Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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METODOLOGIAS ATIVAS NO TERRITÓRIO: A PLURALIDADE DOS ENCONTROS
Eliana Santos Goldman Pinto, Ramon Sena de Jesus dos Santos, Vatsi Meneghel Danilevicz, Flávia dos Santos Farias, Ana Maria Dourado Lavinsky Fontes, Nairan Morais Caldas, Regiane Cristina Duarte

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação Este relato faz parte das ações desenvolvidas por residentes do Projeto de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Escola de Saúde Pública/Secretaria Estadual de Saúde da Bahia em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Trata-se da experiência de aplicabilidade das metodologias ativas como um potente dispositivo para a reorientação das práticas de saúde na Atenção Básica (AB) e no empoderamento do usuário, visando à corresponsabilização desse sujeito, enquanto cidadão de direito, no processo saúde – doença, na ampliação de sua autonomia, valorizando, portanto, a sua participação como sujeitos ativos na construção do seu autocuidado. Alguns autores referem a metodologia ativa de ensino como um instrumento de transformação, uma vez que parte da leitura de um problema real para gerar aprendizagem, inspirando quebra de protocolos. Esta vem sendo utilizada na área de saúde, para despertar o olhar crítico-reflexivo do profissional, provocando mudanças significativas à medida que este intervém eficazmente na realidade. Um dos cenários para disparar esse processo é a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que de acordo a política de descentralização vigente consiste em um modelo de reorientação das práticas em saúde como parte do contexto social para atender populações adscritas, centrado na pessoa e família em suas singularidades, tendo como princípios norteadores os determinantes e condicionantes de saúde. É neste sentido que as evidências das ações e reações percebidas com a inserção da metodologia ativa, enquanto dispositivo pedagógico-prático do trabalho em saúde de residentes em um território de intervenção da AB se faz importante como pré-requisito do módulo de aprendizagem do programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. A visão ampliada do cuidado embasado na perspectiva dialógica de olhares multiprofissionais em uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família (UESF) levou o grupo de residentes à reflexão sobre os desafios do trabalho em equipe de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família em um município do Sul da Bahia frente à fragmentação do cuidado, utilizando as metodologias ativas como base metodológica de novas formas de produzir o cuidado em saúde. Desenvolvimento A partir de uma cartografia viva do serviço, perceberam-se algumas particularidades ainda presentes no funcionamento da UESF, destacando-se a fragmentação das ações, ausência de espaços de diálogo e relações interpessoais frágeis. A proposta pedagógica do curso está fundamentada nas metodologias ativas, tendo como disparador a espiral construtivista que, segundo alguns autores, constitui um método dialógico aplicado a uma situação problema que amplia a concepção sóciointeracionista e desfragmenta os processos de trabalho. A equipe de residentes responsável por este relato é composta por uma enfermeira, uma nutricionista, um profissional de educação física e uma psicóloga, cada um desenvolvendo atividades do núcleo específico de saber na saúde coletiva. Fomentado numa abordagem multiprofissional, procedeu-se a criação do grupo, - Conhecer e Cuidar -, que apresenta a transdisciplinaridade enquanto gerador de mudanças na oferta e qualificação do cuidado. Foi definida a identificação e priorização de problemas passíveis de intervenção pela equipe de residentes, com modo de ação usuário-centradas e de humanização do cuidado. Portanto, as ações multifatoriais abordam, sistematicamente, as principais situações de vulnerabilidades, utilizando-se da promoção de grupos como o da horta comunitária, o de mulheres além do grupo de atividades físicas, ressignificando o cuidado, a corresponsabilidade e elevando a autoestima dos participantes. Resultados e impactos Para a implementação das intervenções diversos entraves foram enfrentados pelos residentes, o maior deles promover práticas segundo Modelo de Vigilância a Saúde em um cenário com tendência para a perpetuação de ações isoladas, sem correlações e trabalho em equipe fragmentada. Em paralelo, o desafio de desenvolver um trabalho multiprofissional, onde todas as áreas de conhecimento dialoguem entre si à luz das metodologias ativas. A formação tradicional cartesiana e reducionista dos profissionais contribui para a fragmentação dos saberes muitas vezes fruto do aparelho formador e dos serviços. Foi imprescindível “quebrar as caixinhas” inclusive, no próprio grupo de residência, que inicialmente teve dificuldade em “descobrir” o ritmo do trabalho em equipe compartilhado. Assim, percebe-se que as metodologias ativas pautadas na autonomia e pressupondo o autogerenciamento do aprendizado tem sido um potente aglutinador do trabalho em equipe, sendo os encontros com os usuários um importante núcleo potencializador dos encontros de profissionais. Portanto, o grupo Conhecer e Cuidar revelou-se como produto de cuidado que extrapola consultórios e muros da unidade, utilizando o território como espaço de promoção da saúde que reflete positivamente na reorganização do serviço e considerando uma microrede que permite a interlocução das áreas em busca de uma assistência integral, onde elucida-se o protagonismo dos atores sociais envolvidos. Em Rodas de Conversas o Grupo de Mulheres suscita o empoderamento feminino favorecendo um espaço de ajuda mútua e troca de saberes. Já a horta Comunitária potencializa saberes populares sobre plantio e desperta na comunidade o interesse pelos alimentos orgânicos, além de revelar-se um ambiente terapêutico. O Grupo de Atividades Físicastem seu enfoque na promoção à saúde e prevenção das Síndromes Metabólicas, intervindo diretamente no sobrepeso, níveis pressórios e glicemia elevados, tendo considerável diminuição dessas variáveis. Nessa perspectiva, eleva autoestima e atende as demandas terapêuticas de usuários que necessitam de um plano terapêutico de exercícios físicos.Bem como, utiliza de espaços no próprio território para ressignificar (auto)cuidado, levando o usuário aprocurar pelo serviço, de forma a propiciar intersecção entre ações e ofertas existentes no próprio serviço. Para, além disso, torna-se um meio de socialização entre os diferentes atores, experienciando vivências prazerosas enquanto produção de saúde. Logo cabe a reflexão com base no pensamento de um autor quando afirma que pensar a educação na saúde como dispositivo de reinvenção de si mesmo mediante a capacidade de outrar-se, ou seja, permitir a descoberta, produção e acolhimento de outros dentro de nós mesmos, amplia a nossa potência de criação, desbravamento e de curiosidade diante do mundo e da vida. Considerações finais Os diversos encontros de saberes tornam-se enriquecedores à medida que estes se alinham para ressignificar ações que promovam saúde. É nessa pluralidade que a formulação de estratégias que valorizem as práticas contra - hegemônicas se torna possível. As metodologias ativas possibilitaram o autogerenciamento do aprendizado e potencializaram a construção de caminhos inovadores na busca pela integralidade do cuidado.

Palavras-chave


Metodologias Ativas; Equipe Multiprofissional;Estratégia Saúde da Família