Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Humanização na Saúde: o Sociopsicodrama como dispositivo de intervenção em grupos multidisciplinares
Marília Meneghetti Bruhn, Kim Ouakil Boscolo, Lilian Rodrigues Cruz

Última alteração: 2018-01-29

Resumo


Este relato de experiência tem como objetivo problematizar o Sociopsicodrama como dispositivo de intervervenção, o qual possibilita a intensificação de processos de subjetivação e criação coletiva entre grupos multidisciplinares da área da saúde. O percurso metodológico  para compor esse relato inclui registros do Diário de Campo - com anotações dos coordenadores dos grupos e comentários dos participantes - aproximações entre a Socionomia, de Jacob Levy Moreno, e a Esquizoanálise, de Deleuze e Guattari. Durante o ano de 2017, foram realizadas quatro edições das Oficinas de Humanização na Saúde em Porto Alegre, promovidas pelo coletivo “Grupo 3 de Nós” e divulgadas em parceria com a Liga de Psiquiatria e Saúde Mental da UFCSPA/UFRGS. Em cada edição, havia grupos com diferentes participantes voluntários compostos por trabalhadores e estudantes de diferentes áreas profissionais como psicologia, medicina, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem e administração que atuavam no sistema de saúde brasileiro. A unidade funcional, formada por uma diretora e uma ego-auxiliar, também participava da composição de cada grupo, que tinha no total de cinco a quinze participantes. A partir de ações dramáticas, os participantes dos grupos puderam entrar em contato com situações que demandavam corresponsabilização e construções coletivas que acolhem singularidades. As dramatizações foram co-construídas pelos participantes do grupo a partir de articulações entre relatos pessoais, sem que houvesse uma hierarquização de saberes. Na concepção do Sociopsicodrama, a criação coletiva é entendida como a ação conjunta da espontaneidade criadora. Sendo assim, todos os participantes são considerados pesquisadores e são corresponsáveis pelo curso não só da dramatização, mas de todo o trabalho grupal. Na primeira edição, foi escolhido o desafio de lidar com diferenças culturais e crenças religiosas entre funcionários e usuários do sistema de saúde. Na segunda, a relação entre as tecnologias duras e as tecnologias leves foram colocadas em questão - até que ponto materialidades como fotos e prontuário interferem no acolhimento e vínculo com o paciente? Na terceira, trabalhamos com um hospital que utilizava apenas recursos materiais e saberes biomédicos, desconsiderando a importância das tecnologias da relação entre colegas de trabalho, movimentos sociais, gestores e pacientes. Na quarta, o tema foi a falta de corresponsabilização do paciente nas decisões a que lhe dizem respeito. Em todas as edições também emergiram temáticas que perpassam as cenas como o racismo, a desigualdade de gênero e a hierarquização dos participantes do sistema de saúde. Ao final de cada dramatização, o compartilhamento foi o momento em que cada um expressou como estava se sentindo após vivenciar as dramatizações. Os participantes relataram que conseguiram entrar em contato com as suas emoções, sentindo-se empoderados para acolher a multiplicidade de modos de vida e encontros que atravessam os serviços de saúde. Assim, os encontros sociopsicodramáticos foram experienciados como dispositivos de questionamento de práticas instituídas e potencialização de fluxos instituintes nos quais a espontaneidade possibilita novas formas de se viver junto.

Palavras-chave


humanização na saúde; psicodrama; esquizoanálise