Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Oficinas de promoção e prevenção à saúde da mulher às adolescentes internas na Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (FASE): um relato de experiência
Erica Rosalba Mallmann Duarte, Rodrigo da Silveira, Jairo Botelho Santos, Laura Lucena Fuchs, Raquel Carboneiro dos Santos, Ester Angela Walmarca Sangalli, Danusa Pires, Carmen Lucia Mottin Duro

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Trata-se de um relato da experiência dos acadêmicos de enfermagem na organização das oficinas com adolescentes do sexo feminino na FASE bem como do desenvolvimento das mesmas. A Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (FASE) foi criada a partir da Lei Estadual nº 11.800/2002 que propõe a continuidade ao processo de reordenamento institucional iniciado com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069/90). A  reorganização das instituições e entidades no país para atendimento às crianças e adolescentes foi necessária tendo em vista a adequação às  mudanças apresentadas pelas diretrizes da Doutrina de Proteção Integral do ECA. Um dos mais importantes avanços trazidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi à distinção entre o tratamento a ser dispensado a crianças e adolescentes vítimas de violência e abandono e o tratamento a ser dispensado aos adolescentes autores de ato infracional. Com isso, foi alterada a lógica de atendimento direcionada a estes públicos, especializando-se a FASE no atendimento exclusivo a adolescentes autores de atos infracionais com medida judicial de internação ou semiliberdade. No Rio Grande do Sul, a FASE tem várias unidades que se destinam à execução de medida de internação, entre eles o Centro de Atendimento Socioeducativo Feminino, onde foram realizadas as oficinas. A   FASE é uma instituição voltada a ações socioeducativas e demonstra interesse de parcerias que promovam essas ações, assim, as faculdades e universidades constituem-se em possibilidades para a atuação com os jovens, para a promoção de ações que envolvam a educação, a cidadania e o respeito. A Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul têm como missão investir na formação de profissionais críticos e competentes, aptos a atender as necessidades de saúde da população. No 8º º semestre do curso de Bacharelado em Enfermagem, a Disciplina Administração em Enfermagem nos Serviços de Saúde, vem desenvolvendo suas práticas de ensino, na rede de atenção básica, na UBS Vila Cruzeiro – FASE, localizada no Distrito de Saúde Glória-Cruzeiro-Cristal em Porto Alegre, RS. Essa Unidade está localizada em um prédio da FASE, cedido à Prefeitura Municipal de Porto Alegre, a mais de trinta anos. Assim, a presença dos acadêmicos nesta Unidade de Saúde fomentou a iniciativa de firmar parceria com a FASE, com objetivo de auxiliar na organização de oficinas de promoção e educação à saúde para as jovens que estão em sistema internação no Centro de Atendimento Socioeducativo Feminino(CASEF). Desenvolvimento: Utilizou-se o conceito de que oficinas são técnicas de trabalhos e destacam-se por ser um trabalho estruturado em grupos, com encontros estabelecidos, sendo focalizado em torno de uma questão central a que o grupo se propõe a elaborar em um contexto social. As oficinas foram realizadas no CASEF. Esse centro tem capacidade para 33 adolescentes e destina-se ao atendimento de adolescentes do sexo feminino que cumprem medida de semiliberdade, Internação com Possibilidade de Atividade Externa (ICPAE), Internação sem Possibilidade de Atividade Externa (ISPAE) e Internação Provisória. As oficinas foram focadas no publico feminino, levando em conta as linhas de ação de saúde propostas pelo “Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário”, especificamente em relação à saúde da mulher. No primeiro encontro realizado em outubro de 2017 foi lançado o questionamento no grupo de adolescentes: O que é ter saúde, na sua opinião? Houve participação da maioria presente. Em um segundo momento, houve a entrega de papéis e canetas, no qual foi solicitado que os participantes escrevessem o que era ter e não ter saúde. Ao final, foi realizada a leitura das escritas e o esclarecimento de algumas dúvidas que surgiram sobre diferentes assuntos dentro da área da saúde. Dentre os assuntos discutidos, destacou-se dúvidas a respeito de infecções sexualmente transmissíveis (IST), entre elas o HIV e AIDS, uso de preservativos e métodos anticoncepcionais. Na segunda atividade, houve a apresentação dos métodos contraceptivos, questionados na oficina anterior. Foram apresentados os modelos de preservativo feminino e masculino, diafragma, assim como materiais ilustrativos em plástico e silicone de mamas e do aparelho reprodutor feminino e masculino. Foi realizada a demonstração da colocação dos preservativos e diafragma, os materiais foram manuseados pelas participantes, com o esclarecimento imediato das dúvidas que surgiam. Foi explanado sobre o auto-exame de mamas e forma realizar o auto-exame, destacando a importância da detecção precoce de alterações no tecido mamário para prevenção do câncer de mama.Resultados e impactos:Surgiram dúvidas sobre a anticoncepção oral e injetável, que foram discutidas no grupo e foi prestado esclarecimentos quanto às apresentações farmacológicas disponíveis na Unidade de Saúde, que consistem no formato injetável mensal e trimestral e nos anticoncepcionais orais. Foram questionados aspectos relativos às infecções sexualmente transmissíveis, o que gerou a necessidade de organização de uma terceira oficina que será apresentada em dezembro do corrente ano. As oficinas contaram com a presença dos acadêmicos, de uma docente de enfermagem, de uma enfermeira da unidade de saúde e da enfermeira e da técnica de enfermagem da CASEF. Cabe salientar que a participação da enfermeira e da técnica de enfermagem do CASEF foi de extrema importância pelo fato desses profissionais de saúde de conhecer o dia-a-dia das internas e ter possibilidade de contribuir no esclarecimento das dúvidas e questionamentos das mesmas, ajudando a encaminhar as orientações em relação à temática tratada. As oficinas de promoção à saúde buscaram impactar na saúde da mulher como um todo, inserindo-se nos programas já instalados no sistema da Instituição para atender à jovem com privação de liberdade de acordo com as necessidades que são apresentadas durante o tempo em que estiver interna. Considerações Finais: A temática IST/HIV vem sendo discutida por muitos estudos, pois se entende que as pessoas sob tutela do sistema prisional apresentem, devido às suas características, maior risco às estas infecções. Nas oficinas essa temática foi tratada de forma não reducionista, mas envolveu outros aspectos que permeiam a saúde da mulher. Além disso, o sistema prisional envolve pessoas com cultura, valores, conhecimentos, vivências, experiências variadas. E cada pessoa chega à FASE com uma realidade. Destacando-se que as condições biopsicossociais das adolescentes que se encontram no sistema de internação ou semiliberdade na FASE  são relevantes na situação de saúde geral das mesmas, identificou-se que a elaboração dessa atividade possibilitou a inserção das jovens mulheres em ações de prevenção e promoção à saúde busca qualificar a sua integridade física e mental. A estratégia utilizada por meio das oficinas, propiciou às adolescentes a oportunidade de interagir com pessoas diferentes do seu cotidiano e colaborou imensamente com os acadêmicos de enfermagem. O trabalho em uma instituição como a FASE tornou possível apreender o conceito de saúde com uma percepção fora da academia, além da humanização do cuidado desenvolvido às adolescentes que ali estão.


Palavras-chave


saúde da mulher, promoção à saúde, restrição de liberdade