Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O USO DE NARRATIVAS DE PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PRECEPTORES PARA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Gleide Magali Lemos Pinheiro, Erica Vernaschi Lima, Lyra Cândida Calhau Rebouças, Karlla Christina Albuquerque Bispo

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Nas últimas décadas a formação em saúde vem se modificando com base no entendimento de que o processo de educação deve fundamentar-se em leituras da realidade, permeadas por interrogações cujas respostas podem ser interpretadas como disparadores para novas indagações. Nessa mesma direção é correto afirmar que a formação profissional em saúde, deve pautar-se na convicção de que não existe conhecimento pronto e acabado e sim, aquele que se transforma com base nas interações entre as pessoas e destas com os cenários pelos quais figuram.

O uso de Metodologias Ativas na formação superior em saúde, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação, emerge como valiosa alternativa para estimular a elaboração de processos de aprendizagem tidos como significativos que, por conseguinte, podem apresentar possibilidades de transformação das práticas profissionais, uma vez que esse processo valoriza a diversidade de situações vivenciadas no mundo do trabalho e na realidade dos educandos.

Esse relato de experiência objetiva descrever a utilização de Narrativas de Prática como estratégia de construção do conhecimento na formação de preceptores para o Sistema Único de Saúde em nível de especialização, em um curso ofertado durante nove meses, na modalidade semipresencial, com uma carga horária de 480 horas, sendo 390 presenciais e 90 em EAD, totalizando onze encontros com duração de nove meses.

Participaram da proposta, profissionais de saúde que atuam como preceptores de residência médica e de residência multiprofissional em um município do Nordeste brasileiro, totalizando 37 profissionais que atuavam na rede de Atenção Básica e na rede hospitalar, contemplando profissionais com formação em: Medicina, Psicologia, Fisioterapia, Farmácia, Odontologia, Fonoaudiologia, Educação Física e Enfermagem.

Com base em um Termo de Referência discutido com grupos de até dez educandos, eles foram convidados a produzirem, individualmente, uma Narrativa de Prática em uma lauda, na qual deveriam registrar uma situação vivenciada durante o desenvolvimento de suas atividades de preceptoria, registrando aí posturas, comportamentos e atitudes próprias e das pessoas envolvidas, sem nenhuma identificação.

A produção de Narrativa de Prática no campo da educação está relacionada à habilidade de estimular o educando a olhar reflexivamente para comportamentos individuais e coletivos das pessoas envolvidas no processo de produção do cuidado, se incluindo no processo, de forma que, a partir daí inicie uma análise crítico/reflexiva sobre tais comportamentos, já vislumbrando possibilidades de ressignificação.

Para o processamento das Narrativas de Prática, foi selecionada a Espiral Construtivista como estratégia educacional que comporta seis momentos denominados de: Identificando problemas; explicando problemas: elaborando questões; buscando novas informações; construindo novos significados e avaliando o processo.

A dinâmica se constitui numa socialização das Narrativas produzidas, seguindo o princípio de que nenhum educando leia a sua própria produção, processo esse gerenciado pelo Facilitador de Aprendizagem.

Após a leitura de todas as narrativas, os educandos são estimulados a caminharem na Espiral Construtivista, sendo que, nesse primeiro momento, o processo segue até a elaboração de questão(ões) de aprendizagem e, a partir daí, são conduzidos para o momento de busca de novas informações que serão socializadas em encontro posterior, por meio da produção de um texto reflexivo fundamentado em artigos científicos, denominado de Nova Síntese, visando a construção de novos significados.

Durante a socialização das Novas Sínteses, foi evidenciada a produção de novos significados a partir do confronto entre os saberes prévios dos educandos, experiências consideradas válidas pelos próprios e as informações contidas nas referências consultadas. Observou-se que a articulação entre esses novos saberes e a narrativa da prática levam a reflexões sobre posturas e atitudes assumidas na condição de preceptores e mobiliza interesses sobre a necessidade e importância de desenvolver competências que contribuam para um aprendizado significativo e um cuidado efetivo.

Essa estratégia educacional prevê, ao final, um momento de avaliação no qual os educandos externalizam significados da ação e sentimentos/emoções emergidos durante a mesma. Nesse momento, observou-se que os educandos demonstraram sentimentos de satisfação, de realização e valorização por realizarem uma atividade cujas reflexões tiveram origem em suas experiências cotidianas.

Para eles, discutir sobre narrativas originadas em suas realidades, contribuem para aproximações significativas com o processo de aprendizagem, considerando que há maior empenho e interesse na busca por novos significados como forma de resolver problemas e potencializar ações que resultem em melhores estratégias de preceptoria.

Referiram ainda que as questões elaboradas a partir do processamento das narrativas de práticas, permite ao educando o fortalecimento de vínculos com seus contextos profissionais, diferindo assim de outras ações educacionais.

Para eles, buscar respostas para questionamentos que emergiram de situações que tem uma forte aderência com suas realidades profissionais, sejam elas individuais e/ou coletivas, constitui-se como uma atividade desafiadora e estimulante, fato esse que fez com que se empenhassem mais na busca pelas possíveis respostas.

Diante dessas constatações, entende-se que práticas pedagógicas na perspectiva das Metodologias Ativas precisam estimular o potencial criativo dos educandos, contribuindo para a formação de profissionais melhores preparados que possam cooperar para o resgate de suas necessidades e valorize os cenários nos quais os processos de formação se materializam.

Na realidade atual de saúde, o que se observa na prática é uma formação dissociada da realidade, pautada em treinamentos para implantação/implementação de normas e protocolos que, na maioria das vezes são realizadas fora do contexto profissional e, geralmente, não estão vinculadas às necessidades de aprendizagem da demanda criando um paradoxo com a configuração do Sistema Único de Saúde que exige estratégias de formação cada vez mais próximas dos cenários de prática.

Desse modo, é possível afirmar que a dinamicidade de relações e papéis no contexto da saúde, remete à necessidade de repensar o processo de formação destes profissionais, considerando a tendência em desenvolver propostas pedagógicas baseadas nas Metodologias Ativas, estimulando reflexões sobre a realidade local.

A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde imprime a esse processo a necessidade de formação vinculada à prática profissional, cujas necessidades de aprendizagem devem emergir do contexto.

Nessa direção, as estratégias educacionais com Metodologias Ativas em pequenos grupos encontram eco na citada política, vez que estimula o desenvolvimento de competências necessárias ao profissional de saúde, tendo em vista a valorização de práticas educacionais que estimulam a capacidade de análise crítica de contextos e a problematização de saberes para desenvolvimento das competências específicas de cada trabalhador.


Palavras-chave


Educação; Formação em Saúde; Metodologias Ativas