Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A experiência da inserção de acadêmicos do curso de medicina do interior do Amazonas no âmbito da Atenção Primária a Saúde: contribuições para a formação profissional.
Larissa Pessoa de Oliveira, Maria Clara Paulino Campos, Raphaelly Venzel, Sabrina Macely dos Santos, Rodrigo Vásquez Dan Lins, Cléber Araújo Gomes, Daiane Nascimento de Castro

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: A Atenção Primária à Saúde (APS) consiste em uma estratégia de organização da atenção à saúde que reúne um conjunto de ações individuais e coletivas voltadas para atender a maioria das necessidades de saúde da população. É compreendida também como uma atenção ambulatorial não especializada que oferta um conjunto de atividades clínicas de baixa densidade tecnológica que englobam desde a promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos e doenças até o diagnóstico, tratamento, reabilitação. O profissional médico desempenha papel fundamental no contexto da APS, sendo exigido a capacidade de atuar em diferentes cenários com proximidade do sujeito e da sociedade condizente com a realidade da saúde do país e da região atuante. Neste sentido, em 2014, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina passaram a apontar para a valorização das ações no nível primário à saúde como ação-chave no processo de formação. Para alcançar tal objetivo, faz-se necessário a inserção do aluno precocemente em atividade práticas relevantes para vida profissional utilizando diferentes cenários e possibilitando o estudante de conhecer e presenciar situações variadas. O presente relato objetiva descrever atividades realizadas pelos acadêmicos do curso no contexto da atenção básica, bem como as contribuições para o processo de formação.

Desenvolvimento: As atividades da primeira turma do curso de Medicina do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas foram iniciadas em outubro de 2016, no município de Coari. A matriz curricular do referido curso possui oito disciplinas denominadas de “Família e Comunidade”, totalizando uma carga horária de 1545 horas teórico-práticas, o que corresponde a 30% da carga horária das disciplinas obrigatórias. Até o presente momento, os estudantes cursaram três semestres do curso, estando inseridos desde o primeiro período nas unidades básicas de saúde a fim de acompanhar os profissionais que compõem a Equipe de Saúde da Família e compreender o processo-saúde doença em uma perspectiva mais ampla. No primeiro ano, as atividades da disciplina foram desenhadas para contemplar tópicos de territorialização, diagnóstico da situação de saúde, identificação de determinantes/condicionantes sociais da saúde e estratégias de educação em saúde. Os estudantes inicialmente identificaram a estrutura da APS no município, descrevendo número de UBS, equipes, principais procedimentos e serviços ofertados. Posteriormente, foram divididos em grupos compostos por quatro ou cinco estudantes, supervisionados por um tutor/facilitador, o qual foi responsável por conduzir as práticas e as discussões. Na primeira visita foi feito o reconhecimento da estrutura da UBS e nas práticas subsequentes os acadêmicos acompanharam e auxiliaram os Agentes Comunitários de Saúde em suas rotinas de cadastramento e acompanhamento de famílias, atividades de educação em saúde e visitas domiciliares.  Os médicos, enfermeiros e odontólogos das equipes também foram acompanhados com o intuito de compreender e reconhecer a importância da equipe multiprofissional e interdisciplinar para a produção da saúde. As discussões sobre clínica ampliada foram suscitadas, sendo acompanhadas das práticas sobre acolhimento ao usuário que englobaram rodas de conversa e fomento a escuta qualificada, desde a recepção da unidade até o término de consulta/procedimento na UBS, ou mesmo encaminhamento para outro nível de atenção.

Já no segundo ano, foi dada ênfase nas ações de promoção da saúde e de prevenção de riscos e doenças e identificação das afecções mais comuns no âmbito da atenção básica. Os acadêmicos passaram a acompanhar os profissionais médicos em sua abordagem clínica, focalizando no histórico do paciente e aspectos determinantes da doença. Foi possível também, compreender o Sistema Único de Saúde em sua totalidade, com os mecanismos de referência e contrarreferência, as principais limitações da atenção básica, sendo associados os conhecimentos teóricos de saúde coletiva com a prática de acordo com a realidade do município. Cada acadêmico de medicina realizou em média 20 dias não consecutivos, em cada período, de acompanhamento com os diversos profissionais atuantes em consultas e em visitas domiciliares.

Resultados: A partir das práticas realizadas até aqui, foi possível inserir os estudantes do curso de medicina nas unidades básicas de saúde desde o início do curso, de forma não isolada e sem dissociar o aprendizado prático do teórico. Houve uma articulação dos conteúdos do ciclo básico que tem contribuído para a formação de profissionais capazes de atuar na maioria dos problemas, de forma crítica, reflexiva, humanizada, valorizando a ética e o entendimento da complexidade do processo saúde-doença. Propiciou-se ainda a compreensão e exercício dos pressupostos da clínica ampliada, pautada nos conhecimentos biológicos, sociais, econômicos e políticos, mantendo, assim, a qualidade e integralidade do atendimento. A participação dos estudantes nas atividades propostas favoreceram a identificação das demandas da comunidade e o aperfeiçoando as ações de saúde para a coletividade e com os baseados em uma visão abrangente dos determinantes sociais e da integralidade do cuidado. Outro aspecto que é importante ressaltar é que os acadêmicos deixaram a posição de espectador para assumir o papel de partícipes ativos.  A vivência em realidades variadas e com a diversidade de casos estudados promoveu o aprimoramento de habilidades técnicas e comportamentais necessárias para a resolução de problemas. Foi estimulado também um contato mais próximo com o usuário estabelecendo uma relação de confiança e, consequentemente maximizando a resolutividade do atendimento, sendo trabalhadas as habilidades no diálogo e entendimento com o paciente, a família e a equipe de saúde. No entanto, algumas questões devem ser refletidas, tais como a carência de profissionais na atenção básica e falta de recursos materiais, o que compromete as práticas e a atenção prestada ao usuário e a comunidade. Além disso, há uma alta rotatividade de profissionais, sobretudo dos profissionais médicos, afetando em especial a longitudinalidade do cuidado característica central deste nível primário.

Considerações Finais: A inserção precoce dos acadêmicos de medicina na comunidade permitiu a articulação teórico-prática dos conhecimentos de saúde coletiva, compreensão da realidade e necessidades de saúde no contexto local e a compreensão ampliada do processo saúde doença. Foi possível compreender ainda que, embora trate-se de um nível de atenção que utiliza recursos de baixa densidade tecnológica, é possível fazer clínica de qualidade e promover o cuidado e melhor qualidade de vida à população.  A partir das atividades, foi possível conhecer a importância do trabalho em equipe, e das atribuições tanto dos médicos quanto de outros profissionais da saúde, bem como o funcionamento do SUS, APS, suas potencialidades e desafios. A observação e o conhecimento do espaço e dos determinantes em que os usuários estão inseridos contribui para um atendimento mais resolutivo e de qualidade em nível atenção básica, por fim ampliando as estratégias de intervenção.  Não há dúvidas que as práticas contribuíram para a construção de uma visão holística dos usuários e os caminhos possíveis para o trabalho em conjunto com a equipe multiprofissional.


Palavras-chave


educação primária a saúde; educação médica; estudantes de medicina