Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Gestão Autônoma da Medicação: saúde mental entre voos e gaiolas
Letícia Presser Ehlers, Analice de Lima Palombini

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: O presente trabalho é parte da pesquisa Guia GAM como dispositivo de intervenção e formação em serviços de saúde mental, referida a projeto multicêntrico desenvolvido entre UNICAMP, UFF, UFRJ e UFRGS, em parceria com a Universidade de Montreal, no Quebec, Canadá. Com a participação de usuários de saúde mental de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o projeto resultou na elaboração da versão brasileira do Guia de Gestão Autônoma da Medicação (Guia GAM-BR), instrumento originalmente criado pelos serviços alternativos de saúde mental do Quebec. A Gestão Autônoma da Medicação propõe a oferta de espaços de conversa sobre a experiência do uso de psicofármacos, visando o protagonismo dos usuários de saúde mental e o compartilhamento das decisões sobre o seu tratamento com os profissionais da equipe - prescritores ou não.

Desenvolvimento do trabalho: Objetiva-se, neste momento, atentar à percepção dos profissionais de saúde e dos usuários sobre a produção do cuidado em saúde mental instituída nos serviços, durante a validação do Guia GAM-BR. Instância em que realizou-se grupos de intervenção (GI), em três CAPS da região metropolitana de Porto Alegre/RS: entrevistas com trabalhadores e profissionais em formação e grupos focais com os usuários.

Resultados: Os dados produzidos permitem observar peculiaridades nas relações de cuidado, em especial em torno ao tratamento medicamentoso. A prerrogativa de aceitação obrigatória dos usuários quanto ao uso de psicofármacos é referida como pré-requisito para sua acessibilidade, sem maiores problematizações a respeito. E, diante a decisão do usuário de interromper sua medicação, a fala dos profissionais (prescritores e não prescritores) aponta duas atitudes contraditórias: ao mesmo tempo que os profissionais referem abandono do tratamento por parte do usuário, uma vez que o acompanhamento (psiquiátrico) é interrompido e que se interrompe o tratamento (no serviço), também referem que toda a equipe se mobiliza, procurando discutir o caso e sugerindo aumento da frequência ao serviço. Na possibilidade do voo, as correntes tornam-se visíveis.

Há, contudo, diferenças na percepção das equipes quanto à responsabilidade por essa decisão: para alguns, ela é exclusivamente do usuário, em que a dimensão do cuidado depara-se com os limites da gaiola; para outros, é uma situação a ser compartilhada também com a equipe e a família do usuário. A esse respeito, a aposta é nas potencialidades, a partir do estreitamento de seus laços com sua rede de relações, construindo significantes possíveis para o seu empoderamento, territorializando seu voo.

Considerações Finais: A Gestão Autônoma da Medicação, em momento de re-existências da cultura antimanicomial, está entre voos e gaiolas. O reposicionamento das relações instituídas nos serviços de saúde torna-se possível ao valorizar a voz ativa do usuário, como sujeito de saber, que se constitui na experiência de viver a medicalização, o adoecimento, a relação com as redes de saúde e o estigma que atravessam suas relações sociais. Esta horizontalidade proporciona a coprodução de cuidado e saúde mental, entre as (in)certezas de hoje, (re)inventa-se a vida, constroem-se coletiva e singularmente outros modos de ser e estar no mundo.

 

 


Palavras-chave


Gestão Autônoma da Medicação; saúde mental; sujeito de saber;