Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Educação Permanente em Saúde: O autocuidado como mecanismo de prevenção de agravos em hipertensos
Elton Junio Sady Prates, Maria Luiza Sady Prates, Maisa Tavares de Souza Leite

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença crônica não transmissível, definida como uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados da pressão arterial que apresenta alta prevalência e baixas taxas de controle, configurando-se como um grave problema de saúde pública (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2016). Além disso, a HAS apresenta custos onerosos ao sistema público de saúde decorrente dos agravos da enfermidade, bem como pode favorecer o comprometimento da qualidade de vida dos usuários com a progressão da patologia. Embora haja diversos agravos relacionados à HAS, o autocuidado apresenta-se como um efetivo instrumento de prevenção e promoção da saúde, sendo conceituado como a realização de atividades que os indivíduos desempenham em seu próprio benefício para manter a vida, saúde e o bem-estar na busca da concepção ampliada de saúde (MENDES et al., 2016). Por outro lado, a Educação Permanente em Saúde (EPS) emerge como uma ferramenta que transcende a pedagogia tradicional, que não reconhecem os sujeitos enquanto atores sociais do processo educativo e como protagonistas do binômio saúde-cuidado. Nesse sentido, as práticas de educação em saúde junto a usuários portadores da HAS mostram-se importantíssimas, pois elas buscam a emancipação desses sujeitos e corroboram com a construção de ações que estimulem a adoção de comportamentos favoráveis à sua qualidade de vida. Ressalta-se que essas ações devem estar ancoradas no conceito de promoção da saúde, buscando o empoderamento desse usuário e corroborando com a melhora de sua saúde (MASCARENHAS; MELO; FAGUNDES, 2012). Diante disso, objetiva-se evidenciar a importância da realização de uma prática de EPS, realizada junto a hipertensos atendidos pelo Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos na sala de espera de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município de Passos, na busca da construção coletiva do conhecimento, formação acadêmica e, prioritariamente, para a promoção da saúde, a prevenção dos agravos relacionados à HAS e a melhoria da qualidade de vida dessa população. Descrição: Trata-se de um relato de experiência da realização de uma prática de EPS. Foram realizados três encontros entres os meses de outubro e novembro na sala de espera para atendimento médico da ESF localizado no Centro, na cidade de Passos, em Minas Gerais. As atividades foram desenvolvidas e promovidas por estudantes do curso de Enfermagem, sendo dois bolsistas, duas voluntárias e a orientadora, oriundos do projeto de pesquisa intitulado: “Estratificação do Risco Cardiovascular em Hipertensos: Avaliação de hábitos e desenvolvimento de oficinas educativas”. As ações educativas contaram com a participação de 16 usuários do serviço local, que aguardavam o momento da consulta médica. Todas as ações iniciaram-se dispondo os participantes em uma roda e foram explicados os objetivos dessa intervenção. Houve a discussão do conceito ampliando da HAS, importância da realização de atividade física moderada, benefícios relacionados à hidratação adequada, necessidade de uma alimentação balanceada, necessidade da realização de consultas e exames regulares e abordaram-se também os agravos relacionados ao consumo de álcool, cigarro, automedicação e os riscos da associação entre HAS e diabetes, principalmente as doenças cardiovasculares. Logo após esse primeiro momento, foi discutido, por meio de uma dinâmica pautada na interação, de problematização das práticas e dos saberes, os mitos e verdades relacionados à HAS. Foi distribuído a todos os participantes uma placa descrita verdade e outra mentira, onde os participantes deveriam levantar uma delas após a leitura de algumas proposições, tais como: hipertensão é mais comum entre as mulheres; o estresse aumenta a pressão arterial; hipertensão tem cura, entre outras. Resultados: As atividades realizadas na sala de espera da ESF compõem parte de um projeto de pesquisa. Elas propiciam, primariamente, a democratização e popularização do saber científico junto àqueles que não têm acesso, difundindo informação e saberes de forma dinâmica a indivíduos de diversas condições socioeconômicas e permitindo-lhes compartilhar de forma coletiva e humanizada percepções, reflexões e saberes. Salienta-se que essas ações corroboram com a conscientização dos mediadores no sentido de aprimorar o senso crítico em prol de uma práxis mais humana e contextualizada com as necessidades, vulnerabilidades e anseios da população, bem como subsidiam ações ativas e que buscam levá-los a transformação. A sala de espera apresenta-se como um importante e democrático espaço de promoção à cidadania, socialização, estreitamento das relações interpessoais e propenso para a realização de grupos educativos, pois é concebida enquanto um espaço diversificado, comportando usuários de todas as faixas etárias, com diferentes perfis de saúde, e que abrangem um número expressivo de sujeitos, privilegiando o diálogo e a discussão de todas as interfaces, perpasses e perspectivas que permeiam a vida dos usuários e que estão, muitas vezes, apreensivos e com expectativas em relação à consulta médica. Ressalta-se que a atividade realizada contou com intensa participação e atenção dos usuários, os quais argumentaram e expuseram experiências pessoais, estimulando os demais participantes. Além disso, os usuários consideraram as ações educativas muito importantes e enriquecedoras, pois permitem haver uma permuta de saberes, experiências e aprendizados, e sugeriram que ações como essa fossem realizadas com frequência na unidade, no ambiente de sala de espera. A prática da EPS realizada condiz com a literatura, onde evidencia que a educação em saúde necessita pautar-se em um modelo dialógico, partindo do diálogo horizontal entre os profissionais e usuários do serviço, rompendo com o caráter da hierarquização dos saberes. Assim, esse modelo favorece a construção coletiva e individual do conhecimento, possibilitando uma visão crítica e reflexiva da realidade. Destaca-se que o processo de educação em saúde deve reconhecer o usuário, enquanto protagonista da sua saúde. Nesse sentido, a prática educativa realizada, foi desenvolvida de forma dinâmica, interativa e em clima informal, respeitando os saberes de cada sujeito, buscando por meio do diálogo, o consenso amplificado das proposições colocadas. Ao final da intervenção, os sujeitos que participaram foram convidados e puderam avaliar a ação educativa que participaram por meio de um questionário. Considerações finais: Por meio desta prática educativa, evidenciou-se que a EPS na sala de espera apresenta-se como um importante instrumento para se trabalhar a promoção de saúde e prevenção de agravos junto a hipertensos, pois permitem que os sujeitos repensem sobre o seu papel de protagonista no tripé saúde-doença-cuidado. Além disso, promovem a reflexão sobre seus saberes, práticas e seu próprio bem-estar, favorecendo com que adotem práticas que subsidiem a melhoria da saúde individual e coletiva. Destaca-se ainda, que houve a avaliação positiva das intervenções realizadas, sugerindo a efetividade das mesmas. Considera-se, portanto, que abordagens dinâmicas, problematizadoras, dialógicas e reflexivas contribuem para a promoção da reflexão-ação-reflexão, do autocuidado, empoderamento e emancipação desses sujeitos, corroborando efetivamente para a promoção da saúde e a prevenção dos agravos relacionados à HAS.

Referências

MASCARENHAS, Nildo Batista; MELO, Cristina Maria Meira de; FAGUNDES, Norma Carapiá. Produção do conhecimento sobre promoção da saúde e prática da enfermeira na Atenção Primária. Rev. bras. enferm., Brasília, v. 65, n. 6, p. 991-999, dez. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672012000600016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 dez. 2017.

MENDES, Cláudia Rayanna Silva et al. Prática de autocuidado de pacientes com hipertensão arterial na atenção primária de saúde. Rev Rene, Fortaleza, v. 17, n. 1, p. 52-59, jan. 2016. Disponível em: <http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/2605/1993>. Acesso em: 01 dez. 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. São Paulo: SBC, 2016. Disponível em: <http://www.sbh.org.br/geral/noticias.asp?id=69>. Acesso em: 01 dez. 2017.


Palavras-chave


Educação em Saúde; Promoção da Saúde; Saúde da Família; Hipertensão; Autocuidado.