Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Escola, arte e saúde mental: diálogos com adolescentes do IFSP a partir do cinema
Jessica Felix Nicacio Martinez, Regiani Zornetta, Rafael A. de Sousa Barberino Rodrigues, Beatriz Haddad, Mirella Soares

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Instituiu-se na contemporaneidade uma constante exigência social pelo bem estar da vida. Tal obrigatoriedade nega aos indivíduos as possibilidades de se compreender o sofrimento e a dor como formas inerentes ao desenvolvimento humano e aprendizados fundamentais à existência social. A manifestação de transtornos mentais apresenta-se, assim, na atualidade, como uma “doença” que deve ser tratada e “curada”, retirando dessa construção social e humana sua complexidade e multidimensionalidade. No âmbito geracional da criança e do adolescente, enfrentamos um processo crescente de medicalização da infância e da naturalização do uso de fármacos no ambiente educacional. Considerando esse contexto, desenvolvemos, durante o ano de 2017, o projeto interdisciplinar: “Quem tem medo do lobo mau: a questão da saúde mental entre adolescentes na contemporaneidade”. O objetivo foi produzir um espaço de debate e reflexão, dentro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo –campus Itapetininga, sobre as questões associadas aos processos humanos de passagem da infância para a vida adulta, contribuindo, com isso, para reduzir o sofrimento percebido entre os alunos do primeiro ano dos cursos de ensino médio integrado diante das tensões próprias da existência e da condição humana. Tal atividade foi proposta em decorrência de uma demanda desencadeada pelos próprios discentes, que no início do ano letivo demonstraram um nível elevado de questões associadas à ansiedade, depressão, transtornos da aprendizagem, bipolaridade e uso contínuo de medicamentos. Ademais, buscamos abordar o tema da saúde mental de um ângulo diferenciado, utilizando-se de ferramentas pedagógicas não tradicionais, pela abordagem cinematográfica, como um meio - através da arte e da cultura - de tornar o tema da saúde mental mais adequada ao universo dos adolescentes. Como resultados, observamos que o projeto contribuiu para criar na escola um espaço de debate e discussões sobre o sofrimento mental dos adolescentes sendo capaz de dar voz aos alunos em um processo de construção dos aprendizados a partir da realidade por eles vivida. O projeto também contribuiu para superar pré-conceitos relacionados à saúde mental que antes eram conhecidos superficialmente pelos alunos, como a questão da loucura, do tratamento manicomial, das drogas etc. De outro modo, também notamos que a estratégia do uso dos filmes para fomentar debates não foi amplamente aceita pelos discentes. Desconfiamos fortemente que a raiz desta rejeição inicial esteja na forma ainda parcial com a qual eles, em geral, lidam com as artes. O cinema, muito especialmente, é reduzido ao mero entretenimento. Porquanto, filmes que pretendam provocar a reflexão, que demandem uma apropriação crítica dessa forma de arte, sejam taxados como “filmes de velhos”. Essa foi uma expressão usada por uma aluna em nossa primeira sessão. Consideramos, contudo que, de maneira geral, o projeto conseguiu proporcionar um espaço fecundo de discussão, debate e do reconhecimento do sofrimento como uma dimensão da existência humana e não só como uma patologia.


Palavras-chave


escola; saúde mental; adolescentes