Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A implantação da Rede de Atenção Psicossocial a partir da desinstitucionalização de um macro hospital psiquiátrico.
Alice Medeiros Lima, Ândrea Cardoso de Souza

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Trata-se de um trabalho que aborda o fechamento de um macro hospital psiquiátrico localizado no município de Rio Bonito, na região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro, o Hospital Colônia de Rio Bonito (HCRB) e o impacto para a implantação da Rede de Atenção Psicossocial a partir desse processo de desinstitucionalização. Objetivo: analisar os processos de desinstitucionalização a partir do fechamento do HCRB. Foi realizada uma pesquisa com documentos referentes ao processo de desinstitucionalização, cedidos por gestores que tiveram participação ativa no fechamento do HCRB, o que possibilitou o conhecimento do destino desses pacientes após a alta e como os municípios construíram suas redes para o retorno de seus munícipes. Posteriormente, foram colhidas narrativas dos participantes dessa pesquisa, que foram cinco gestores dos âmbitos estadual e municipal, envolvidos diretamente na desinstitucionalização do HCRB. Resultados: entre 2012 e 2016, quando ocorreu o fechamento definitivo do HCRB, foram 255 altas, que aconteceram da seguinte maneira: em 2012 foram 68; em 2013 foram 35; em 2014 foram 50; em 2015 foram 43 e em 2016 foram 59. A ação durou 4 anos e foi possível êxito a partir de um trabalho de conscientização em diversos espaços, como nas Comissões Intergestores Regionais (CIR), na Comissão Intergestores Bipartite (CIB), Grupos Condutores estadual e regionais, assembleias de secretários do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Rio de Janeiro , fóruns, entre outros. A maior parte dos pacientes foi para residências terapêuticas em seus respectivos municípios de origem (51%), o que mostra uma organização da rede para receber esses usuários, com fortalecimento da política de desinstitucionalização; 60 (24%) pacientes conseguiram retorno familiar, o que demonstra ainda uma fragilidade de laços afetivos; 49 (19%) pacientes foram transferidos para outras instituições, a maioria delas também são hospitais psiquiátricos, o que demonstra ainda uma rede substitutiva com poucos dispositivos com condições de receber essa clientela, apenas 1% foi encaminhado para outro tipo de serviço e durante este processo tiveram 5% de óbitos. Ao lançarmos um olhar para a clientela do HCRB, vemos que as internações ultrapassavam a lógica das regiões de saúde, absorvendo inclusive, pacientes de outros estados do Brasil. Após pactuação entre as três esferas (municipal, estadual e federal), os gestores assumiram o compromisso de receber os seus usuários. Os principais impasses identificados foram: falta de rede nos municípios; muitos profissionais sem experiência e com pouca ou nenhuma formação no campo da saúde mental; resistência diante do fato de pacientes graves viverem fora do hospício; lentidão nos processos burocráticos; falta de documentação dos pacientes; falta de renda financeira; suporte familiar precário; alta rotatividade de profissionais. Considerações Finais: O processo apresentou grande potência em relação à construção da RAPS. Os municípios que tinham pacientes na instituição precisaram organizar e montar suas redes a partir do fechamento. É possível afirmar que a RAPS se fortaleceu a partir desse processo, mas a luta por sua manutenção e aprimoramento, é diária.

Palavras-chave


Saúde Mental; Desinstitucionalização; Rede de Atenção Psicossocial