Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Aspectos socioambientais da Terra Indígena Kwatá e morbimortalidade por doenças diarreicas em idosos Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.
Andrew Georg Wischneski, Bahiyyeh Ahmadpour, Luigi Bruno Peruzo Iacono, Daniel Scopel, Raquel Paiva Dias-Scopel

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


Apresentação

No âmbito da saúde, uma das condições médicas mais impactantes no que se refere a fatores nutricionais e qualidade de vida em populações jovens e idosas é a diarreia. Nesse intuito e diante da carência de estudos relacionados ao tema, é muito valoroso realizar um trabalho que se atenha a essas populações específicas, em especial a geriátrica e, no cenário amazonense, a população indígena.

Ao abordar a população geronte, tem-se que a diarreia possui uma incidência muito mais significativa do que indivíduos mais jovens e saudáveis, salvo em crianças, visto que os fatores de risco para a ocorrência de doenças diarreicas se exacerbam em grupos mais vulneráveis, em função de fatores como imunossupressão, presença de doenças crônicas (principalmente do trato gastrointestinal), alterações na motilidade gastrointestinal, intolerâncias e uso de drogas para o tratamento de outras comorbidades.

Os fatores relacionados ao desenvolvimento das doenças diarreicas geram, portanto, um aumento na morbidade na faixa etária idosa e um impacto relevante na saúde, o que remete à necessidade de um controle de doenças mais centrado nesses indivíduos, pois a população geriátrica apresenta vulnerabilidade e necessita de uma atenção à saúde capaz de lidar com suas peculiaridades.

Sob esse prisma, a população idosa indígena, além de apresentar a susceptibilidade vista acima, pode ter o agravante de possuir más condições de saneamento e moradia nas aldeias, bem como uma maior exposição a parasitas do trato gastrointestinal - os maiores responsáveis pelos quadros diarreicos relacionados à regiões desprovidas de saneamento- devido a sua organização sociocultural e geográfica.

O presente estudo visa investigar a distribuição da incidência de doenças diarreicas na população idosa da etnia Munduruku e discutir a relação desse indicador com as populações não indígenas e as condições sanitárias do local onde vivem.

Desenvolvimento do trabalho

Estudo epidemiológico descritivo sobre morbidades por doenças diarreicas agudas em idosos da etnia Munduruku, no município de Borba, estado do Amazonas, no período entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016. O trabalho abrange as aldeias (Apuí, Aru, As Cobras, Cafezal, Caioé, Cajoal, Empresinha, Fronteira, Jutaí/Malocão, Juvenal, Kwatá, Makambira, Mamoal, Niterói, Pajurá, Parawá, Santo Antônio, São Domingos, Sauru e Tartaruguinha) que contemplam a Terra Indígena (TI) Kwatá.

Para chegar aos objetivos propostos, levantou-se dados secundários através do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), disponibilizados eletronicamente pelos dados disponíveis no Distrito Especial Indígena (DSEI) de Manaus, os quais consideraram os casos de morbidade de diarreias na população geriátrica da etnia Munduruku. Para ter acesso ao SIASI, foi solicitado ao DSEI-Manaus, o termo de anuência para a permissão da coleta de dados. Um dos maiores problemas encontrados na obtenção de dados sobre morbidade em indígenas foi a falta de um mapa com a compilação desses dados. Os registros fornecidos encontravam-se nominais e não era possível a seleção dos casos por faixa etária. Para isso, foi necessário buscar no registro populacional, mapa demográfico, a idade dos indivíduos que constavam nas tabelas, bem como sexo, etnia e data de nascimento.

As variáveis analisadas foram: idade, sexo, mês e ano de ocorrência da doença, faixa etária (indivíduos maiores de 60 anos) e aldeia indígena proveniente. Todas as varáveis contemplaram indígenas da etnia Munduruku. A análise descritiva dos dados foi realizada mediante a geração de frequências relativas e absolutas. A entrada de dados realizou-se através do aplicativo Microsoft Excel 2010.

Este estudo, está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Saneamento em áreas indígenas a partir de uma perspectiva antropológica” do Programa de Desenvolvimento Científico Regional – DCR/AM, edital n. 024/2013, coordenado pelo Dr. Daniel Scopel (CAAE: 52217215.5.0000.5020) e ao projeto de pesquisa intitulado “Morbimortalidade por doenças diarreicas em crianças Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.” do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/UFAM, coordenado pela Prof. Msc. Bahiyyeh Ahmadpour (CAAE: 69378317.5.0000.5020). Os bancos de dados provenientes do SIASI, são de domínio público, sem identidade de registros. O estudo respeitou a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS), n o 466 de 12 de dezembro de 2012 e 304/2000 para pesquisas envolvendo comunidades indígenas.

Resultados e/ou impactos

Com base na análise dos dados obtidos sobre os estudos apresentados pôde-se identificar que a diarreia na população idosa (maior de 60 anos) correspondeu a 7,32% dos casos de diarreia em 2015 e 8,51% em 2016. A faixa etária com maior prevalência na população idosa analisada foi na população maior de 80 anos, onde observou-se que em 2015 essa população representou 3,88% do total dos casos de diarreia e em 2016 um montante de 3,98%. Em relação à distribuição por sexo, observou-se que a população idosa do sexo feminino no ano de 2015 correspondeu a 40,8% dos casos e no sexo masculino 59,2%. Já no ano de 2016, houve uma prevalência de diarreia em 42,5% dos idosos do sexo feminino e 57,5% do sexo masculino.

Observou-se na literatura relacionada a doenças diarreicas, considerável relação dessas doenças com a mortalidade em idosos. Um estudo que abordou vários indicadores de saúde em idosos mostrou que a diarreia aguda juntamente a outros fatores de risco, como desnutrição, perda de peso e desidratação, contribuem a uma elevada taxa de mortalidade na população idosa – o que demonstra a gravidade dos quadros diarreicos mesmo em uma população com acompanhamento institucional, no entanto, em locais sem assistência médica, o quadro é extensivamente mais grave. Nesse viés, ainda, demonstrou uma prevalência de 10 a 38% de idosos com diarreia entre os anos de 2012 a 2015, uma frequência cerca de quatro vezes maior que a deste trabalho. No entanto, apesar da correlação com o aumento da mortalidade, no presente estudo não se encontrou registros de óbitos por diarreia no período analisado.

Outro trabalho aponta que em determinadas instituições de longa permanência de idosos as doenças diarreicas transmitidas pela água e alimentos tiveram um significativo aumento na incidência, o que demonstra a relevância das condições de saneamento para a ocorrência de diarreia. Um outro estudo apresentou uma incidência de 4,6% de diarreia em idosos em área urbana, o que representa cerca de metade do valor obtido neste estudo.

Por fim, apesar das condições de saneamento precárias nas aldeias, observa-se menor incidência de diarreia quando comparado aos idosos institucionalizados. Porém, o comparativo com os de áreas urbanas, mostra quase o dobro da incidência.

Considerações finais

A análise de dados desse estudo permitiu identificar que o perfil epidemiológico da população indígena e suas condições de saneamento estão diretamente relacionados à ocorrência da diarreia, em especial na população idosa, que representa quase 10% dos casos segundo os dados de 2015 e 2016. Nesse intuito, ao se comparar a população observada com a população não indígena, tem-se que a diarreia apresenta um elevado índice de morbidade em ambas as populações e os fatores causais são semelhantes, pois as doenças diarreicas se relacionam com as necessidades básicas de alimentação e saneamento. Por fim, pode-se inferir a necessidade da aplicação de medidas que visem à prevenção e controle da diarreia, visto que sua incidência não é peculiar de uma população. Ademais, aponta-se a necessidade de aperfeiçoar o registro de ocorrências de diarreia nas comunidades indígenas, para que esses dados estejam concatenados e acessíveis aos gestores de saúde.


Palavras-chave


Diarreia; Saúde Indígena; Condições Sanitárias.