apresentada na fase da adolescência e com isso ações de extensão e educação em saúde mostram-se como potenciais instrumentos de promoção ao empoderamento, cidadania, emancipação e de transformação social na vida desses adolescentes, buscando a promoção da saúde individual e coletiva e a constituição de agentes promotores de mudança. Diante disso, objetiva-se relatar as contribuições desse projeto na formação e desenvolvimento desse grupo de adolescentes, no sentido da defesa do seu direito à saúde, qualidade de vida e desenvolvimento do seu pleno potencial. Descrição da experiência: Trata-se de um projeto de extensão intitulado: “Adolescentes em Situação de Vulnerabilidade Social: Desenvolvimento de oficinas educativas”, vinculado ao programa institucional de extensão da Universidade do Estado de Minas Gerais. Este projeto, buscou realizar oficinas educativas sobre temáticas relacionadas à saúde, bem-estar, qualidade de vida, desenvolvimento pessoal, empoderamento, cidadania e construção de projetos de vida, junto a adolescentes em um Centro de Atenção Pró Menor (CAP). As atividades foram desenvolvidas dentro do CAP, uma organização de apoio a adolescentes em situação de vulnerabilidade social. O trabalho de campo foi planejado em conjunto com a equipe profissional atuante do serviço e com os adolescentes atendidos por eles. Iniciou-se o projeto com a realização de um diagnóstico por meio da aplicação de um questionário junto ao público-alvo. Após a definição dos temas, a equipe extensionista reuniu-se para preparação do conteúdo e planejamento das oito oficinas programadas, buscando metodologias ativas, problematizadas e lúdicas. Foram então iniciadas as oficinas educativas utilizando metodologias ativas de aprendizagem à luz de Paulo Freire. Essa metodologia de aprendizagem promove a independência do educando, despertando a curiosidade, encorajando nas tomadas de decisões individuais e coletivas, de modo que o estudante assuma papel ativo na construção e produção do conhecimento, tornando-os reflexivos, dialéticos e acima de tudo agente transformador (BORGES; ALENCAR, 2014). Resultados: Evidenciou-se no decorrer do projeto que houve aprendizado significativo entre os sujeitos, bem como o desenvolvimento da capacidade crítica-reflexiva sobre os agravos que permeiam o período da adolescência. Além disso, o empoderamento desses sujeitos sobre seus direitos e deveres mostra-se imprescindível, visto que o mesmo é um ser de direitos, mas vulnerável para exercê-los por conta própria, tornando-se um preceito ético para que todos os adultos, especialmente os profissionais de saúde, comprometam-se em agir em prol da proteção e da defesa do direito a saúde e bem-estar do adolescente, concebendo aqui a saúde em seu conceito ampliado, em que não resulta apenas da ausência de doença, mas de um conjunto de fatores que os levem a prática de um estilo de vida pleno, equilibrado e saudável. Ressalta-se que o processo das oficinas educativas pautado em métodos ativos e horizontais, onde os saberes se dialogam e se correlacionam, rompe com o método educativo tradicional e contribuiu para o fortalecimento das relações interpessoais entre equipe extensionista e público-alvo e para a reconstrução coletiva dos saberes e práxis cotidianas. Dentro das diversas temáticas abordadas, foi possível denotar o surgimento de diversificadas dúvidas, evidenciando a necessidade de fontes de informações confiáveis. Salienta-se que o alto grau de vulnerabilidade do público-alvo os concebem como um importante grupo para realização de atividades extensionistas, pois o aprendizado proporcionado pelo projeto pode contribuir para formação de agentes de mudança e difusores desses saberes para a comunidade. Dentro das oito oficinas realizadas, buscou-se trabalhar em um círculo e com atividades dialógicas, problematizadoras e dinâmicas que buscam favorecer o processo de ação-reflexão-ação sobre as temáticas abordadas. Salienta-se que, para que haja o exercício da cidadania plena, faz-se necessário que os sujeitos tenham condições democráticas de acesso a bens e serviços e possam reivindicar os seus direitos a uma atenção de qualidade. Além disso, é fundamental o conhecimento dos adolescentes acerca dos seus direitos e deveres estabelecidos pelo ECA, para que os mesmo os tenham como instrumento para exercício da sua cidadania e autonomia. O diagnóstico realizado para a execução das oficinas, corroborou com o desenvolvimento de temáticas do interesse do público-alvo e subsidiou o desenvolvimento de oficinas mais assertivas, de acordo com a necessidade do público-alvo. Destaca-se que foi notório que as oficinas conseguiram promover muito além de conhecimento e saberes, por meio delas foi possível proporcionar formação política e cidadã, que são base para a manutenção e reivindicação da saúde individual e coletiva, convidando esses sujeitos a assumirem o seu papel de protagonista, agentes políticos e promotores de mudança da realidade no qual estão inseridos. Assim, concebendo que política, saúde e cidadania, são um tripé indissociável e que são base para o gozo de todos os direitos constitucionais. Considerações finais: Considera-se, portanto, que este projeto atingiu seus objetivos e contribuiu para o estreitamento das relações academia-sociedade e para a formação de sujeitos críticos, cidadãos, autônomos e políticos. Recomenda-se a ampliação das ações extensionistas, pois além de promover o desenvolvimento do público-alvo, ela estabelece uma interlocução plena entre público-alvo e equipe, colocando os futuros profissionais de saúde em contato com o seu principal instrumento laboral, o outro.
Referências
BORGES, T. S.; ALENCA, G. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, Cairu, n. 4, p. 119-143, jul.-ago. 2014. Disponível em: <http://www.cairu.br/revista/arquivos/artigos/2014_2/08 METODOLOGIAS ATIVAS NA PROMOCAO DA FORMACAO CRITICA DO ESTUDANTE.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2017.
BRASIL. Instituto Nacional do Seminário. População total residente por faixa etária. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.insa.gov.br/censosab/?option=com_content&view=article&id=101&Itemid=100 >. Acesso em: 18 mar. 2017.
LACERDA, A. B. M.; SOARES, V. M. N.; GONCALVES, C. G. O.; LOPES, F. C.; TESTONI, R. Oficinas educativas como estratégia de promoção da saúde auditiva do adolescente: estudo exploratório. Audiol. Commun. Res., São Paulo, v. 18, n. 2, p. 85-92, jun. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S231764312013000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 mar. 2017.
REIS, D. C.; ALMEIDA, T. A. C.; MIRANDA, M. M.; ALVES, R. H.; MADEIRA, A. M. F. Health vulnerabilities in adolescence: socioeconomic conditions, social networks, drugs and violence. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 21, n. 2, p. 586-594, abr. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692013000200586&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 mar. 2017.