Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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COMPREENSÃO DE UM GRUPO DE ADOLESCENTES SOBRE SAÚDE E DOENÇA
TANIA MARIA ASCARI, GICÉLIA PITTIGLIANI JORGE, MARILEI MARIA KIELB, ANDREA NOEREMBERG GUIMARÃES, MARIA LUIZA BEVILÁQUA BRUM

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


A adolescência é uma etapa da vida entre a infância e a vida adulta, marcada pelo desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pela maneira com que o adolescente busca alcançar os objetivos diante das expectativas culturais da sociedade em que vive. Este estudo é um recorte da pesquisa intitulada “Vivências e entendimentos de adolescentes sobre saúde, doença e drogadição” e teve como objetivo elucidar a compreensão de um grupo de adolescentes sobre saúde e doença. Para isso foram entrevistados 30 adolescentes, que participavam do Programa de Oficinas Educativas da Organização Não Governamental (ONG) ‘Verde Vida’, do município de Chapecó (SC) que atua desde 1994, desenvolvendo um trabalho social, educacional e ambiental. A ONG está situada no Bairro São Pedro, onde vivem aproximadamente quinze mil famílias. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, do tipo exploratório-descritivo; as informações foram coletadas nos meses de março a maio de 2014 por meio de entrevistas semiestruturadas individuais com perguntas abertas e fechadas; utilizou-se o método de análise temática proposta por Minayo para tratamento dos dados. Foram observadas as exigências éticas e científicas sobre a pesquisa envolvendo seres humanos, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado com CAAE Nº 19748614.6.0000.0118. Do total de 30 adolescentes participantes, 19 eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino com idade entre 10 a 17 anos. Em relação a escolaridade dos adolescentes, 3% estavam no 5º ano; 17% no 6º ano; 43% no 7º ano; 17% no 8º ano e 7% no 9º ano do ensino fundamental; 13% estavam cursando o 1º ano do ensino médio. A maioria dos adolescentes participantes (58%), eram oriundos de famílias nucleares, morando com os pais e os irmãos, 14% moravam com família extensa ou ampliada, sendo tios, primos e avós, 28% moravam somente com um dos progenitores (monoparental) e metade desse percentual relataram que os pais são separados. A partir da análise dos dados coletados, emergiram três categorias: Saúde e doença como processos biológicos; Causas de danos à saúde: vulnerabilidades sociais e ambientais; e O autocuidado como fator de proteção da saúde e prevenção à doença. Verificou-se que para alguns adolescentes, saúde e doença são definidas como um processo biológico e natural do ser humano, mas que por vezes os processos patológicos aparecem quando o indivíduo descuida de seu estado corporal e sofre influência do ambiente onde vive, ou o estilo de vida inadequado que levam, não favorecem a saúde dos mesmos. Observou-se que os adolescentes, ao discorrerem sobre o assunto, associaram saúde com alimentação saudável, boa higiene corporal e bucal, prática regular de atividades físicas e estar inserido em um meio ambiente saudável. Ao mencionarem a doença, os adolescentes relataram sobre o processo de adoecimento pessoal e familiar. Os adolescentes expressaram sua compreensão sobre as causas de danos à saúde e as vulnerabilidades sociais e ambientais que fazem parte de seu cotidiano; apontaram que as vulnerabilidades se manifestam em violências cotidianas, no contexto familiar, escolar e na própria comunidade. Constatou-se que, para os adolescentes a saúde e a doença são resultantes da ação de inúmeros fatores relacionados ao cuidado de si e as vulnerabilidades à que estes estão expostos, englobando aspectos biológicos, sociais e ambientais. Foi possível evidenciar que os adolescentes têm conhecimento de que a vulnerabilidade social e ambiental, podem ser fatores causadores de doenças, bem como reconhecem que vivenciam essas situações no seu cotidiano. Ficou evidente que alguns adolescentes participantes atribuem ao autocuidado, um conhecimento prévio relacionado com o modo de vida, a educação recebida e a cultura praticada; relacionam o autocuidado com o que aprendem no seu cotidiano; sendo que este aprendizado se dá por meio do conhecimento empírico, com base no que observam e aprendem em casa, com a família e  por vezes associados ao conhecimento científico, aprendido na escola através dos conteúdos trabalhados pelos professores e também em Unidades Básicas de Saúde, por meio de palestras, bem como os meios de comunicação e nas oficinas da ONG Verde Vida.  Contatou-se que os participantes têm prévio conhecimento acerca de alguns cuidados preventivos, e o reconhecimento de que algumas atitudes como o uso abusivo de drogas e álcool, associados ao início da vida sexual precoce, bem como a necessidade de afirmação grupal, envolvendo-se em comportamentos de experimentação arriscada, os torna mais suscetíveis às infecções sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e ao risco de tornarem-se quimicamente dependentes. Nota-se que o cuidado consigo mesmos tem grande influência externa, de onde se pode deduzir que as construções sobre ser saudável ou não, se relacionam diretamente com o conhecimento sobre as práticas e cuidados vivenciados. Desta forma, compreende-se que os adolescentes devem ser incentivados para se tornarem sujeitos ativos de seu próprio cuidado, no entanto, para que este empoderamento aconteça, a educação e prevenção em saúde são necessários. Cabe ressaltar que esse papel de educar para o cuidado de si, tem seu início em casa com a família, na escola, nas Unidades Básicas de Saúde e nesse caso específico no Verde Vida, que têm a missão de estimular e fortalecer o entendimento dos adolescentes como protagonistas de seu autocuidado. Percebe-se a importância de práticas educativas que sensibilizem e fortaleçam os adolescentes no desenvolvimento de hábitos saudáveis. Desta forma, destacamos que esta compreensão dos adolescentes acerca do processo saúde e doença é de grande importância para as ações a serem planejadas e desenvolvidas por meio de diálogos, formação de facilitadores em estratégias de educação e saúde, para que os mesmos encontrem respostas e que tornem o processo uma oportunidade de aprendizado. Constata-se a importância de práticas educativas que sensibilizem e fortaleçam os adolescentes no desenvolvimento de hábitos saudáveis, pois a educação em saúde, se torna ferramenta essencial ao considerar que o adolescente já tem conhecimentos e que, por vezes, este precisa ser trabalhado para assim construir e/ou aprimorar suas práticas.  O enfermeiro tem o papel de instrumentalizar, a partir da individu­alidade de cada adolescente, ou seja, ir além da transmissão de conhecimentos científicos e por vezes, deve compreender a essência da educação em saúde e, desta forma, exercer o cuidado sob o aspecto de uma educação crítica e transformadora favorecendo o bem-estar e contemplando em suas ações, tanto individuais quanto coletivas, as necessidades biopsicossociais específicas dessa população. Neste sentido, o adolescente pode ser protagonista do seu cuidado, quando estabelece vínculos de confiança nos serviços de saúde, por intermédio de uma relação paralela com os profissionais, deste modo vai construindo sua identidade, sua independência e criando autonomia, sendo ele próprio promotor de hábitos saudáveis. Diante disso, acredita-se que este estudo oportunizará aos profissionais que atuam com adolescentes refletirem sobre essa temática, auxiliando-os em suas práticas e ações de cuidado no atendimento a esse público.


Palavras-chave


Processo saúde-doença; Adolescente; Enfermagem.