Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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GESTÃO DA CENTRAL DE REGULAÇÃO DE URGÊNCIA DE CURITIBA-PR: DESAFIOS NA INSERÇÃO DO ENFERMEIRO PARA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
Giovana Fratin, Aida Maris Peres, Cleiton José Santana

Última alteração: 2018-01-15

Resumo


APRESENTAÇÃO

Conforme a Portaria nº 2.048 de 2002 do Ministério da Saúde, as Centrais de Regulação compõem o Complexo Regulador. Segundo essa Portaria, a competência técnica para a função de regulador é atribuição do profissional médico. Em Curitiba, este serviço passou por um período de dificuldades para manter o quadro efetivo de médicos reguladores na central de regulação de urgência, seja por aposentadorias, licenças prêmio, licenças sem vencimento, mudanças de setor dentro da Rede, e por número elevado de licenças para tratamento de saúde gerados por sobrecarga de atividades durante o exercício do plantão, conforme relatos da equipe que chegavam aos gestores. Considerando o aumento das demandas, como por exemplo, a busca de vagas para atendimentos de urgência, dentro dos protocolos implantados nas linhas de cuidado, como IAM e AVC, e o aumento no número e na distância das transferências inter-hospitalares, realizadas pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência-SAMU, como por ocasião da abertura de um hospital de grande porte (1000 leitos, sendo 400 de UTI) na Região Metropolitana do município sede. Considerando a falta de Sistematização da Assistência de Enfermagem-SAE nas instituições envolvidas, em que a demanda de busca de vagas para inserção do paciente no hospital, que necessita contato telefônico com o Núcleo Interno de Regulação-NIR aumenta o tempo do regulador ocupado na busca do serviço pela falta de informações sistematizadas nos hospitais e no NIR. Estas lacunas geram o represamento de ligações que chegam pela Central 192, em especial em horários de alta demanda. A situação gerava angustia na equipe, e desgaste para todos os envolvidos. A Grade de Referência, instrumento de trabalho essencial para o correto encaminhamento do paciente, levou muito tempo para ser implantada, dificultando ainda mais o serviço do médico regulador. O sistema operacional utilizado na época não permitia relatórios, logo não havia dados estatísticos e sem estes dados, o gerenciamento da Central de Regulação de Urgência ficava comprometido. Pela necessidade de agregar ao serviço um profissional com competências técnicas especificas da área de saúde somadas a competências gerenciais, decidiu-se por inserir o profissional enfermeiro para sistematizar a assistência. Como grande conhecedor da rede de atenção à saúde, iria viabilizar vários contatos, encurtando o tempo entre o acionamento da regulação, o despacho da viatura e o serviço para o paciente no lugar adequado no menor tempo possível. Este relato de experiência objetiva descrever o processo de inserção do enfermeiro para sistematização da assistência na Central de Regulação de Urgência de Curitiba.

 

DESENVOLVIMENTO

Ao inserir o profissional enfermeiro na Central de Regulação de Urgência para sistematização da assistência, levantamento de dados e encaminhamento dos pacientes inseridos nos protocolos de linha de cuidado, não se tinha conhecimento sobre  o volume exato de serviços que eram realizados, já que a sinalização diária das limitações e em especial das possibilidades não era monitorada ou avaliada. A escolha deste profissional foi embasada em perfil, forma de abordagem, alguém que compartilhasse com a equipe gestora da proposta de sistematização da assistência de enfermagem, organização, conhecimento da Rede e resiliência.Neste momento não havia apoio da equipe multiprofissional, que não aceitava a inclusão do profissional enfermeiro em um serviço que sempre foi restrito ao médico. Neste momento, a gestora utilizou de competências de comunicação, negociação e administração de conflitos apoiada em informações e evidências para o convencimento da equipe envolvida sobre a importância do projeto. Decidiu-se iniciar com um profissional enfermeiro, e na sequencia inserir mais profissionais. Junto com a inserção do enfermeiro, outras estratégias foram elaboradas: várias reuniões com a Secretaria de Saúde do Estado, com os municípios vizinhos, com os profissionais do complexo regulador, colhendo sugestões e criticas, transformando o assunto em pauta de várias câmaras técnicas. Não foram poucos os obstáculos, desde a rejeição inicial do serviço, a insegurança gerada e a resistência à mudança de um serviço que desde sua criação funcionava assim. Houve distócias do processo de regulação, os Técnicos Auxiliares de Regulação Médica-TARMs que confundiam a atuação do profissional, acreditavam que por ser enfermeiro seria um supervisor, são 6 equipes distintas de TARM, 10 equipes médicas, 4 equipes de rádio operadores, e para envolvê-los na novidade foi necessário empenho da equipe gestora. Um apoiador, o Núcleo de Ensino e Pesquisa-NEP  não estava atuante pela falta de equipe, logo não foi possível contar com este setor. Nesta época, com falta de profissionais na Rede, em especial de enfermeiros, o Departamento de Gestão de Trabalhadores de Saúde-DGTES pressionava para a disponibilização de maior número de profissionais para os serviços de assistência direta ao usuário do SUS. Em uma reunião gerencial ouviu-se: "não entendemos para que vocês necessitam de uma enfermeira para ficar sentada na Regulação". O poder de argumentação, a exposição da proposta e o esclarecimento sobre a sistematização da assistência de enfermagem através do TeleSaúde era essencial naquele momento, só assim haveria aliados para a proposta. Para os profissionais que aceitaram o desafio foram dias difíceis, que reforçaram a vontade de mostrar que os espaços de atuação do enfermeiro fortaleceriam o trabalho da equipe.

RESULTADOS OU IMPACTO

A partir da apresentação da primeira planilha à equipe, as barreiras fragilizaram e surgiu interesse na mudança, junto aosquestionamentos técnicos. A competência técnica e gerencial dos profissionais enfermeiros, aliada à proposta de sistematização do assistência teve impacto,  com resultados positivos. A utilização da SAE como ferramenta fez diferença para ações como lotação dos Veículos Terrestres de Resgate-VTRs do SAMU no território. O Secretário de Saúde Municipal intercedeu pessoalmente para que mais uma profissional enfermeira fizesse parte do projeto. Com a inserção do serviço de transporte do Paraná Urgência para compor o SAMU e a chegada de profissionais enfermeiros do Estado foram inseridos mais 3 enfermeiros para cobertura dos plantões noturnos, objetivando chegar na cobertura 24 horas do serviço com o Enfermeiro Regulador. No final de 2015, já existiam cinco enfermeiros na Central de Regulação da Urgência. Além dos protocolos de IAM e AVC, que deram inicio a função, outros protocolos foram implantados sobresponsabilidade do profissional enfermeiro, como o POP de Insuficiência Respiratória Infantil. A inserção da busca de vagas pelo profissional enfermeiro ocorreu por necessidade de seu trabalho no dia a dia da regulação. O enfermeiro tem capacidade para sistematizar o atendimento e não demorou para que os médicos reclamassem quando faziam plantão durante algum dia em que o profissional enfermeiro não estava na regulação. Para os envolvidos nesta experiência, a construção realizada a várias mãos visa a melhoria do atendimento aos usuários e fortalece o SUS. Vários desafios estão presentes, como a necessidade de ajustes em portarias e apoio dos conselhos de classe, mas a evolução do serviço com a participação do enfermeiro já iniciou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, os envolvidos inicialmente nesta proposta seguem sua jornada pelo SUS em vários cenários, prontos para outros projetos que transformem utopias em parte do cotidiano. Os profissionais que permaneceram não se lembram mais como era antes da mudança. Inovações no processo de trabalho, o fortalecimento da Sistematização de Enfermagem em novas áreas de atuação e as competências dos profissionais enfermeiros que se somaram às competências da equipe fizeram desta experiência um sucesso, e por esta razão compartilhá-la.


Palavras-chave


Gestão em saúde, SAMU, Enfermeiro Regulador