Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-03-29
Resumo
A terapia transfusional apresenta-se como um mecanismo fundamental na medicina moderna, embora haja inúmeros progressos, ainda não há uma alternativa que substitua o sangue. Para isso, a terapêutica deve ser feita da maneira correta e segura respeitando todas as normas preconizadas. A enfermagem tem um papel fundamental nesse processo, por participar ativamente de modo a executar e supervisionar possíveis reações. A educação na atuação da enfermagem apresenta-se como essencial, o que prevê o uso de estratégias que possam subsidiar o trabalho desses profissionais. Com isso, a simulação é uma estratégia de ensino-aprendizagem que permite que pessoas experimentem a representação de um evento real com o propósito de praticar, aprender, avaliar ou entender situações. Enquanto metodologia ativa de ensino, a simulação realística favorece não somente o desenvolvimento de competências correspondentes a processos clínicos da prática profissional, ela vai além dos aspectos técnicos e tecnológicos e se estende ao desenvolvimento de análise, síntese e tomada de decisão. Através dela, o participante desenvolve competências em um ambiente onde o erro é permitido, ajustando falhas e o aprimoramento profissional diante das várias situações que lhe são apresentadas, sem risco à integridade do paciente, além de proporcioná-lo uma maneira proativa no seu próprio aprendizado. Por meio das tarefas simuladas, é necessário que o envolvido promova intervenções e habilidades capazes de proporcionar melhoria na apreensão do conteúdo abordado. A simulação realística faz parte de uma nova possibilidade de ensino que vem sendo adotada pelas instituições formativas e de saúde para o ensino e aperfeiçoamento de acadêmicos e profissionais. Nesse contexto, considera-se importante o uso da metodologia de simulação realística como tecnologia aplicável a ações de educação em saúde, desde a graduação até a capacitação continuada de profissionais de saúde. Deste modo, a pesquisa objetiva verificar a satisfação de profissionais de enfermagem frente à simulação realística como estratégia de ensino-aprendizagem no processo transfusional. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado no período de março a maio de 2017. A amostra totalizou 78 profissionais de enfermagem (enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem) de um Hospital Universitário do Rio Grande do Norte. Para coleta de dados foram desenvolvidos três cenários elaborados previamente sobre o processo transfusional com as seguintes informações sobre o paciente simulado: coleta de amostras para testes pré-transfusionais; administração de hemocomponentes; atendimento às reações transfusionais. Eles foram elaborados com base no referencial proposto pela National League Nursing/Jeffries Simulations Framework (NLN/JSF). Foi utilizado uma técnica de briefing que prevê uma explanação e detalhamento de como transcorrerá o processo, de modo a fornecer orientações e informações sobre os cenários, uso dos materiais e insumos, manuseio do prontuário, interação com os atores, postura dos voluntários e observadores, bem como esclarecimento de possíveis dúvidas. Cada cenário foi planejado para ser executado por um voluntário e os demais participantes observavam com uso de um checklist sobre a etapa. Após a execução dos três cenários, foi realizado o debriefing onde o facilitador procedeu com comentários acerca do ocorrido, aplicando conceitos relativos a avaliação e desempenho, de modo a compartilhar a experiência vivida. Em seguida, foi aplicado um questionário de satisfação sobre a simulação realística, validado, composto por 14 itens que foram avaliados mediante uma escala de Likert de 1-5, desde 1 para discordo plenamente a 5 para concordo plenamente. Os dados coletados foram organizados em planilha e calculadas as frequências relativas e absolutas das variáveis. O estudo obteve apreciação favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 58511516.0.0000.5292). A amostra foi composta por 37,4% de enfermeiros, 58,6% de técnicos de enfermagem e de 4,0% auxiliares de enfermagem. Quanto ao questionário aplicado, observou-se que 83,3% concordam plenamente e 16,7% concordam que a simulação é uma metodologia interessante; 84,6% concordam plenamente e 15,4% concordam que a simulação realística foi útil; 79,5% concordam plenamente e 20,5% concordam que contribuiu para o ensino do conhecimento e habilidades sobre o processo transfusional; 80,3% concordam plenamente e 16,7% concordam que ajudou no aprendizado sobre a temática; 60,3% concordam plenamente e 39,7% concordam que observar a realização do procedimento contribuiu para o aprendizado; 74,4% concordam plenamente e 25,6% concordam que o facilitador os ajudou a aprender o procedimento abordado; e 71,8% concordam plenamente e 26,9% concordam que sentem-se satisfeitos com a simulação. Desses itens em questão, notou-se que ninguém marcou que discorda de algum deles. Além disso, 69,2% concordam plenamente e 29,5% concordam que a metodologia proporciona feedback imediato; 64,1% concordam plenamente e 25,6% se sentiram motivados ao realizar a simulação; 50% concordam plenamente e 44,9% se sentem capazes de realizar o procedimento em uma situação real. Apenas três itens do questionário de satisfação obtiveram “Discordo” como resposta, os quais foram: “Motivado ao realizar a simulação” com 1,3% das respostas, “Me sinto capaz de ensinar a outros colegas” também com 1,3% e “Carga horária satisfatória” com 9,0% das respostas para o item. Assim, unindo as respostas daqueles que responderam “Concordo plenamente” e “Concordo”, obtém-se 96,3% de satisfação dos participantes com a simulação como estratégia de ensino-aprendizagem. A partir dos resultados, observou-se que a maioria dos participantes consideram a metodologia interessante, útil e contribuinte para o ensino do conhecimento e habilidades. Logo, isso demonstra que, diferentemente da metodologia tradicional, a metodologia ativa desperta o interesse, atrai o aprendiz e contribui para o desenvolvimento do raciocínio crítico-reflexivo quanto à temática abordada. Ademais, a simulação também contribui para aquisição de uma postura mais confiante dos profissionais frente à situação real, conseguindo, assim, tomar decisões de forma planejada, calma e segura. O professor como facilitador, profissional treinado e capacitado, tem um papel bastante positivo na dinâmica da simulação, tendo em vista que ele é o responsável em proporcionar os momentos de reflexão, discussão e troca de experiências. Além do mais, a simulação proporciona um feedback imediato, sinalizando os momentos que necessitam de explicações e esclarecimentos, ponto crucial para avaliar os déficits de conhecimento. Neste momento, quando se aplica a simulação realística à estudantes de graduação, é possível identificar onde se tem maior carência do conteúdo ministrado em sala de aula, tornando uma oportunidade para melhoria da abordagem teórica e enfatização na prática, sanando todas as dúvidas dos alunos. Na aplicação da simulação realística à profissionais da área esse raciocínio também é válido, tendo em vista que nas próximas capacitações é um ponto a ser mais trabalhado. Dessa forma, a satisfação dos participantes em relação à estratégia de ensino-aprendizagem com o resultado acima de 90%, indicam que a simulação realística é uma metodologia que causa grande impacto no processo de ensino-aprendizagem dentro do contexto do ensino, educação permanente e da capacitação de profissionais. Sendo assim, o estudo desenvolvido confirma que é uma prática que deve ser mais aplicada, embora envolva equipe técnica, treinamentos, investimentos, materiais, insumos e espaço físico, pois é importante considerar que a segurança do paciente assistido deve ser garantida diante de qualquer procedimento ao qual ele seja submetido. E, para que isso ocorra, os profissionais devem ser devidamente preparados e qualificados.