Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MÃOS AMIGAS: UMA CAMPANHA DE COMBATE AO SUICÍDIO E VALORIZAÇÃO À VIDA DOS ESTUDANTES DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Isabelle Louise da Cruz Lopo de Figueiredo, Luciana Costa Pinto da Silva, Lorena Praia Bezerra, Iuri Matias Oliveira Schreiner, Lázara Gabriela Oliveira Silva

Última alteração: 2018-05-30

Resumo


Apresentação: A Medicina, apesar da atual crise, ainda é uma profissão que oferece grande realização material, intelectual e emocional, sendo considerada uma área de fascínio de muitos. Sua importância na sociedade costuma gerar expectativas demasiadas, as quais muitas vezes levam a frustrações e decepções significativas que promovem grande impacto na saúde de estudantes, residentes e médicos. Tratando-se de acadêmicos, a pressão sobre cada um inicia-se ainda precocemente na fase de preparo para o vestibular: o cansaço e estresse físico-emocional que permeiam as rotinas de estudo sobrecarregam os alunos e muitas vezes levam a cobranças excessivas causando transtornos de depressão e ansiedade . Ao ingressar no curso, a carga horária exaustiva, preocupação com atividades complementares, projetos de extensão e pesquisa, realização de provas e ainda manutenção de boas médias curriculares geram, novamente, um ambiente de grande cobrança não somente externa, mas também por parte dos próprios estudantes. Inúmeros estudos já foram realizados em diversas Universidades brasileiras, buscando avaliar a frequência de sintomas depressivos e ansiosos em futuros médicos, revelando inclusive distúrbios psiquiátricos, altas taxas de suicídio, uso abusivos de remédios e até mesmo drogas e álcool em abundância. Tais condutas promovem uma destruição do relacionamento dos acadêmicos consigo mesmos, com seus familiares, cônjuges e até mesmo com os pacientes. Em meio a esse cenário de insalubridade, a campanha Mãos Amigas, idealizada por alunos do curso de Medicina, visa criar um espaço saudável para se debater e refletir a respeito de saúde mental no contexto aonde estamos diariamente inseridos. Relato: Durante as semanas do mês de setembro de 2017, um grupo de aproximadamente 4 alunos voluntários pertencentes a  International Federation of Medical Students Associations (IFMSA) recrutaram mais alguns estudantes interessados, para juntos se reunirem e comandarem uma campanha em homenagem ao Setembro Amarelo, mês separado nacionalmente para ampla conscientização e prevenção do suicídio. O grupo foi orientados por uma equipe de profissionais composta por psicólogos e psiquiatras vinculados à Universidade e ao Ambulatório Araújo Lima. As programações foram realizadas durante as tardes de sexta-feira das 8:00 às 18:00, visto que seria o dia mais ameno para os estudantes participarem das atividades propostas pelo grupo. Inúmeros cartazes foram distribuídos por todo o prédio, divulgando as futuras atividades, propagando frases motivacionais, além de orientações de funcionamento do Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAPP) da Faculdade de Medicina, até então pouco conhecido pelos próprios discentes que ali frequentam. A abertura da campanha Mãos Amigas iniciou-se as 8:00 do dia 15/09 com a distribuição de folders informativos e fitilhos amarelos no hall da Faculdade de Medicina. Ao mesmo tempo, os organizadores convidavam os acadêmicos para participarem de uma roda de conversa comandada por uma psicóloga a respeito de temas sugeridos pelos próprios alunos ao longo do dia, com intuito de promover uma discussão saudável a respeito de assuntos que inconformam e afetam os mesmos. Na semana seguinte (22/09), a programação iniciou-se às 14 horas com uma sessão de exercícios de relaxamento guiada por um instrutor em uma das salas da instituição. Exercícios de concentração, relaxamento, respiração e yoga foram ofertados durante a tarde para promover aos alunos um momento de distração, diversão e autoconhecimento. Ao final da atividade, os psicólogos e psiquiatras ali presentes promoveram um momento propício para os alunos expressarem seus sentimentos, angústias e inseguranças, buscando assim abrir os olhos dos estudantes para a real necessidade e importância de separarem semanalmente um tempo para si mesmos visando desligar-se momentaneamente dos problemas e chateações do cotidiano. Durante o terceiro e último dia (29/09), uma sessão de cinema, no auditório da Faculdade de Medicina foi promovida, veiculando um filme que demonstra um personagem conflituoso que passa por experiências e momentos parecidos com aqueles que os alunos enfrentam em suas realidades pessoais. Ao final, um discussão sobre o que foi visto é novamente iniciado pela equipe de apoio, debatendo e refletindo a respeito do que se viveu, não somente nesse dia, mas também ao longo das três semanas de atividades. Esse momento também foi reservado para os alunos expressarem opiniões sobre o que acharam e o que poderia ser melhorado em uma futura edição da Campanha Mãos Amigas. Resultados: A importância de expor a realidade do ambiente acadêmico diante do suicídio e outros transtornos emocionais e psiquiátricos é enorme, pois somente é possível identificar e solucioná-los quando se tem conhecimento de suas causas e consequências. Desse modo, os estudantes que se envolveram e participaram de todas ou algumas das atividades promovidas ao longo do mês de setembro puderam experimentar um momento único em meio a um cenário de tanta pressão e até mesmo opressão. Foi bonito e gratificante ver como os acadêmicos se engajaram e verdadeiramente se abriram durante as rodas de conversa, expondo suas vulnerabilidades e inseguranças a respeito das mais variadas variáveis acadêmicas ou não. A troca de experiências, conselhos e informações puderam criar um ambiente de amizade, cumplicidade e companheirismo que na boa parte do tempo são infelizmente substituídos por desejos insuperáveis de superioridade e batalha de egos. O mais importante com toda certeza foi saber que a mensagem principal foi claramente absorvida pelos alunos, os mesmos obtiveram inúmeras informações e orientações de quando e como procurar ajuda, e até mesmo fornecer amparo a algum amigo que esteja passando por um momento difícil. Puderam reconhecer a importância de reservar um momento para autoconhecimento e reflexão, lembrando sempre que como seres humanos possuímos muitas funções além de meros “estudantes de medicina” ou “futuros médicos”. Conclusão: Dessa forma, após todas as experiências vividas durante as programações do mês de setembro, é possível notar o crescimento pessoal tanto dos alunos que participaram das atividades como também dos que organizaram. O objetivo inicial da campanha foi plenamente alcançado, pois foi possível ver como os alunos interagiam uns com os outros e buscavam apoio e ajuda mútuos, além disso acompanhamento psiquiátrico e psicológico contínuo foi ofertado aos alunos com intenção de continuar com aquilo que foi iniciado ao longo do nono mês do ano de 2017. É necessário falar sobre esse tema! É importante reconhecermos que não estamos sozinhos nessa longa jornada e que muito podemos fazer para modificar o ambiente aonde estudamos. A primeira edição da Campanha Mãos Amigas superou todas as expectativas e preparou um terreno fértil para fazer florescer o início de uma Universidade mais humana e sensível às necessidades e angústias de seus próprios alunos.


Palavras-chave


suicídio, autoconhecimento, saúde, pressão, insegurança