Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Intersetorialidade na promoção de ações educativas no processo de formação do médico: a parceria entre a educação e a saúde
Fatima Cristina Alves de Araujo, Alessandra Bento Veggi, Aline Bressan

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


A Atenção Primária a Saúde (APS) é realizada por equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais assumem responsabilidade sanitária. Esta responsabilidade faz com que as equipes se aproximem de todos os recursos no território a fim de promover parcerias que possibilitem explorar a potencialidade destes recursos para a promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos. As ações no campo da APS devem ser garantidas a pessoas de qualquer idade, gênero, raça/cor, etnia, crença, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade, limitação física, intelectual, funcional e outras, sem qualquer tipo de discriminação. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é a estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica, e todas as suas unidades são consideradas potenciais espaços de educação, formação de recursos humanos, pesquisa, ensino em serviço, inovação e avaliação tecnológica para a rede de atenção à saúde. Atualmente, a atenção básica ocupa o centro do processo de formação médica, coordenado pela área de Medicina de Família e Comunidade, e que deve garantir a inserção do aluno na rede de serviços de saúde desde as séries iniciais da formação e ao longo de todo o curso proporcionando ao estudante a oportunidade de lidar com problemas reais assumindo responsabilidades crescentes. Seguindo este direcionamento o curso de Medicina da Universidade Estácio de Sá (UNESA), Campus João Uchoa tem no seu Projeto Pedagógico de Curso um eixo composto por disciplinas voltadas para a APS – Eixo Saúde da Família. Este eixo é composto por 8 disciplinas que acompanham todo o período pré-internato. A cada período há um foco específico em cada uma das disciplinas. A disciplina Saúde da Família 2 tem como foco educação em saúde e redução de vulnerabilidades. Trata-se de uma disciplina teórico prática, oferecida no segundo período do curso. O referencial teórico da disciplina é baseado no conceito de Educação Popular em Saúde, Pedagogia da Autonomia e vulnerabilidades a partir de políticas de saúde a grupos específicos. As atividades práticas buscam desenvolver ações de educação e promoção de saúde voltadas para diferentes grupos. As atividades de promoção da saúde legitimam a articulação entre setor sanitário e outros setores, proporcionando o rompimento com a fragmentação da abordagem do processo saúde-doença, suprimindo vulnerabilidade, riscos e danos que nele se produzem. Uma parceria extremamente potente para este fim se dá entre os setores da saúde e da educação. Frente a isso, a disciplina Saúde da Família 2 buscou promover esta articulação a partir da parceria entre a UNESA e uma escola municipal da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. A referida escola onde a ação foi desenvolvida situa-se na área adscrita da unidade da ESF responsável também pelo território onde localiza-se a universidade.  No segundo semestre do ano de 2017 ficou definido que as atividades práticas da disciplina seriam então realizadas em uma escola, com o desenvolvimento de ações de educação e promoção de saúde. Como já mencionado, o foco da disciplina Saúde da Família 2 é educação em saúde e redução de vulnerabilidades fazendo com que fosse aceito o desafio proposto pela escola: promover atividade educativa em saúde nas classes especiais. Partindo-se do compromisso de formar médicos com perfil esperado para os egressos do curso de Medicina a partir das diretrizes curriculares nacionais; dos objetivos da disciplina, e da APS foram traçadas estratégias que garantissem uma prática articulada com o referencial teórico da disciplina.  A escola possuía duas turmas especiais que contam com pessoas de diferentes faixas etárias (crianças, adolescentes e adultos) e diferentes tipos e graus de limitação. A escola solicitou que fossem abordados os temas: alimentação saudável e higiene pessoal. Por se tratar de um público tão distinto do que costuma ser alvo de ações educativas em saúde; tão distante do cotidiano dos acadêmicos, e tão vulneráveis, foi realizada uma visita de aproximação onde foi possível que os acadêmicos interagissem com os alunos e docentes das classes especiais. Para o próximo encontro os acadêmicos organizaram uma ação voltada para alimentação saudável através de estratégias lúdicas. Foram utilizados jogos, desenhos e pintura, além da oferta de frutas. No dia previsto para a atividade estava acontecendo na escola um evento envolvendo toda a comunidade escolar. Com isto, o tempo proposto para a atividade com a classe especial foi reduzido. Contudo, este contratempo possibilitou uma nova experiência aos estudantes. Eles tiveram que adaptar a metodologia para um novo público – crianças do primeiro ano do ensino fundamental da turma regular. Sendo assim, os futuros médicos tiveram chance de desenvolver ações de educação em saúde para dois públicos distintos. Durante toda a atividade os discentes estiveram sob supervisão das professoras da disciplina que puderam avaliar de maneira bem próxima todo o desenvolvimento da atividade e fazer as pontuações pertinentes. Com a realização da atividade foi possível perceber a apreensão do conteúdo teórico por parte dos acadêmicos que desenvolveram a atividade prática reconhecendo e valorizando o saber prévio dos indivíduos; buscando o aprendizado mútuo e não a transmissão de conhecimento, além de valorizar a autonomia de cada um daqueles estudantes. Foi apontado que diferente de querer ensinar, buscou-se uma relação que valorizasse o saber trazido pelos alunos, incluindo os da classe especial. Para facilitar ações deste tipo junto a estudantes de classe especiais os alunos identificaram a necessidade de adquirir novas habilidades, como o conhecimento de libras. A ação educativa na escola envolvendo alunos das classes especiais foi vista como uma possibilidade para o crescimento pessoal e profissional proporcionando um ganho emocional que não estará impresso no diploma, mas no caráter dos egressos do curso de medicina. Frente a todos os relatos identificamos que a estratégia de articulação entre saúde e educação contribuiu para a formação de médicos capazes de desenvolver ações de promoção da saúde de forma intersetorial, articulada às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no sistema de saúde brasileiro, contribuindo para construção de ações que possibilitem responder às necessidades sociais em saúde; com o desenvolvimento de relação horizontal, compartilhada, respeitando as necessidades e desejos da pessoa sob cuidado, estimulando à inserção de ações de promoção e educação em saúde na atenção básica; apoiando à criatividade e à inovação, além de contribuir para a redução de vulnerabilidades.


Palavras-chave


educação em saúde; intersetorialidade; formação profissional