Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR AGRÍCOLA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Sarah Regina Aloise, Nayara da Costa de Souza, Gabriela Barbosa Silveira, Giovana da Costa Teles, Sara de Sales Cruz, Thais Moreira Gomes, Ana Katly Martins Gualberto Vaz

Última alteração: 2017-12-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: A vigilância em saúde do trabalhador (VISAT) visa à promoção da saúde e a redução da morbimortalidade do trabalhador por meio de ações voltadas para os agravos, atuando de acordo com os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS). A VISAT caracteriza o perfil da saúde dos trabalhadores, identificando os fatores de risco e agravos a fim de elaborar um plano de intervenções. Dessa forma, percebemos a vigilância em saúde do trabalhador como essencial, pois a incidência de casos de acidentes e doenças decorrentes do trabalho no mundo é alta. Nesse sentido, foi realizada uma visita técnica à Comunidade Valparaíso, na qual foi possível entrevistar uma família de agricultores e questioná-los a respeito de suas condições de trabalho, de saúde e exposição aos agrotóxicos. OBJETIVO: Descrever a experiência pedagógica em Vigilância em Saúde do Trabalhador durante uma visita técnica à Comunidade Valparaíso. DESENVOLVIMENTO: A visita ocorreu na Comunidade Valparaíso, localizada no bairro Jorge Teixeira, zona leste de Manaus, Amazonas. Inicialmente os acadêmicos conheceram a comunidade e o cotidiano dos trabalhadores locais. Segundo informações do líder comunitário, lá vivem cerca de 150 famílias de produtores que cultivam hortaliças, principalmente o cheiro verde. Durante a entrevista foram abordadas as seguintes temáticas: 1) condições de trabalho; 2) exposição aos agrotóxicos e; 3) condições de saúde. Após a análise de tais aspectos, tornou-se viável o reconhecimento dos riscos e agravos à saúde desses trabalhadores, de modo que as observações relatadas neste trabalho podem direcionar ações e serviços da VISAT na tentativa de solucionar os referidos problemas. RESULTADOS/IMPACTOS: Em relação às condições de trabalho local, observou-se que necessitam do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), o hábito de não utilizá-los põe em risco a saúde dos trabalhadores, visto que os EPI’s protegem de possíveis riscos relacionados à exposição a agrotóxicos e acidentes de trabalho. Identificou-se que os agricultores utilizam parcialmente os EPI’s, apenas botas, máscara e chapéus para proteger do sol, alegando que o uso de luvas dificulta o manuseio das plantas. Todavia, é necessário, conforme a peculiaridade da atividade, utilizar os devidos equipamentos de proteção da cabeça, dos olhos, da face, dos ouvidos, da pele, das vias respiratórias, dos membros superiores e inferiores, do tronco, proteção contra quedas entre outros. A criminalidade foi outro fator alarmante, os moradores relataram insegurança e aumento de casos de roubo e violência na região. Essa falta de segurança os levou a alterar suas rotinas de trabalho, aumentando o tempo de intervalo de descanso e diminuindo, assim, o tempo de trabalho necessário na lavoura. Em relação à exposição dos agricultores aos agrotóxicos, ao serem perguntados sobre o uso destes, informaram que somente utilizavam adubo químico e/o adubo orgânico, não vendo a necessidade de utilizar agrotóxicos em suas plantações, tendo em vista que é muito raro ocorrerem pragas em sua lavoura. Um dos agricultores informou que faz pulverização leve antes e logo após plantar. Também foi questionado se os mesmos recebiam alguma orientação a respeito do produto e ambos disseram que não, só apareciam pessoas para fazerem tentativas de orientá-los em época de eleição. Um dos agricultores relatou utilizar o agrotóxico de forma empírica e que não lê as instruções que vêm na embalagem do produto. Esses relatos apontam que há uma problemática em relação à educação em saúde e à disponibilização de orientação e treinamento para utilização correta do agrotóxico e para o uso de EPI’s. Sobre as condições de saúde, pôde-se perceber a falta de suporte na saúde dentro desta categoria de trabalho, pois além de não existirem unidades básicas de saúde próximas à comunidade, também não existem orientações de como proceder nas atividades do trabalho para se preservar a saúde e prevenir possíveis doenças por esforço ou repetição. Segundo os relatos, as patologias que representam as maiores ocorrências entre os produtores agrícolas são as lesões e desvios na coluna, proveniente da enorme quantidade de carga que precisam carregar, por isso é quase unânime as reclamações de dor na região lombar; bem como as lesões em tecidos moles, como artrite e tendinite. Além disso, tem-se o risco de ocorrer acidentes de trabalho, como: lesões na pele, luxações, fraturas, etc. Evidencia-se, ainda, o perigo de contaminações e doenças respiratórias, provenientes dos agrotóxicos usados de modo não adequado durante as plantações, contudo os entrevistados negaram qualquer problema relacionado ao uso de agrotóxicos. Esses relatos revelam a falta de preparo dos profissionais agrícolas relacionado à prevenção de agravos à saúde e, como já mencionado, o uso inadequado e/ou ausência dos EPI’s, que são de extrema importância para evitar ocorrências desagradáveis. Foram encontrados alguns riscos para a saúde da comunidade, como: caixas de água descobertas, sendo um possível foco para a reprodução de vetores como o Aedes aegypti (que transmite os vírus causadores da Dengue, Zika e Chikungunya) e o Anopheles (que transmite o parasita da malária); lixo sendo descartado próximo aos locais de plantação; criação de animais soltos na área agrícola, podendo contaminar as plantas com parasitas. A saúde dos agricultores tem tido fragilidades ao longo dos anos, prova disso são os relatos da realização de tratamentos para artrite e tendinite, condições de saúde adquiridas possivelmente por esforço repetitivo, o que demonstra claramente que os maiores problemas relacionados à saúde desses trabalhadores se devem à falta de ergonomia no processo de produção. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do exposto, pôde-se constatar que há riscos apara a saúde dos agricultores da comunidade Val Paraíso, abrindo campo de atuação para a VISAT, de modo que se realizem intervenções preventivas e corretivas sobre estes agravos e promova a saúde dessas famílias. Vale ressaltar que, ao contrário das hipóteses prévias, o que mais aflige a saúde desses trabalhadores são as questões ergonômicas, de modo que, dentre as atuações de todas as vigilâncias, a da VISAT é a que se faz mais emergente. É preciso integração com a Atenção Primária, de modo a incluir esses trabalhadores na área de abrangência de alguma Unidade Básica de Saúde (UBS). Vale ressaltar que ações de educação em saúde são de fundamental importância nesse contexto. É necessário também uma maior articulação com os cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para dar suporte às questões patológicas, ergonômicas e educação sobre os agrotóxicos. Foi informado que o curso de agronomia já atua na comunidade através de pesquisas, porém observou-se que falta o retorno dos resultados obtidos. Por conseguinte, ressalta-se que foi uma grande experiência participar dessa atividade prática, observou-se o quão desamparada a comunidade está, sem instruções de saúde e de segurança, buscando conhecimento por conta própria gastando seus recursos e lutando por uma melhor qualidade de vida.


Palavras-chave


vigilância em saúde; saúde do trabalhador;