Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EKOBÉ E A PRODUÇÃO DE VIDA: POLIFONIAS SOB A ÉTICA DO CUIDADO
Vera Lúcia Azevedo Dantas, UIRÁ DANTAS ROCHA DE LIMA, UIRÁ DANTAS ROCHA DE LIMA, MAYANA AZEVEDO DANTAS, MAYANA AZEVEDO DANTAS, ANTONIO EDILSON OLIVEIRA, ANTONIO EDILSON OLIVEIRA, ANTONIO EDILSON EDVAN FLORENCIO, ANTONIO EDILSON EDVAN FLORENCIO, RAIMUNDO FÉLIX DE LIMA, RAIMUNDO FÉLIX DE LIMA

Última alteração: 2017-12-20

Resumo


O Ekobé desde 2005, ocupa o espaço da UECE, sendo gerido coletivamente por atores dos movimentos e práticas populares de Fortaleza que constituem a ANEPS no Ceará. Estes construíram, o espaço físico, de forma solidária e sustentável, referenciados na permacultura e na educação popular por meio do curso “Diálogos da Educação Popular em Saúde com a Permacultura”.  O curso teve como produto principal a reconstrução do espaço externo e interno do espaço segundo os princípios de permacultura, com um design que considerou a ecologia, a cultura local e os sonhos dos sujeitos envolvidos nos processos de cuidado e formação ali desenvolvidos.  Em seu percurso, tem articulado práticas populares de cuidado, arte e educação na saúde para gerar saberes que incorporam a experiência popular. estruturando ações de transformação a partir das potencialidades dos atores envolvidos e do agir solidário. A ação solidária e cooperativa é protagonizada por esses atores e atrizes populares, especialmente a partir do cuidado e tem desencadeado movimentos de aproximação com os conteúdos temáticos de disciplinas integrantes dos cursos da área da saúde na graduação e pós-graduação, bem como com os processos de educação permanente desenvolvidos nos serviços de saúde de Fortaleza e movimentos populares, ao mesmo tempo que produziram diálogos entre as práticas integrativas e populares de cuidado, a arte e a educação na saúde. Esse processo parece aproximar-se do que Boaventura Santos (2005) nomeia como tradução intercultural: “práticas que promovem uma nova convivência activa de saberes no pressuposto que todos eles, incluindo o saber científico, se podem enriquecer nesse diálogo”. Essa dupla via pode, a nosso ver, contribuir para a busca de uma reorientação solidária da relação universidade-sociedade e da conversão da universidade em um espaço público de interconhecimento, onde os cidadãos e os grupos sociais podem dialogar sem se colocarem na posição de produtores de saberes excludentes. Parece-nos que, na experiência do Ekobé, a arte e as práticas populares de cuidado emergem como expressões singulares, criando zonas de contato para a efetivação do diálogo intercultural (Dantas, 2009) e para a construção de olhares sustentáveis para as diversas ações ali desenvolvidas. Um dos desafios apontados pelos sujeitos que protagonizam as ações  no espaço refere-se à necessidade de pensar processos comunicativos que promovam não apenas a ampliação da visibilidade do espaço, mas também  a reflexão e socialização das ideias sobre sustentabilidade, cooperação, corresponsabilização  e solidariedade que ancoram as práticas ali desenvolvidas. Neste sentido a produção do documentário Ekobé e a produção de vida: polifonias sob a ética do cuidado, objetivou constituir um espaço de visibilidade sobre a experiência desenvolvida no Espaço Ekobé ancorado no olhar dos seus atores protagonistas e, ao mesmo tempo, ousa constituir-se instrumento pedagógico de vivencias de arte e educação popular voltadas para o cuidado com a vida. Para construção dessas reflexões, lançamos mão proposta da Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa (Dantas, 2009), na linha da pesquisa-ação que incorpora as bases da educação popular e a dimensão da arte como transversal a todo o percurso. O vídeo, com duração de 10 minutos, é constituído por depoimentos dos gestores-cuidadores do espaço acerca das práticas ali desenvolvidas, alguns dos quais construídos com linguagens da arte e cultura populares como repentes, cantigas, entre outras. Estes são permeados por vivencias no espaço que visam propiciar o reconhecimento do jeito de fazer saúde acumulado tradicionalmente nas formas populares de cuidar, nomeadas como Práticas Populares de Cuidado. As cenas e imagens destas, desvelam processos de cuidado dialogados, participativos e humanizados, acolhedores da cultura e do saber popular. Identificam uma postura integradora do ser humano reconhecendo e legitimando crenças, valores, conhecimentos, desejos e necessidades das classes populares, refletindo sua leitura do mundo, referenciadas na ancestralidade e cuja principal referência é a profunda vinculação e amorosidade às pessoas, às comunidades. Entre as práticas coletivas evidenciadas no vídeo podemos referir o corredor do cuidado, vivencias cenopoéticas, banho de som que ocorrem em momentos como acolhidas de estudantes, aulas de disciplinas da universidade e de processos formativos ofertados pelo Ekobé pautadas na educação popular e PICs.  O Corredor do Cuidado é uma vivência cujo princípio é  acolher e cuidar das pessoas do modo como desejariam ser cuidadas, para que, ao entrar naquele corredor humano possam perceber a importância do carinho, da amorosidade e do respeito com o outro . As vivencias do corredor têm agregado, cuidados ancestrais, onde ele ocorre e em geral se transforma  em uma espiral para refletir sobre a relação s com o planeta e o universo. A cenopoesia, se articula com outras linguagens para ganhar diversidade e dar força ao discurso e sua capacidade de expressão. Atua como espaço de articulação e interfaces entre linguagens em seus aspectos formais e em suas especificidades para construir algo como que um campo dialógico, sinérgico e harmônico gerador de novas imagens, novos sentidos; multifacetados, mas ressignificados como linguagem única, porém aberta e viva. E aí a música e o teatro principalmente, têm trazido grandes contribuições. (LIMA, 2008). Traz a possibilidade de ampliar a comunicação, rompendo com as limitações da língua escrita e falada. Portanto, seu exercício é uma busca intensa de diálogo entre as artes, as linguagens; as pessoas, ideias e visões de mundo, na perspectiva eco-humanizadora. O exercício dessa linguagem parece revelar-se ao mesmo tempo como uma forma singular de produção artística onde dialogam diversas linguagens e na experiência do Ekobé, também como estratégia educativa em diálogo com o cuidado a partir da qual é possível refletir e problematizar a realidade, lançando mão de inumeráveis possibilidades de criação e expressão e inclusive de compor com os corredores do cuidado, as vivencias coletivas de automassagem, entre outras. No contexto do Ekobé essas práticas  se propõem também, ao serem ofertadas de forma solidária e cooperativa a promover o acesso destas aos atores do movimento popular  tendo em vista que , em geral são disponibilizadas em espaços privados e inacessíveis às classes populares.  Além das práticas coletivas, o vídeo evidencia praticas individuais como o reiki, a massoterapia e a massagem do som com as taças tibetanas que também é utilizada em um ritual coletivo chamado banho de som.  O envolvimento de estudantes, usuários do CAPS e dos serviços de APS, além pessoas das comunidades tem propiciado a ampliação do olhar sobre o cuidar que inclui autonomia, diálogo, amorosidade, confiança e cooperação, incorporando os jeitos de cuidar que cada um traz além de dimensões como a criatividade, o lúdico e a espiritualidade. Desvela ainda outros desenhos do cuidar nos quais a arte e a cultura se incluem incorporando o saber de experiência feito dos partícipes como um saber construído na dimensão do vivido. Parece-nos que os processos vividos no Ekobé possibilitaram aos cuidadores e pessoas cuidadas o aprender a aprender, pois, como disse Freire (2003, p. 88), “ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social de que tomamos parte”.  As cenas e imagens desvelam ainda as possibilidades de um modo de produzir cuidado mobilizando energias, experiências, vontades de reinventar e seguir aprendendo e experenciando possibilidades de transformação dos sujeitos em sua relação com o mundo. Nesse caso, o Ekobé constitui-se espaço polifonico, como um mundo muito singular, tendo como centralidade e princípio fundamental o cuidado, onde “cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do mundo.

Palavras-chave


CUIDADO, ARTE, POLIFONIA