Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-21
Resumo
Introdução: As tecnologias consideradas leve-duras referem-se à aplicação de conhecimentos e saberes constituídos e ao modo singular como cada profissional aplica este conhecimento para produzir o cuidado os usuários. Sua utilização pouco a pouco tem sido integrada à prática assistencial pelas equipes de Saúde da Família com o intuito de viabilizar e estimular o cuidado a pacientes atendidos pelo programa HIPERDIA, porém, é um processo que exige a devida atenção, pois, o emprego de métodos errôneos ou inadequados vinculados a essas tecnologias podem ter efeito negativo na adesão terapêutica do grupo ao qual é empregada, diminuindo ou até mesmo inviabilizando o mesmo. Além do mais, tem-se observado que os profissionais de saúde pouco estão preparados para assumir a coordenação e interpretação de fenômenos grupais, seja por carência de atributos e habilidades ou por terem tido pouco contato com as tecnologias em saúde durante a graduação. No acompanhamento terapêutico de usuários diabéticos insulinodependentes, por exemplo, a baixa adesão ao tratamento representa um grande desafio, sendo imperativo, portanto, a busca de estratégias de intervenção que visem minimizar a baixa adesão, em especial atividades de cunho educacional em saúde, voltadas para o enfrentamento dos diversos obstáculos enfrentados pelos usuários na condução da terapêutica insulínica em domicílio. Com vistas no estabelecimento de tais medidas interventivas, o projeto de extensão intitulado “Promoção de saberes sobre a insulinoterapia subcutânea aos pacientes diabéticos da UBS do Guamá”, do Programa Navega Saberes/Infocentros da Universidade Federal do Pará, apresenta como um dos objetivos principais o desenvolvimento de atividades de educação em saúde junto aos pacientes diabéticos em tratamento insulínico assistidos na referida unidade de saúde a partir de tecnologias leve-duras adequadas, promovendo a saúde dos mesmos por agir diretamente nas lacunas que perpassam o tratamento e difundir conhecimentos relacionados aos procedimentos básicos para a autoadministração de insulina em domicílio e importância do seguimento terapêutico. As atividades do projeto são planejadas considerando a realidade dos usuários percebida através de uma escuta sensível, atentando às suas angústias, dúvidas e questionamentos para a formulação de intervenções. Objetivo: Descrever o protagonismo de acadêmicos de Enfermagem na condução de ações de educação em saúde junto a usuários diabéticos insulinodependentes com a utilização de tecnologias leves-duras em saúde. Descrição da experiência: A experiência em questão é resultante das atividades do projeto de extensão citado anteriormente, tendo esta acontecido entre os meses de agosto a dezembro de 2017, no decorrer do desenvolvimento das ações extensionistas de educação em saúde propostas pelo projeto, sendo estas realizadas na UBS do Guamá, localizada no município de Belém, Pará. A vivência possibilitou-nos maior contato com as mais variadas realidades inerentes ao cotidiano dos usuários atendidos pelo programa HIPERDIA, em especial os diabéticos que procediam o tratamento através de insulinoterapia em domicílio, público-alvo das atividades. O método de abordagem que escolhemos para atuar junto aos usuários participantes foi baseado na utilização de tecnologias leve-duras em saúde, voltadas para a promoção do autocuidado e protagonismo dos usuários no que diz respeito à sua própria saúde, oportunizando um espaço dialógico de compartilhamento de dúvidas e questionamentos sobre a autoadministração de insulina subcutânea, a troca de experiências sobre esta modalidade de tratamento e a exposição dos principais obstáculos encontrados para o tratamento insulínico. Além do exposto, destacamos que as atividades foram baseadas segundo a metodologia ativa, a qual considera como viáveis novas formas de ensino-aprendizagem e de organização curricular na perspectiva de integrar teoria-prática, ensino-serviço, as disciplinas e as diferentes profissões da área da saúde, além de buscar desenvolver a capacidade de reflexão sobre problemas reais e a formulação de ações originais e criativas capazes de transformar a realidade social. A questão preponderante para a escolha do método de abordagem aos usuários foi a possibilidade de fuga do padrão tradicional com o qual a educação em saúde é trabalhada na atenção primária. Procuramos, durante o contato com os usuários, utilizar de uma linguagem de fácil compreensão, clara e objetiva, com palavras que faziam parte do cotidiano dos usuários. Para tanto, assumimos, enquanto discentes-extensionistas, um papel de direcionadores e facilitadores das temáticas abordadas nas ações, intervindo com esclarecimentos e orientações, caso fossem necessários. Os principais direcionamentos voltaram-se para o entendimento facilitado sobre a doença, considerações a respeito da autoadministração da insulina e monitorização dos níveis glicêmicos. Os materiais que utilizamos para a realização das ações foram inteiramente de nossa autoria e confecção, sendo estes moldados para contemplar temáticas indispensáveis do diabetes mellitus e da terapêutica insulínica, dentre as quais podemos citar: O que é diabetes?; Sinais e sintomas do diabetes; Como prevenir agravos relacionados ao diabetes; Adesão ao tratamento; Insulinoterapia (técnica de administração subcutânea, principais áreas de aplicação, importância do rodízio terapêutico e descarte adequado dos insumos) e monitorização dos níveis glicêmicos. Os materiais produzidos foram: Flipchart, enfatizando conceitos a partir de palavras e imagens chaves envolvidas no tratamento, utilizado para dar início ás ações, para deter a atenção dos usuários; Boneco de pano evidenciando as principais áreas de possível autoadministração de insulina, de grande relevância no momento prático ofertado aos usuários; Jogo de Mitos & Verdades sobre a insulinoterapia, com a utilização de placas-respostas, por meio do qual os usuários tinham a opção de desmistificar crenças sobre a doença e a terapêutica, bem como manifestar suas dúvidas. Representava também um momento de avaliação do método empregado; uma cartilha desenvolvida com orientações básicas sobre diabetes e insulinoterapia, evidenciando aspectos indispensáveis sobre a técnica de administração subcutânea, rodízio de aplicações e monitorização glicêmica, com espaços para anotações importantes; e insumos utilizados na autoaplicação para um momento prático. Todas as ações duraram em média uma hora e meia, com característica quinzenal, e foram amparadas pela coordenação da enfermeira-docente responsável pelo projeto. Resultados: A vivência proporcionou-nos, enquanto acadêmicos, maiores conhecimentos sobre realidade dos usuários insulinodependentes, em especial no que se refere às dificuldades frente à terapêutica. A ação proposta recebida de forma satisfatória pelos usuários, sendo essa receptividade percebida pela forma em que o método foi acolhido, com total interesse do público-alvo pela temática em questão, tão próxima da realidade diária dos mesmos. Percebemos a participação efetiva dos usuários, compartilhando saberes, sanando dúvidas e curiosidades no decorrer da conversa, expondo suas experiências subjetivas. A possibilidade de intervir na realidade com o uso da educação em saúde representou um grande aprendizado não contemplado pelo currículo da graduação. A experiência foi também eficaz ao reafirmar a importância da assistência de enfermagem, com ênfase no autocuidado, como uma alternativa encontrada para viabilizar a adesão ao tratamento, melhorar a qualidade de vida e reduzir os elevados encargos à família, à sociedade e ao sistema público de saúde. Considerações finais: Percebemos com a vivência a essencialidade da educação terapêutica na atenção primária, cabendo aos profissionais de saúde a adoção de atividades educativas em grupo para evidenciarem os programas de atenção integral, sendo possível por meio destas construir alternativas, transformar comportamentos desfavoráveis à saúde e apoiar o fortalecimento de atitudes saudáveis, a fim de que seja possível uma verdadeira adesão ao tratamento insulínico, controle glicêmico e redução da incidência de possíveis complicações decorrentes do diabetes mellitus.