Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O PSICÓLOGO NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM UM MUNICIPIO DO CEARÁ: PROCESSOS DE TRABALHO E DESAFIOS.
Fabiola Goncalves, Riannity Almeida Lima Bezerra, Riannity Almeida Lima Bezerra

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


Este artigo tem como objetivo analisar a atuação dos psicólogos a partir dos cronogramas de atividades desenvolvidas na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Município de Tauá-Ceará, observando as atividades desempenhadas a partir das perspectivas da reforma sanitária e psiquiátrica, preocupando-se com as questões psicossociais reais, no processo saúde-doença e visa contribuir para a reflexão sobre as possibilidades de atuação do psicólogo no contexto da saúde mental e saúde coletiva, visto que a partir das concepções e definições das áreas da saúde coletiva, Paim, 1998, cita os determinantes sociais como área afim, e inserido nesta a saúde metal.

No que se refere ao contexto local, o Estado do Ceará e o assunto discutido, os autores Viana e Lima (2016), afirmam que este contribuiu historicamente na Reforma Psiquiátrica e na oxigenação dos movimentos constitutivos da luta antimanicomial, sendo portanto, uma evidencia concreta dessa contribuição a implementação de políticas inovadoras no SUS.

Esta série de avanços, cada um em sua proporção e contexto histórico, trouxe consigo transformações no Município de estudo, a partir da organização da Rede de Atenção Psiciossocial.

O estudo situa-se no campo da pesquisa qualitativa, configurando-se como exploratória-descritiva, de cunho documental. A pesquisa foi realizada no contexto da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no segundo semestre do ano de 2016,  sobre a atuação dos psicólogos, no município referido. Foram mapeados cinco componentes para visita e análise do cronograma dos profissionais inseridos   levando-se em consideração os espaços de atuação a partir da perspectiva da RAPS.  A escolha do município em questão se deu por ser um município de destaque dentro da RAPS estadual com a implantação de ações que evidenciam: o primeiro município do Ceará a ter leitos psiquiátricos em um hospital geral, implantação de residência em saúde mental e saúde da família, pós-graduação em larga escala envolvendo toda a rede de atenção à saúde com o projeto de planificação da atenção primária.  Foram realizadas visitas nos locais de trabalhos dos psicólogos no período de setembro e novembro de 2016, sendo solicitado na ocasião, o seu cronograma de atividades, também sendo percebida a publicização da informação das atividades, tipos de atividades, duração das atividades, público alvo, atividades realizadas em equipe ou individuais, além da articulação com outras instituições. Para o alcance do objetivo, foram analisados os documentos institucionais que foram os cronogramas das atividades desenvolvidas pelos psicólogos que atuam na RAPS de Tauá, por meio de observação do documento. Após as visitas serem realizadas, e observação dos cronogramas, encontramos psicólogo atuando em quatro áreas e as organizamos da seguinte forma:

  1. Atenção Primária à Saúde: no serviço da Macro II do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF); Atenção Psicossocial: no Centro de Atenção Psicossocial Geral II (CAPS II);
  2. Atenção Psicossocial: no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD),
  3. Reabilitação Psicossocial: Policlínica
  4. Intervenção hospitalar: leitos psiquiátricos no hospital geral

Buscamos inicialmente um mapeamento dos Psicólogos vinculados as equipes em cada componente da RAPS. A configuração do primeiro componente NASF, adotada pelo município, oferece organização de trabalho e território em forma de Macros, sendo composta por 5 macros e portanto, 5 equipes NASF, dividas em 25 Estratégias de Saúde da Família. A escolha pelo estudo na macro II aconteceu pela avaliação de maior tempo de atuação da Psicóloga no contexto da saúde coletiva, e o trabalho de 40 horas semanais.

A psicóloga, a partir de sua agenda de trabalho, realiza atendimentos individuais, por meio de encaminhamentos, não foi identificado momento de discussão de casos, de reunião de equipe, de visitas domiciliares, de atendimentos compartilhados, matriciamento, dentre outras atividades previstas nessa categoria profissional na atenção primária. Nesta perspectiva, identifica-se uma prática do psicólogo ancorada nos saberes da clínica psicológica tradicional, apontando a necessidade da construção pelo que foi exposto sobre a reforma e os novos cuidados em saúde mental, direcionado ao Modelo Assistencial e pela prática da Clínica Ampliada, com novos saberes/fazeres extraclínicos, necessários para a ampliação dos recursos de intervenção no processo saúde-doença, de modo a responsabilizar-se pelo sujeito/cliente em um acompanhamento contínuo e eficaz.

Os Centros de Atenção Psicossocial Geral II e AD(álcool e drogas) do município de Tauá, funcionam como serviços essenciais no cuidado, atenção integral e continuada à saúde mental e por decorrência do uso de álcool e outras drogas, em equipe multidisciplinar, com a presença de uma Psicóloga em cada centro, com carga horária de 40 horas semanais, oferecendo serviços ao público específico de adultos, mas podendo ofertar atendimentos às crianças e adolescentes a partir das necessidades apresentadas, percebemos a partir do cronograma, que as atividades são individuais, ainda centradas na psicologia clínica, curativa, caracterizando um processo de trabalho isolado, distante da proposta do autor mencionado a seguir.

Por fim, o componente da Policlínica Dr. Frutuoso Gomes de Freitas, instalada dentro do Programa de Expansão e Fortalecimento da Atenção Especializada a Saúde do Governo do Estado do Ceará, oferece 10 especialidades médicas e outros serviços em saúde, sendo um desses o atendimento psicológico. Uma psicóloga faz parte da equipe profissional, onde é responsável pela assistência de 4 municípios da 14º Região de saúde de Tauá, com população de aproximadamente 113 mil habitantes.

Nas instituições visitadas, observamos que a atuação dos Psicólogos na realização de um trabalho interdisciplinar ainda não se efetivou enquanto prática e as atividades extraclínicas, como: atendimentos domiciliares, grupos operativos, oficinas terapêuticas, atenção às famílias e interligação com assistência social, entre outros, surgem após demandas exigidas pela gestão ou demais profissionais de trabalho.

Nesse contexto, é importante a contribuição da residencia multiprofissional da RIS/ESP-CE nas RAPS do município de Tauá, que iniciariam como aspecto tencionador e oportunizador da emergência de processos de trabalho votados para as necessidades das pessoas e da rede de atenção a saúde. Apesar da iniciativa da RIS, Podemos inferir que a mudança na rede de atenção só seria perebida com auma formação pautada nesse formato de atuação- em rede e em equipes. Pois como mencionam  Rodrigues e Zanini em sua pesquisa sobre a formação do psicólogo em 2016, de momonstrou que, de modo geral, observa-se a predominância, nos currículos, de conteúdos atinentes à saúde pública e coletiva na interface Saúde Mental-Atenção Básica e, de maneira incipiente, outros conteúdos relativos ao percurso histórico da reforma psiquiátrica brasileira e ao cuidado na lógica da Atenção Psicossocial. Concluiu-se que a formação profissional, ainda balizada no modelo clínico, liberal-privado, caminha na direção da Saúde Pública, apresentando gradativamente sua proposta e oportunizando experiências na rede substitutiva da saúde mental.

Percebemos que o presente estudo se reporta a mudança de paradigmas, bem como, a organização dos serviços e as práticas do psicólogo na RAPS do município de Tauá, apesar de todos os desafios apresentados, a partir da conquista da Reforma Psiquiátrica, a qual se desencadeou a estruturação da rede de serviços substitutivos, onde pudemos encontrar tais serviços no município em questão, mesmo assim ainda há indícios de uma resistência por um modelo de atuação individual, apesar das tensões provocadas pela Residência Multiprofissional e de saúde mental.  Assim, após o mapeamento da atuação do psicólogo na RAPS, percebe-se que há espaço de atuação do Psicólogo, mas que este, não percebeu a tendência de deslocamento da lógica clínica para o serviço de base territorial, pois ainda com resquícios da clinica individual.

 


Palavras-chave


Saúde mental, Rede de Atenção Psicossocial, Gestão do cuidado