Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-22
Resumo
APRESENTAÇÃO: A vigilância em saúde do trabalhador (VISAT) visa à promoção da saúde e a redução da morbimortalidade do trabalhador por meio de ações voltadas para os agravos, atuando de acordo com os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS). A VISAT caracteriza o perfil da saúde dos trabalhadores, identificando os fatores de risco e agravos a fim de elaborar um plano de intervenções. Dessa forma, percebemos a vigilância em saúde do trabalhador como essencial, pois a incidência de casos de acidentes e doenças decorrentes do trabalho no mundo é alta. Nesse sentido, foi realizada uma visita técnica à Comunidade Valparaíso, na qual foi possível entrevistar uma família de agricultores e questioná-los a respeito de suas condições de trabalho, de saúde e exposição aos agrotóxicos. OBJETIVO: Descrever a experiência pedagógica em Vigilância em Saúde do Trabalhador durante uma visita técnica à Comunidade Valparaíso. DESENVOLVIMENTO: A visita ocorreu na Comunidade Valparaíso, localizada no bairro Jorge Teixeira, zona leste de Manaus, Amazonas. Inicialmente os acadêmicos conheceram a comunidade e o cotidiano dos trabalhadores locais. Segundo informações do líder comunitário, lá vivem cerca de 150 famílias de produtores que cultivam hortaliças, principalmente o cheiro verde. Durante a entrevista foram abordadas as seguintes temáticas: 1) condições de trabalho; 2) exposição aos agrotóxicos e; 3) condições de saúde. Após a análise de tais aspectos, tornou-se viável o reconhecimento dos riscos e agravos à saúde desses trabalhadores, de modo que as observações relatadas neste trabalho podem direcionar ações e serviços da VISAT na tentativa de solucionar os referidos problemas. RESULTADOS/IMPACTOS: Em relação às condições de trabalho local, observou-se que necessitam do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), o hábito de não utilizá-los põe em risco a saúde dos trabalhadores, visto que os EPI’s protegem de possíveis riscos relacionados à exposição a agrotóxicos e acidentes de trabalho. Identificou-se que os agricultores utilizam parcialmente os EPI’s, apenas botas, máscara e chapéus para proteger do sol, alegando que o uso de luvas dificulta o manuseio das plantas. Todavia, é necessário, conforme a peculiaridade da atividade, utilizar os devidos equipamentos de proteção da cabeça, dos olhos, da face, dos ouvidos, da pele, das vias respiratórias, dos membros superiores e inferiores, do tronco, proteção contra quedas entre outros. A criminalidade foi outro fator alarmante, os moradores relataram insegurança e aumento de casos de roubo e violência na região. Essa falta de segurança os levou a alterar suas rotinas de trabalho, aumentando o tempo de intervalo de descanso e diminuindo, assim, o tempo de trabalho necessário na lavoura. Em relação à exposição dos agricultores aos agrotóxicos, ao serem perguntados sobre o uso destes, informaram que somente utilizavam adubo químico e/o adubo orgânico, não vendo a necessidade de utilizar agrotóxicos em suas plantações, tendo em vista que é muito raro ocorrerem pragas em sua lavoura. Um dos agricultores informou que faz pulverização leve antes e logo após plantar. Também foi questionado se os mesmos recebiam alguma orientação a respeito do produto e ambos disseram que não, só apareciam pessoas para fazerem tentativas de orientá-los em época de eleição. Um dos agricultores relatou utilizar o agrotóxico de forma empírica e que não lê as instruções que vêm na embalagem do produto. Esses relatos apontam que há uma problemática em relação à educação em saúde e à disponibilização de orientação e treinamento para utilização correta do agrotóxico e para o uso de EPI’s. Sobre as condições de saúde, pôde-se perceber a falta de suporte na saúde dentro desta categoria de trabalho, pois além de não existirem unidades básicas de saúde próximas à comunidade, também não existem orientações de como proceder nas atividades do trabalho para se preservar a saúde e prevenir possíveis doenças por esforço ou repetição. Segundo os relatos, as patologias que representam as maiores ocorrências entre os produtores agrícolas são as lesões e desvios na coluna, proveniente da enorme quantidade de carga que precisam carregar, por isso é quase unânime as reclamações de dor na região lombar; bem como as lesões em tecidos moles, como artrite e tendinite. Além disso, tem-se o risco de ocorrer acidentes de trabalho, como: lesões na pele, luxações, fraturas, etc. Evidencia-se, ainda, o perigo de contaminações e doenças respiratórias, provenientes dos agrotóxicos usados de modo não adequado durante as plantações, contudo os entrevistados negaram qualquer problema relacionado ao uso de agrotóxicos. Esses relatos revelam a falta de preparo dos profissionais agrícolas relacionado à prevenção de agravos à saúde e, como já mencionado, o uso inadequado e/ou ausência dos EPI’s, que são de extrema importância para evitar ocorrências desagradáveis. Foram encontrados alguns riscos para a saúde da comunidade, como: caixas de água descobertas, sendo um possível foco para a reprodução de vetores como o Aedes aegypti (que transmite os vírus causadores da Dengue, Zika e Chikungunya) e o Anopheles (que transmite o parasita da malária); lixo sendo descartado próximo aos locais de plantação; criação de animais soltos na área agrícola, podendo contaminar as plantas com parasitas. A saúde dos agricultores tem tido fragilidades ao longo dos anos, prova disso são os relatos da realização de tratamentos para artrite e tendinite, condições de saúde adquiridas possivelmente por esforço repetitivo, o que demonstra claramente que os maiores problemas relacionados à saúde desses trabalhadores se devem à falta de ergonomia no processo de produção. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do exposto, pôde-se constatar que há riscos apara a saúde dos agricultores da comunidade Val Paraíso, abrindo campo de atuação para a VISAT, de modo que se realizem intervenções preventivas e corretivas sobre estes agravos e promova a saúde dessas famílias. Vale ressaltar que, ao contrário das hipóteses prévias, o que mais aflige a saúde desses trabalhadores são as questões ergonômicas, de modo que, dentre as atuações de todas as vigilâncias, a da VISAT é a que se faz mais emergente. É preciso integração com a Atenção Primária, de modo a incluir esses trabalhadores na área de abrangência de alguma Unidade Básica de Saúde (UBS). Vale ressaltar que ações de educação em saúde são de fundamental importância nesse contexto. É necessário também uma maior articulação com os cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para dar suporte às questões patológicas, ergonômicas e educação sobre os agrotóxicos. Foi informado que o curso de agronomia já atua na comunidade através de pesquisas, porém observou-se que falta o retorno dos resultados obtidos. Por conseguinte, ressalta-se que foi uma grande experiência participar dessa atividade prática, observou-se o quão desamparada a comunidade está, sem instruções de saúde e de segurança, buscando conhecimento por conta própria gastando seus recursos e lutando por uma melhor qualidade de vida.