Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Uso de modalidades comunicativas sobre saúde, sexualidade e HIV/Aids, entre adolescentes do Ensino Médio da Rede Estadual do Rio Janeiro.
Adriana Kelly Santos, Iaralyz Fernandes Farias

Última alteração: 2017-12-20

Resumo


APRESENTAÇÃO

Segundo o Ministério da Saúde há um aumento de casos de Aids entre os jovens do sexo masculino, no período de 2006 a 2015, com idades de 15 a 19 anos e 20 a 24 anos. Consideramos os esforços empreendidos na prevenção da doença, contudo, é necessário criar alternativas de comunicação que mobilizem o envolvimento dos adolescentes. Este trabalho tem o objetivo de descrever o uso de diferentes modalidades comunicativas na elaboração compartilhada de um jogo de imagens sobre sexualidade, saúde e HIV/Aids por adolescentes do ensino médio da rede estadual de uma escola do Município do Rio de Janeiro.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

A pesquisa foi realizada entre os anos de 2015 a 2016, em um colégio estadual situado no centro da cidade do Rio de Janeiro, sendo selecionada pelo fato de oferecer ensino médio de Formação de Professores para séries iniciais e por desenvolver projetos na temática sexualidade e prevenção do  HIV/Aids. A seleção dos participantes foi por conveniência, considerando o interesse e disponibilidadedos alunos para participar da pesquisa. Adotamos a perspectiva socioantropológica na realização da observação direta no colégio e no desenvolvimento de oficinas sobre sexualidade, saúde e Aids.

Na etapa da observação foram mapeadas as relações presentes na escola e levantadas as informações sobre a história e o funcionamento desta (horários, currículo, projetos pedagógicos, atividades culturais, entre outros). Foram mapeadas as práticas comunicativas sobre sexualidade, saúde e aids existentes no cotidiano escolar.

A etapa das oficinas consistiu no desenvolvimento de atividades com os adolescentes que aconteceram em dois momentos: o primeiro entre novembro e dezembro de 2015, com 02 encontros com uma turma do 1°ano e duas turmas do 2° anos, contando com a presença de 24, 29 e 31 pessoas, respectivamente, totalizando 84 alunos; o segundo, com 09 encontros, realizados entre os meses de setembro a dezembro de 2016, contando com a participação de 30 alunos de uma das turmas do 2º ano. Os encontros foram estruturados por eixos temáticos: o que é ser adolescente; sexualidade; HIV/Aids, sendo identificada as percepções e as representações dos adolescentes sobre as inter-relações entre sexualidade e Aids. A partir dos debates foram elencados os temas que orientaram a busca e a seleção das imagens das cartas do jogo.

As atividades foram registradas no caderno de campo, identificando a data, o assunto discutido, as relações teóricas estabelecidas, bem como fala dos adolescentes. A análise dos dados consistiu na leitura de todo material buscando apreender as idéias centrais, identificar os temas recorrentes e classificar as unidades temáticas. As falas dos adolescentes foram indicadas na seção dos resultados pela sigla A:1, A:2, sucessivamente.

RESULTADOS

A escola surgiu no período de criação das Escolas Normais de nível médio, na década de 1960. Nos corredores do colégio observa-se sua história, um destes quadros explicitam os valores da escola: “Ética humanista, autodisciplina, solidariedade, respeito aos limites necessários à boa convivência social, compromisso com uma educação pública, gratuita e de qualidade, respeito à diversidade cultural”. Estes valores são reiterados nas conversações entre os profissionais e pelos alunos é “a nossa segunda casa”.

A partir da análise do projeto político-pedagógico identificamos que no currículo mínimo a temática da sexualidade e da Aids é abordada na disciplina de biologia a partir do 2º ano, focalizando: sexualidade e sexo; reprodução; genética, diversidade e sexo biológico e vida sustentável. Do ponto de vista da comunicação observou-se diversas fotos, cartazes, faixas fixados nos murais e nas paredes, além de pinturas e grafites nos muros da escola que abordam a temática da sexualidade e também da prevenção da Aids. O ambiente escolar é considerado pelos alunos como principal espaço para o diálogo sobre sexo e questões relativas à sexualidade, como nos diz uma adolescente - “Aqui na escola, a gente conversa sobre sexo em qualquer oportunidade” (A-1, 15 anos).

Na roda de conversa com uma psicanalista foi lido o texto “Cartas de Adolescente” que narrava conversa entre dois adolescentes que trocam confidencias,aventuras amorosas, os dramas familiares, a morte de um amigo e a gravidez de uma amiga que admiravam. A escuta dessa narrativa produziu a reflexão sobre as experiências vivenciadas no cotidiano escolar e em suas relações pessoais. Para os alunos a adolescência é uma fase da vida que se difere das demais, representa uma fase de descobertas, de independência, responsabilidade nas escolhas apesar de, muitas vezes, se sentirem tratados como crianças.

Nas dinâmicas do Semáforo e do Baú de Memórias exploramos o quê do ponto de vista dos adolescentes constituí o seu universo de referência. Conversamos sobre seus gostos, sendo comum a predileção por jogos eletrônicos, uso de celular, praia, atividades esportivas, artes (cinema, música, teatro, foto, dança), desenho japonês, assistir a TV Senado, novela coreana, ler, horóscopo, comer (alimentos saudáveis, chocolate, bolo) e dormir. Para os meninos a música (rock), futebol, jogos eletrônicos e programas políticos sobressaem. Para as meninas a maquiagem, praia, perfume e cinema estão em primeiro lugar.

A partir da análise dos materiais educativos os alunos discutiram que há uma tendência a infantilizar os adolescentes, tanto nas imagens como no texto. Destacaram como positivo a representação LGBTT, pois hoje as relações são mais iguais e por isso não cabe a reprodução das hierarquias de gênero. Também discutiram que o uso da camisinha é a melhor forma de prevenção às DST e para evitar a gravidez. Contudo, indicaram que tal informação precisa ser reforçada, pois na prática  esse ainda é um desafio. Para os alunos o preservativo atrapalha o envolvimento com o parceiro(a), relataram que a camisinha feminina é desconfortável. Por outro lado, disseram que a confiança no parceiro é um elemento central para usar ou não o preservativo.

O mapa conceitual dinâmico sobre sexualidade propiciou a identificação da visão de cada um dos alunos sobre os sentidos da sexualidade. Para os adolescentes, a compreensão da sexualidade aparece associada a  relação sexual e ao mesmo tempo está relacionada ao envolvimento emocional, a vontade e ao desejo. As temáticas da virgindade, orientação sexual, gravidez, infecção pelo vírus HIV e Aids foram indicadas nos três níveis de dificuldade. As palavras que foram mais recorrentes nessa construção foram: mulheres; homens; sexo; gênero; prazer; amor; prazer; órgão; prevenção; gravidez. A infecção pelo HIV esteve presente em alguns dos mapas, ligado exclusivamente ao ato sexual, o que revela uma maior preocupação quanto a esta via de infecção em detrimento das outras, como a vertical e compartilhamento de seringas. O que também foi discutido na roda de conversa com a enfermeira que é especialista no atendimento de jovens e crianças com HIV. No decorrer do encontro os adolescentes tiveram curiosidade sobre a terminologia “soropositivo para o HIV”; o significado de carga viral (CD4e CD8) e a dinâmica de tratamento medicamentoso com os antiretrovirais (ARVs), bem como seus efeitos colaterais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa-intervenção permitiu no debate sobre as inter-relações entre sexualidade e Aids o protagonismo de professores e alunos, mobilizou a diversidade de histórias de vida, cuidamos da confiança e dos afetos produzidos em nossa convivência. A pluralidade de visões de mundo e crenças foi valorizada no processo de construção compartilhada do jogo de imagens sobre o tema.


Palavras-chave


adolescência; sexualidade; saúde; HIV/Aids; comunicação