Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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VISITA DOMICILIAR E SEU CONTEXTO MULTIDISCIPLINAR: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Karollayny de Macêdo Oliveira, Marcus Léon de Jesus Gomes, Carolline Damas de Andrade Oliveira, Rebeka Daiany Duarte Dantas, Andrea Lopes Ramires Kairala

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


APRESENTAÇÃO: O relato trata de uma experiência de estudantes de medicina em uma visita domiciliar, dispositivo da Estratégia Saúde da Família (ESF), no qual é abordado os aspectos sociais, econômicos, psicológicos e emocionais de uma família. Demonstrando que um nível de atenção pouco valorizado à época da visão positivista/mecanicista do fazer médico; que distanciava o médico do paciente, e impossibilitava a análise de diversos agravos que poderiam ser percebidos na investigação do paciente como um todo, atualmente abordado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, é de extrema relevância no contexto da promoção e educação em saúde. O estudo tem como objetivos: entender a importância de um projeto pedagógico interdisciplinar e interligado com os diferentes componentes curriculares acadêmicos do curso de medicina; compreender a importância da participação de estudantes de medicina na Atenção Primária à Saúde (APS); relatar a experiência no processo inicial de comunicação e educação em saúde; entender as necessidades prioritárias do paciente e analisar ao final o impacto no âmbito social, econômico, psicológico e emocional das orientações e do projeto terapêutico realizados na família em questão.

DESENVOLVIMENTO: a atividade foi realizada por acadêmicos de medicina de uma Instituição de Ensino Superior privada na cidade de Brasília-DF, entre os meses de agosto e novembro do ano de 2017, tendo como território de realização da atividade a Unidade Básica de Saúde vinculado à Secretaria de Saúde do DF. O grupo era formado por 4 estudantes, todos do 3º semestre do curso de medicina, sendo acompanhados por um Agente Comunitário de Saúde e um docente com formação na área de saúde. A visita realizada à família foi no período matutino; utilizou como base um questionário previamente elaborado, assim como um roteiro de anamnese clínica constituída por todos os tópicos de relevância médica, abrangendo os aspectos clínicos, sociais e emocionais, de modo a possibilitar o conhecimento da família como um todo, isto é, seus hábitos, seu estilo de vida, suas fragilidades e fatores de risco, seus conflitos, suas crenças, seus valores e como isso era traduzido no seu modo de vida e de cuidado à saúde. Sendo possível, assim, a compreensão do processo saúde e doença e reafirmando os laços de vínculo com a família, a fim de orientar projetos de intervenção com intuito de promover educação em saúde e fortalecer o vínculo entre o profissional de saúde e o paciente. Assim, foi realizada uma reunião para apresentação resumida da família que seria visitada e em seguida foi feito o deslocamento até o domicílio familiar. Foram colhidas informações para a elaboração da abordagem familiar, tais como ecomapa, genograma e ciclo de vida, e aplicados os conhecimentos de anamnese e exame físico, além de orientações dos componentes verbais e não verbais de relevância no atendimento domiciliar. Sobre a análise das fragilidades familiares, foi utilizada a escala de risco familiar de Coelho-Savassi, que aborda os seguintes aspectos: a presença de acamados no domicílio, de deficientes físicos, deficientes mentais, as condições de saneamento e higiene, os casos de desnutrição, de drogadição (lícita e/ou ilícita), de desemprego, o analfabetismo, a presença de indivíduo menor que 6 meses, de indivíduo maior que 70 anos, membros do grupo familiar portadores de hipertensão arterial sistêmica, de diabetes mellitus e a relação de moradores por cômodo. Dessa forma, cada sentinela de risco é pontuada com um valor quantitativo, o qual é realizada a soma e é gerado um escore de risco em 3 diferentes níveis: risco menor, médio e máximo. Sobre os dados clínicos, vale ressaltar a normalidade e conformidade das medidas antropométricas e dos marcos de desenvolvimento neuropsicomotor com a Caderneta de Saúde da Criança. Na data da primeira consulta, que ocorreu em agosto, o RN apresentava 16 dias de vida, estava em amamentação exclusiva, os exames físicos constavam normais, entretanto, havia de forma perceptível a presença de um sopro cardíaco na área pulmonar, já diagnosticado pela junta médica do hospital, o qual foi auscultado e apreendido por todos os componentes da equipe por meio do uso de estetoscópio. Após toda a abordagem familiar, a equipe seguiu para aUBS. Dessa forma, foi realizada uma discussão minuciosa do caso em questão, aplicado o escore de classificação de risco familiar e formulado uma proposta de intervenção e de orientações em saúde para a família e para a criança. No segundo encontro, no mês de novembro, o bebê já apresentava cerca de 3 meses de vida, os parâmetros familiares permaneceram constantes, e a ausculta cardíaca demonstrava nítida diminuição do ruído cardíaco, a ponto de ser imperceptível pela equipe, sendo a mesma afirmativa elucidada pelo cardiologista pediátrico que há 2 dias da visita houvera feito o exame do bebê. Dessa forma, realizou-se a apresentação das propostas de intervenção, com orientações sobre a alimentação do bebê, da importância do processo de amamentação como substrato de inúmeros fatores imunológicos, do beneficiamento psicológico e do caráter econômico que o aleitamento materno proporciona, sobre a natureza de um sopro cardíaco fisiológico e orientações voltadas para toda a família, em especial sobre o estímulo da volta aos estudos por parte da mãe, a qual interrompeu devido a gravidez.

RESULTADOS: De acordo com a diretrizes curriculares brasileiras, o trabalho em equipe e a atenção integral à saúde servem como pilares para a formação dos profissionais médicos e entendimento do ser como um todo, ou seja, em seu componente biopsicossocial. Dessa maneira, a atividade prática supervisionada é o cenário ideal para o desenvolvimento dessas habilidades. Assim, em análise sobre o processo de metodologias ativas da respectiva instituição de ensino superior, a qual se baseia na Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL), nota–se que a integração interdisciplinar do projeto pedagógico dos diferentes componentes curriculares, como a dinâmica do Tutorial, o qual abordou os principais aspectos da saúde da criança e o seu desenvolvimento. Os elementos que se associavam à disciplina de Habilidades Médicas, que desenvolveram capacidades de expressão ao paciente, o uso de trajes adequados, o cuidado ao invadir a privacidade das pessoas, de demonstrar interesse em ajudar, a disponibilidade para escutar, a capacidade de compreender, sem julgar, a situação pela qual determinada família está transpondo, a observação das posturas corporais, dos silêncios, da busca em si de seus significados e a compreensão das dificuldades do contato real com pacientes, como a sensação de impotência. A disciplina de Morfofuncional, que agrega a anatomia e aspectos embriológicos desse desenvolvimento. Além do componente de Programa de Integração Saúde Serviço Comunidade (PISSCO), que tem como alvo a disponibilização dos cenários em APS. Portanto, esse plano pedagógico leva por propiciar um amplo desenvolvimento da capacidade de atuação em equipe, isto é, a quebra do paradigma hierarquizado e individualista do anterior modelo de atenção à saúde, o desenvolvimento da compreensão do ser como um todo, em uma atenção integral e envolvida na educação e promoção da saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pode-se deduzir que as atividades em níveis de atenção básica, como atributos do plano pedagógico, propiciam a formação de profissionais mais críticos e conscientes, mais humanizados e desenvolvedores de atividades de prevenção, promoção e educação em saúde, o que contribui para uma melhor formação dos profissionais médicos.


Palavras-chave


Visita Domiciliar; Educação em Saúde; Metodologias Ativas; Interdisciplinaridade; Biopsicossocial