Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DIAGNÓSTICO EM SAÚDE – UMA EXPERIÊNCIA DE PRODUÇÃO DE CONSENSOS E CONTRAPONTOS
Izabel de Aguiar Alves Peixoto, Lucas Fernandes Gonçalves, Lucas Fernandes Gonçalves, Mary Ann Menezes Freire, Mary Ann Menezes Freire, Ana Beatriz Villar do Nascimento, Ana Beatriz Villar do Nascimento, Maira Gabriela Silva Marcílio, Maira Gabriela Silva Marcílio, Thayssa Costa dos Santos, Thayssa Costa dos Santos, Marianna Ramos Francisco, Marianna Ramos Francisco

Última alteração: 2017-12-22

Resumo


Apresentação:

Entender a saúde como uma composição ampla que envolve várias dimensões da vida do indivíduo/coletivo, e como os fatores condicionantes e determinantes influenciam nesse processo, é fundamental para um diagnóstico em saúde para além da análise de indicadores, e, com isso, para uma produção de cuidado mais integral e humana.

Nesse sentido, é fundamental entender o território em processo de permanente construção, se caracterizando como um espaço onde a população estabelece relações sociais, vivencia seus problemas de saúde e interage com os profissionais das unidades prestadoras de serviços.

Sendo assim, o estudo tem o intuito de discutir a situação de saúde da população de um território do bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. Procuramos comparar duas realidades vividas dentro do mesmo território: a de quem vive no “asfalto” e a de quem vive na comunidade, considerando a perspectiva dos diferentes atores sociais envolvidos na construção da realidade local.

Método:

Relato de experiência, de natureza qualitativa, do tipo descritivo, que teve como estratégia de coleta de dados a Estimativa Rápida Participativa, tendo como referência uma unidade de atenção primária local. Dessa forma, o território foi vivenciado de forma ativa. Foram realizadas duas visitas à unidade, que serviram de fio condutor para as experiências e aprofundamentos.

A estratégia de coleta de dados fundamentou-se em dados primários e secundários. Os dados primários foram retirados de observações, encontros e conversas sociais, com profissionais de duas Equipes de Saúde da Família da unidade. Durante as visitas, foi possível compreender o processo de trabalho dos profissionais, juntamente, com a explicação sobre o território, caracterização da população e relato de casos que evidenciam a situação de saúde da área. Os dados secundários foram retirados do último Censo realizado pelo IBGE no Brasil, em 2010, do TABNET municipal e do Armazém de Dados, da prefeitura do Rio de Janeiro.

Resultados:

Durante a vivência, foi possível olhar Copacabana, o bairro mais populoso da zona sul da cidade, com 146.392 habitantes, onde 23,2% são pessoas acima de 65 anos, quanto aos aparelhos públicos de lazer, educação, saúde, dentre outros, para além dos indicadores.

O local, de configuração privilegiada, em meados do século passado, era visado como o lugar de moradia ideal para a classe rica e média dos cariocas. Com o passar dos anos, o bairro entrou em um período de declínio e as características dos moradores se modificaram. Atualmente, uma grande parte da população é uma classe média proprietária de apartamentos, mas desprovida de renda.

Apesar da situação atual, o bairro permanece sendo uma referência turística fundamental na cidade. A área oferece uma extensa rede de serviços, incluindo desde hotéis luxuosos até a rede de prostituição e drogas. Dessa forma, ainda há uma grande circulação financeira do capital privado e público e a área permanece sendo favorecida por políticas governamentais tanto no âmbito sanitarista quanto no reforço da imagem positiva do bairro.

Contudo, a área, atualmente, padece com o aumento da violência, sendo uma questão de ordem social, tornando-se um problema para área de saúde, pois afeta a saúde individual e coletiva dos indivíduos envolvidos, causando sofrimento físico e mental aos usuários.

O processo de trabalho das equipes de saúde é dividido em oito áreas, sendo cinco delas da parte considerada asfalto do bairro e as outras três restantes atendem somente moradores de duas comunidades específicas locais. As demandas nessas equipes são diferentes. Elas são baseadas na população de cada uma delas e em suas específicas realidades locais que são intensificadas ainda mais devido à desigualdade social existente.

Esse foi um ponto que nos moveu. Conseguir olhar a unidade e seu território para além dos indicadores. Re-conhecer, nos sinais que vêm da rua, um conjunto vivo de estratégias, de novas modalidades, formas de criar sentido, de produção de outras redes, de outros territórios existenciais e, com elas produzir outras e diversas redes de conexões.

Nas equipes que atendem a população de asfalto a maior da procura por atendimento no CMS é por condições crônicas, degenerativas e relacionadas à saúde mental do indivíduo. A grande maioria dos moradores dessa área foram acostumados com um padrão de vida elevado e com o sistema de saúde suplementar como primeira escolha de assistência à saúde.

Devido às mudanças atuais dos perfis socioeconômicos, tendo em vista o contexto do país, muitos se viram necessitados a recorrer ao sistema público, principalmente ao CMS, como solução para momentos de crise. Inseridos em uma nova microrrede de saúde, que não estão habituados, as queixas na ouvidoria da unidade são comuns e registram a insatisfação dos novos usuários com o tempo e qualidade do atendimento, além de críticas em relação à rede de exames diagnósticos. Há um impacto direto nos processos de trabalho dos profissionais na unidade, revelando casos de assédio moral e pressão da gestão por uma qualidade melhor de atendimento, de acordo com a satisfação dos novos usuários.

Por outro lado, as três equipes de saúde que atendem comunidades e seus usuários, precisam enfrentar problemas relacionados ao tráfico, que vem piorando nos últimos cinco anos, a situação financeira desfavorecida, revelado por dados e pela quantidade de beneficiados pelo bolsa família e bolsa família carioca, e enfraquecimento da habilidade de vida. A população mais atendida em uma dessas equipes é a economicamente ativa, de 19 anos até 49 anos. Esses usuários procuram o CMS por dores musculares ou por acolhimento emocional.

Apesar das condições desfavoráveis evidenciadas, é possível constatar por meio de dados e de relatos, que os moradores dessas comunidades possuem uma situação de saúde superior, envolvendo diversos aspectos da vida, como a relação com o meio ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho, moradia e renda, que moradores de outras comunidades da cidade. Isto porque o bairro está localizado na zona sul do Rio de Janeiro e consegue prover a população com praia, praças, maiores chances de empregos e garantem grande mobilidade graças à rede de transportes existentes no bairro.

Dessa forma, durante o estudo evidenciou-se o quão repleto de contraste sociais o território é e as diferentes demandas existentes, que variam desde grau de complexidade até a origem. Foi também possível analisar os olhares e movimentos, nos planos da micro e macropolítica, dos profissionais de saúde, da população e de um território vivo, que permite a realização de um trabalho, por parte dos profissionais da ESF, como uma ação que surge dos mínimos atos, por dentro do processo de trabalho, em gestos às vezes miúdos, para além dos indicadores, que mudam o rumo de projetos terapêuticos, ressignificam o cuidado, operam na proteção e defesa da vida.

Considerações finais:

A experiência proporcionou uma análise aprofundada dos olhares e movimentos, nos planos da micro e macropolítica, dos profissionais de saúde, da população e do território vivo, além da construção de um pensamento crítico e reflexivo frente a relação entre a população e os agentes que interferem na saúde da mesma.

Só uma pesquisa participativa mediada a partir do encontro com os profissionais proporcionaria reflexões desse modelo, além dos indicadores divulgados por bases de dados. A riqueza do território foi contemplada de forma viva. Reforçamos a importância da vivência de estudantes, gestores e profissionais de saúde como ferramenta de territorialização, essencial para exercer saúde de forma integral



Palavras-chave


condições sociais; atenção primária à saúde; saúde pública